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Only Lovers Left Alive & Cheesecake de Morango

Que te dizer? Que te amo, que te esperarei um dia na rodoviária, num aeroporto, que te acredito, que consegues mexer dentro-dentro de mim? É tão pouco. Não te preocupa. O que acontece é sempre natural – se a gente tiver que se encontrar, aqui ou na China, a gente se encontra. Penso em você principalmente como minha possibilidade de paz – a única que pintou até agora, “nesta minha vida de retinas fatigadas”. E te espero. E te curto todos os dias. E te gosto. Muito.”, Caio Fernando Abreu

Acho que prefiro me lembrar de uma vida desperdiçada com coisas frágeis, do que uma vida gasta evitando a dívida moral. E me perguntei a que me referia com coisas frágeis. Parecia um belo título para um livro de contos. Afinal, existem tantas coisas frágeis. Pessoas se despedaçam tão facilmente, sonhos e corações também, Neil Gaiman

Jim Jarmush, diretor de Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive, Reino Unido-Alemanha, 2013) parece ter lido Caio Fernando Abreu e Neil Gaiman. E ter escrito o roteiro de seu filme preso num conto escrito nos anos 1980 ou numa história em quadrinhos repleta de referências à literatura gótica, poesia romântica e às canções tristes. A sua história lembra os personagens urbanos e noturnos varados de amor e solidão destes dois escritores. Reflete também uma era da música e uma visão existencialista do mundo. Os amores são doídos nesse filme.

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Demais até, para que se tolere a rotina de viver sob o mesmo teto todos os dias, enquanto se morre lentamente. E ainda incorrem no segundo pecado de serem personificados nos pálidos e longilíneos corpos de Tilda Swinton e Tom Hiddleston. Adequados em sua magnífica estranheza à sedutora mitologia dos vampiros − metáfora recorrente da inutilidade das paixões nessa frágil vida.

Only lovers left alive. Portanto, compreende-se desde o início que trata-se de uma história de escolhas e perdas. O filme é sombrio como a poesia de Poe. Romântico como os versos Byron e perturbadoramente sensato, como a ficção de Mary Shelley – todos citados em algum momento da trama. E conta a história de dois vampiros contemporâneos. A luminosa Eve e o obscuro Adam. Um músico trancafiado num prédio repleto de quinquilharias em Detroit. Uma andarilha das vielas rochosas do Tanger. Ele, introspectivo, triste. Ela, luminosa, abrasiva. Ele com seus discos. Ela com sua cama de livros. Encontram conforto em sua vida eterna um no outro, numa época em que viver resulta difícil também para os vampiros.

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Os amantes amargam a doçura dos momentos partilhados num planeta que eles aprendem a enxergar como zumbi. Descrentes de uma humanidade que se arrasta aos poucos para a perda de qualquer apreço pela beleza das coisas vivas. Um mundo onde os grandes e eternos feitos são absolutamente inúteis, a ciência é menosprezada, os gênios desconhecidos, e a inteligência, uma engenhoca sobrevalorizada. Logo descobrimos que ser vampiro é provavelmente o destino de todos os desvalidos e sensíveis, de Basquiat a Patti Smith, de Shakespeare (ou seria o seu Ghost Writer?) a Oscar Wilde.

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Buscam a solução para a sua eternidade. De que serve ser eterno num planeta doente? Esta deve ser a pergunta que move muitas das formas de arte. O filme intercala o sentimento vertiginoso de perda de referência com a descoberta de um “para sempre” instigante apenas pelos pequenos prazeres: a necessidade de ouvir boa música, tocar objetos que possuem história, praticar bondade involuntária ou dançar à meia luz, ao som de um disco muito antigo. Afinal, o que fazer da vida quando já se viu tudo? Quando nossos heróis estão extintos? Quando o ceticismo nos impede de qualquer alumbramento? O que fazer da vida senão amar, amar e amar? Como um vício? Um cálice de sangue fresco para dilatar qualquer sensação de autoindulgência ou vazio…

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Longe de ser um terror ou um suspense convencional, Amantes Eternos fala de vampiros que sobrevivem pela conexão mais elementar, acessível também aos seres comuns. Nutrindo-se do prazer da companhia, que aquece como o sangue, em doses comedidas e habituais. Amantes de amor antigo, aquele que confunde pernas e braços de seus corpos entrelaçados como enguias lunares – em lindas cenas de contraste claro-escuro que lembram o expressionismo alemão, outra referência do filme. São complementares, por isso plausíveis. Por alguma razão, Adam & Eve encontram sentido nesse mundo que apodrece, na ciência oculta dos seres da noite e na droga mais potente e vulgar: o amor.

Trailer:

O filme de hoje vai acompanhar uma receita de cheesecake. Por que o recheio pálido e branquinho lembram a pele dos vampiros que não podem pegar sol e a cobertura de morango é como o alimento deles. Vermelha como sangue. cheesecake-morango-cec

Cheescake de Morango

Tempo Prep: 60 min
Tempo Coz: 30 min
Rendimento: 2 mini-cheesecakes

Ingredientes

  • 1 xícara de farinha de amêndoa
  • 2 colheres de sopa de manteiga
  • 150 g de creamcheese
  • 150 g de creme de leite fresco
  • 2 ovos
  • Adoçante culinário ( ou 1/2 xíc. de açucar)
  • 2 colheres de sopa de extrato de baunilha
  • 250 g de morangos picados
  • 2 colheres de sopa de água

Modo de Fazer

  1. Comece pela cobertura. Use morangos bem maduros e vermelhinhos, assim já os terás doces e não necessitará usar qualquer tipo de adoçante que não seja o natural da fruta. Pique os morangos e leve ao fogo baixo em uma panela, juntamente com a água, até que ele comece a se desfazer e faça uma espécie de geleia. Para essa quantidade de morangos, leva em média uns 20 minutos. Para a base, você vai simplesmente misturar a farinha de amêndoa a manteiga e colocar metade dela em cada ramequim, forrando bem o fundo e pressionando com uma colher ou mesmo com a ponta dos dedos. Para o recheio bata os ovos, adicione os demais ingredientes e bata por mais alguns minutos. Ligue o forno a 180º, deixe aquecer por uns 10 minutos. Coloque o recheio em cima da massa base e leve ao forno por 20 minutos. Deixe esfriar, coloque a cobertura e sirva gelado.

Informação Adicional

Essa receita de cheesecake é livre de glúten e açúcar. Ideal para quem é intolerante a tais coisas. Se quiser fazer um médio – de uns 20 cm de diâmetro – triplique a receita.

Formada em jornalismo, por isso hoje em dia dá aula de Comunicação. É feminista há mais tempo do que é professora e hoje já não escreve mais para jornais. Escreve para a vida, pra se entender e descortinar o mundo. Cinema, livros, música, chocolate e a presença de gatos são seus alimentos contumazes, mas é a poesia o que a mantém em pé. Ainda que, muitas vezes, seja num pé só. Ou sem tocar o chão.

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