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    Tampopo & Lámen

    Hoje tem participação ilustre e especial no blog, minha amiga Daiany Dantas, que fazia comigo o antigo blog “Quarto 2046″…E não é que ela fez uma introdução linda contando um pouco de como ficamos amigas?

    “As pessoas mais duras (ia usar empedernidas, mas imagina, nem tenho 124 anos) são meio avessas ao que elas chamam de “amizades virtuais”, imaginam logo uma rede de intrigas, sequestros, chantagem, todo um filme noir dos anos 50. Na verdade, uma amizade virtual é uma conquista posta à prova todos os dias, pela sinceridade, presença (ainda que não seja a física), constância e lealdade das partes envolvidas. Como qualquer outra amizade. A única diferença é que há um computador no meio de campo, mediando tudo. Pois bem, desde 2005 eu e a Sara demos algum trabalho aos nossos computadores. Foram muitas e muitas conversas, jantares, idéias e vinhos divididos entre uma teclada e outra. Se a presença é feita de afeto e de verdade, posso garantir que ela é uma das amigas mais presentes em minha vida. E, com o perdão do trocadilho barato, um verdadeiro presente. Com quem posso contar em dia de chuva, sol, tempestade ou tsunami. Ela está sempre ali, dando força. Durante algum tempo, mantive, junto com a Sara, o blog Quarto 2046, quer dizer, ‘mantive’ é pretensão minha mesmo. Pois no final das contas era bem mais ela quem tocava o barco e não deixava a peteca cair. A idéia surgiu de nossos inúmeros diálogos (insensatos) sobre filmes que víamos e nos apaixonavam perdidamente. Discutíamos desde as questões mais sérias, como direção, narrativa, fotografia, etc, às mais destrambelhadas, sobrando sempre algum espaço para exaltar a beleza dos incríveis atores asiáticos que tanto amamos. E, creiam-me, discutir filmes com a Sara é um prazer à parte. Uma atividade amplamente auto-reflexiva, na qual tomamos parte da história e nos deixamos revelar pelo enredo. Terapia perde. O texto a seguir foi publicado originalmente em nosso antigo blog. Como fã do Cozinha em Cena, agradeço pelo convite super fofo e generoso. Super contente por estar presente neste espaço tão bonito, saboroso e bem cuidado, como tudo o que essa moça faz.”

    Pra comer fazendo barulhinho…

    Apelidado de Lámen western pelo seu diretor – numa época em que a versão italiana para os westerns americanos (o spaghetti western) lotava cinemas – Tampopo é uma divertida história sobre a importância social da comida no Japão, revelando o quanto da honra, amor, luxúria e verdade podem estar contidos numa porção de comida. Um filme sobre comida à altura de grandes como “Festa de Babette” e “Como água para chocolate“, que merece ser visto por cinéfilos e gourmets. Sobretudo por trazer à tona as idiossincrasias da mesa japonesa. Nunca fui grande espectadora dos Westerns, mas acho que Tampopo tangencia o gênero, sobretudo na figura de Goro (Tsumotu Yamazaki, o ‘melancolicamente saboroso’ chefe de “A partida“), um cowboy nipônico do asfalto, que cruza cidades pequenas em seu caminhão, em companhia de seu escudeiro (um jovem e irreconhecível Ken Watanabe), vestindo um ostensivo e raro chapéu de vaqueiro americano.
    É num desses bares da vida que Goro se solidariza com o drama da Sra. Tampopo (Nobuku Myiamoto) – que quer dizer ‘dente de leão’ -, uma mãe solteira que prepara sopas de noodles (o já assimilado em nossa dieta miojão – macarrão japonês) para criar o único filho – um garotinho vítima de bullying, adivinhem por quê? Não deve ser fácil ser filho de mãe solteira no Japão. Menos ainda ser uma mulher que toca o próprio negócio. Encantado pela cozinheira – muito mais por sua simpatia e charme que pelos dotes culinários, que não ganham os elogios do gourmet Goro – o caminhoneiro embrenha-se numa missão de vida: ajudar Tampopo a preparar o melhor Lámen da região. Uma jornada que ganha o curso de todo o filme e revela-se bem mais difícil que parece, ela precisa visitar as pequenas e grandes casas de Lámen, encobrir-se, descobrir os segredos do preparo e no atendimento, saber o ponto certo da água, memorizar o pedido de cada freguês, o tempero adequado e a dose exata de cada ingrediente, e se dedica a isso com uma devoção oriental – como era de se esperar.
    Encantado pela cozinheira – muito mais por sua simpatia e charme que pelos dotes culinários, que não ganham os elogios do gourmet Goro – o caminhoneiro embrenha-se numa missão de vida: ajudar Tampopo a preparar o melhor Lámen da região. Uma jornada que ganha o curso de todo o filme e revela-se bem mais difícil que parece, ela precisa visitar as pequenas e grandes casas de Lámen, encobrir-se, descobrir os segredos do preparo e no atendimento, saber o ponto certo da água, memorizar o pedido de cada freguês, o tempero adequado e a dose exata de cada ingrediente, e se dedica a isso com uma devoção oriental – como era de se esperar. É divertido ver Goro amealhando ajudantes para apoiar Tampopo em sua batalha pelo Lámen perfeito – experts inusitados em Lámen, como o chofer de um velho chefão Yakuza e um professor aposentado. O filme traz um humor bem peculiar, o Lámen western não usa dos artifícios das tortas na cara, em vez disso, questiona relações sociais estabelecidas em sociedades de tradições rígidas como o Japão. Há espaço para o debate de questões de gênero e a lógica oriental da subserviência entre discípulo e aprendiz. Também deixa claro que a comida é algo central na vida dos japoneses e japonesas – algo tão valioso como um membro da família ou um parceiro de cama, pelo qual vale a pena correr riscos, matar ou morrer… Outra coisa que me agradou bastante em Tampopo foi a montagem non sequitur*. O diretor conduz perfeitamente a história central em meio a esquetes curtos e tão ricos em ironia. Como a da velhinha que sente prazer em amassar a comida do mercado ou as participações pra lá de sensuais do misterioso homem do terno branco (Koshi Yakusho, de Shall we dance, jovem e muito gato). Um filme pra sorver sem pejo, fazendo barulhinho, e assistir, de preferência, com um bom prato de lámen nas mãos.

    (Daiany Dantas)

    *Non sequitur (expressão latina para “não se segue”) é uma falácia lógica que acontece quando uma conclusão não segue as suas premissas.

    Lámen de Legumes

    Prep Time: 15 mins
    Cook Time: 30 mins
    Yields: 18

    O que você vai precisar?

    • 250 g de macarrão para lámen
    • 200 g de shimeji
    • 1 folha de nori (em pequenos quadrados)
    • 100 g de brócolis
    • Cebolinha em rodelas
    • 1/2 cebola picada
    • 1 dente de alho
    • 1/2 talo de alho-poró em rodelinhas
    • 4 gotas Óleo de gergelim
    • Manteiga
    • Óleo de girassol
    • Shoyu a gosto
    • 1/2 cubo de caldo de legumes
    • 1 ovo cozido
    • 2 xic. de água (para o caldo)
    • 1 litro de água (para cozinhar o macarrão)

    Como fazer?

    1. Coloque 1 litro de água para aquecer.
    2. Refogue a cebola e o alho no óleo de girassol. Junte a água, o caldo de legumes, nori, brócolis, shoyu, óleo de gergelim e a água. Deixe ferver por uns 10-15 minutos, até que o brócolis esteja cozido (não pode ficar molenga).
    3. Em uma frigideira coloque a manteiga e o shimeji, refogue por alguns minutos, reserve. Ali mesmo coloque o alho-poró para refogar.
    4. Agora que a água já deve estar fervendo, cozinhe o macarrão conforme instrução da embalagem. O que usei leva apenas 1 minuto para ficar pronto. Escorra o macarrão.
    5. Em um bowl coloque o macarrão, junte o caldo de legumes, arrume os legumes em cima, o ovo partido ao meio e por fim coloque as cebolinha em rodelas. Pronto, agora é só comer.
  • Drama,  Salgados

    Kiseki (O que eu mais desejo) & Batayaki

    Quando se trata de um filme de Hirokazu Kore-eda pare tudo que está fazendo e sente para assistir. Ele é um diretor peculiar, que trata do cotidiano. O passar da vida com um olhar simples e cativante. Não espere um filme com grandes surpresas e finais épicos. Kore-eda segue a linha do mestre Ozu, que filmava sempre os simples acontecimentos que passamos. É como olhar nosso dia-a-dia e ver nele os pequenos detalhes que às vezes passam despercebidos e é exatamente neles que está a essência do viver.
    O filme fala sobre dois irmãos (fato curioso que os atores – Ohshiro e Koki Maeda – também são irmãos na vida real, o que transborda em nós um amor maior ainda pelo filme) que estão vivendo em locais distantes devido a separação dos pais.

    Nós somos irmãos. Somos unidos por um fio invisível.
    (Ryu)

    O irmão mais velho, Koichi, mora com a mãe, que foi para casa dos pais. O mais novo, Ryu, vive com o pai, guitarrista de uma banda, no outro extremo da ilha. Do lado onde está Koichi um vulcão está a soltar cinzas e o pequeno menino se incomoda um pouco com isso, mas se coloca a limpar, pois não há mais nada a ser feito. Como uma metáfora com a vida, lidamos com o que nos é oferecido. No outro extremo da ilha há sempre sol e é lá que vive Ryu. Um garoto que nos cativa desde o início do filme, sorridente, brincalhão, de bem com a vida, ao contrário de seu irmão, que se mostra um garoto mais fechado e pensativo perante a problemática da vida da família.
    O grande sonho de Koichi é que os pais voltem a morar juntos e a família se reconstrua novamente. Há toda uma inocência por trás disso, por isso, acho tão incríveis filmes que mostram a vida através do olhar das crianças. De um lado temos um irmão mais velho, que pode parecer mais experiente e amargurado, mas que ainda tem dentro dele a esperança e a ilusão de que a família, anteriormente devastada, volte a ser uma união feliz. Por outro lado, o irmão mais novo que parece estar sempre ‘voando’ e não pensando muito em todas as coisas, é quem cultiva um jardim, cuida do pai, lida com a vida de uma forma mais light, porém, ele tem uma visão mais realista da relação dos pais: as brigas voltariam, caso eles viessem a morar juntos novamente.
    O reencontro dos dois é uma das coisas mais bonitas do filme. Aquela amizade sincera e bonita, a cumplicidade e o amadurecimento que a distância faz com que a gente tenha. Em uma passagem eles estão comendo salgadinhos e um diz para o outro: `Pode comer as migalhas’ e o outro responde que eles sempre brigavam pelas migalhas. Fiquei pensando que muitas vezes quando estamos juntos de alguém sempre brigamos por coisas bobas, que se perdem totalmente quando se tem apenas alguns momentos para ficar junto de quem se gosta.
    E o filme se desenvolve em cima de um ideal de Koichi em viajar até onde dois trens-bala se cruzam. Reza a lenda que se fizermos um pedido durante esse momento, ele se realizará. Então ele se junta com amigos, cada um com seu desejo pessoal, convida o irmão, que também vai com seus amigos, para essa viagem em busca da realização do sonho de cada um.
    E você, o que gritaria quando os trens se cruzassem? Eu já sei o que pediria =).
    O que vai acompanhar o filme hoje é uma receita de Batayaki (que nada mais é que “cozido na manteiga” em japonês). Vamos ver como faz?

    Shimeji & Shitake Batayaki

    Prep Time: 15 mins
    Cook Time: 15 mins
    Yields: 2

    O que você vai precisar?

    • 100 g de shimeji
    • 100 g de shitake
    • 100 g de brócolis
    • 50 g de manteiga
    • 2 colheres (sopa) de Saquê Culinário
    • 1/4 xíc. de Shoyu

    Como fazer?

    1. Tire os cabinhos dos shitakes e corte em fatias grossas. Separe o shimeji em ‘pétalas’. Coloque a manteiga para derreter em uma panela e em seguida adicione o shitake. Deixe refogar por uns 3 minutinhos e coloque o shimeji.
    2. Adicione o saquê. Deixe refogar mais alguns minutinhos. Em uma panela a parte, dê uma leve cozinhada no brócolis (apenas para dar ‘um susto’, pois ele deve ficar al dente). Podes também usar a tática de levar uns 2 minutos no microondas dentro de um saquinho fechado (não precisa adicionar água). Junte o brócolis aos cogumelos e em seguida despeje o shoyu. Misture bem para que tudo fique incorporado e sirva em seguida.
  • Drama,  Salgados

    “Away from Her” & Risoto ao curry

    Esse filme de 2006 é dirigido pela sensacional Sarah Polley, é seu primeiro projeto com o diretora. Antes disso, já a conhecíamos pelas excelentes atuações em filmes como “Minha vida sem mim” e a “A vida secreta das palavras”, ambos de uma das minhas diretoras favoritas: Isabel Coixet.

    O filme fala sobre um casal que está junto há 45 anos: Grant (Gordon Pinsent) e Fiona (Julie Christie). Mas não se trata de um casamento morno, sem graça, já desgastado pelo tempo. É aquele tipo de relação que todo mundo imagina para o resto da vida: eles continuam rindo juntos, dançando no meio da sala, conversando muito e se amando como se fosse no começo.

    Ela perguntou:
    “Acha que seria divertido se nos casássemos?”
    E o que você disse?
    Eu aceitei.
    Eu nunca quis estar longe dela
    Ela tinha a faísca da vida.

    Fiona está com Alzheimer e com o passar do tempo a doença vai se agravando, o que leva ela a pedir que Grant a deixe viver em um “asilo” que cuida de pessoas doentes. Ele, mesmo contrariado, aceita o pedido da mulher.
    Até que ponto é possível fazer com que o amor sobreviva, mesmo vendo que a pessoa está se esvaindo por conta de uma doença que simplesmente faz com que ela esqueça de tudo e se afaste totalmente do outro? É aí que mora a poesia do filme, da vida. O amor sem o apego. É possível?

    film

    A receita que acompanha o post hoje é um Risoto ao curry com tomates uva e manjericão. Por que o curry é uma mistura de mais de 20 condimentos e ervas, o que faz dele um tempero completo e de sabor muito original. Assim como o amor, por mais que não se perceba, é um conjunto de coisas que faz você amar alguém.

    risoto_curry

    Risoto ao Curry

    Prep Time: 60 mins
    Cook Time: 30 mins
    Serve: 2

    Ingredientes

    • 1 xíc. chá de arroz arbóreo ou carnaroli
    • 100 gr. de tomates uva partidos ao meio
    • Folhas de manjericão fresco
    • 1 cebola pequena picada
    • 2 dentes de alho amassados
    • 1 colher de sopa de manteiga
    • Azeite de oliva
    • Queijo parmesão ralado
    • 1/2 xíc. de vinho branco
    • 1 litro de caldo de legumes
    • 2 colheres de café de curry
    • Sal a gosto

    Modo de Preparo

    1. Leve as cebolas para refogar no azeite até que fiquem transparentes. Junte o alho, deixe fritar um pouco. Adicione o arroz e mexa para que ele se incorpore na mistura. Adicione o vinho e mexa até que ele evapore. Aos poucos vá colocando o caldo e mexendo sempre. Coloque sempre uma concha por vez e misture até que o líquido comece a secar.
    2. Quando estiver prestes a colocar a última concha de caldo (isso deve levar em média 15 a 20 minutos), adicione os tomates uva e o curry. Por fim, com o fogo já desligado, adicione a manteiga, mexa bem. Coloque as folhas de manjericão e misture. Sirva imediatamente com queijo parmesão ralado. 😉
  • Drama,  Salgados

    Hiroshima mon amour & Petits soufflés de couve-flor

    Poderia dizer que a minha paixão pela cultura oriental começou quando li pela primeira vez, sentada na grama da Faculdade, o livro “O amante” de Marguerite Duras. Eu já tinha uma pré-disposição a amar os orientais, desde pequena, porém, depois de ser levada pelas palavras e o envolvimento contado no livro entre uma francesa e um chines eu logo me vi encantada. Foi então que, na mesma época, eu tive o prazer de assistir pela primeira vez a “Hiroshima mon amour” (roteiro adaptado de um livro de Marguerite Duras) – agora mudava um pouco…era um japonês envolvido com uma francesa. Tudo me diz que tem muito da vida de Marguerite ali. Cada detalhe, cada sensação e sentimento. É tão real.

    Como com ele, o esquecimento começará por seus olhos.
    Igual.
    Depois, como com ele, sua voz será esquecida.
    Depois, como com ele….ele abrangerá você inteiro…pouco a pouco.
    Você se tornará uma canção.
    Quem é ela?
    Uma francesa.

    hiroshima-cozinha

    Uma atriz em visita a Hiroshima a trabalho. Um arquiteto japonês que está sem a família na cidade. Apenas dois dias. Um amor que jamais será esquecido. O filme trata com tanta presteza a memória. As coisas que se quer esquecer e acha que se esqueceu, mas que voltam com tanta facilidade quando se toca nelas.
    Acho interessantíssimo o modo como o filme se desenvolve, um grande “bafo” para a época que foi filmado. Fiquei pensando e analisando aqueles dois no bar e aquela mulher linda e francesa bebendo cerveja como quem precisa daquilo para poder desabafar. Não tinha limites, não haviam esconderijos para aquela conversa e aquela cumplicidade que se formava ali. É tão duro ter que esquecer.

    É tão difícil falar do passado, mas ao mesmo tempo, é incrível como com algumas pessoas isso acontece sem nenhum planejamento, é espontâneo. E era assim que acontecia entre aqueles dois.

    Também interessante e chocante, são as cenas iniciais, onde o diretor mostra imagens das catástrofes causadas pela maldita bomba atômica que por lá destruiu tantas vidas, deformou tantas pessoas, acabou com tantos sonhos. Além de ser um grito revoltado contra o acontecido, ele retrata a verdade das relações humanas no seu mais profundo modo.

    hiroshima-mon-amour-cozinha

    – Você inventou tudo.
    – Nada.
    – Assim como essa ilusão existe no amor…a ilusão de poder nunca esquecer…
    – Eu tive, diante de Hiroshima… a ilusão de jamais esquecer, como no amor.
    – Eu vi também os sobreviventes e os que estavam no ventre
    das mulheres de Hiroshima.
    – Eu vi a paciência, a inocência, a doçura aparente com que os
    sobreviventes provisórios de Hiroshima
    se adaptavam a um destino tão injusto…

    A memória…que lembra tanto as coisas de Kar-wai. Não consigo deixar de assimilar obras da Nouvelle Vague francesa ao cinema de Kar-wai. Godard, Resnais… Fica aqui a dica, para quem não viu e para quem viu há muito tempo, como eu, vale a pena assistir novamente com outros olhos, talvez mais maduros e amaciados pelas memórias e a passagem do tempo.

    Em homenagem ao diretor francês querido Resnais e a insuperável Marguerite Duras, hoje a receita tem toda uma coisa francesa.

    Petits soufflés de couve-flor

    Prep Time: 60 min
    Serve: 2

    O que você vai precisar?

    • 400 g de Couve-flor
    • 150 g de queijo mussarela ralada
    • 4 ovos
    • 2 colheres de sopa de manteiga amolecida
    • 4 colheres de sopa de leite
    • 1 pitada de noz-moscada
    • 1 pitada de sal
    • Pimenta do reino a gosto

    Como fazer?

    1. Separe as claras das gemas e bata as claras em neve com a pitada de sal. Cozinhe a couve-flor no vapor. Pique bem picadinha ou passe no processador. Junte à couve-flor as gemas, a manteiga, o queijo, noz moscada, pimenta do reino e o leite. Misture bem. Incorpore as claras em neve nessa mistura. Coloque em pequenos ramequins ou cocottes – dependendo do tamanho rende 4 ou 6. Forno pré-aquecido a 180º por 25 minutos. Na prateleira do meio dele, de preferência.
  • Drama,  Salgados

    Io Sono l’amore & Quiche de Brócolis

    Esse não é um filme fácil de falar. Depois de muitas trocas de idéias com minha querida amiga Dai Dantas, consegui expor um pouco de tudo o que a gente acaba sentindo quando assiste a ele.
    “Eu sou o amor” – pensem nesse título. O que vem a cabeça?

    Dirigido por Luca Guadagnino, o filme se passa em Milão e o plano de fundo é uma família da alta burguesia italiana. O avô que comanda o negócio da família e está se aposentando, anuncia isso em um jantar, onde nomeia o filho e o neto como novos dirigentes da empresa.

    A excepcional Tilda Swinton é a esposa correta, elegante, que criou com amor os três filhos, que junto com a governanta fiel mantém sob controle toda a casa e, por conseqüência, a família toda. Me apeguei muito a essa personagem vivida por Tilda, pois ela demonstra não só uma força incrível como também uma fragilidade iminente. Descobre na filha uma liberdade que ela não soube se dar. Acho bonita demais a relação de respeito entre as duas. Uma amizade entre mãe e filha com muito amor e sinceridade. É chegado o dia que, por acaso, ela encontra um cd que a filha daria ao irmão contando sobre seu novo amor: uma outra mulher. É nítido nesse momento, no semblante da personagem, que não há um estranhamento, mas sim, uma compreensão. Arrisco-me até a dizer que uma admiração pela coragem da filha.

    io-sono-lamore-dinner

    Então temos o irmão, Edoardo. O primogênito da família, o garoto certinho que resolve abrir um restaurante com o novo amigo ‘chef’. Tem uma namorada, uma vida estável e um certo ‘controle’ sobre o pai do amigo que acha que o filho é um sonhador e Edoardo centrado consegue convencer o pai dele que eles abram o restaurante.

    Temos uma fotografia incrível nas cenas da casa a duas horas de Milão, onde seria montado o restaurante e onde o chef cultiva suas próprias ervas e produtos para cozinhar. Tipo um sonho de consumo de qualquer pessoa que ame uma vida FORA do horror das grandes cidades (leia-se: eu).
    Eu pensei muito antes de revelar essa parte do filme, pois é uma coisa que seria ‘uma surpresa’, mas depois de repensar, vi que tem muitas outras coisas que são tão surpreendentes quanto isso: o amigo chef e a mãe de Edoardo se apaixonam perdidamente.

    io-sono-lamore-2

    Uma mulher mais velha, um jovem chef, uma família toda por trás. Como proceder? Simplesmente vive-se. Tenho toda uma teoria sobre isso. Ela há alguns dias tinha visto a filha largar o namorado, cortar o cabelo curto e ir viver o amor por outra mulher sem nenhum medo do que ‘diria’ a sociedade, nem família, nem ninguém. É engraçado como no filme demonstra que o amor realmente acontece por acaso. As pessoas podem estar comprometidas com outras, ou sós, não tem como medir. Nem programar. Quando vê já está envolvido na relação. E como fazer para sair? E se não quer sair? Complexo.

    O mais interessante nesse envolvimento dos dois é o fato de que com ele ela não precisava de máscaras. Não precisava mais ser ‘’a russa que já é uma italiana’’ – ela podia ser ela. Podia cozinhar com ele, comer a sopa que lembrava a infância dela. Ela podia deitar na grama, andar sem roupa, rir e abraçar. Ela se sentia livre com ele. Porém, as conseqüências dessas escolhas podem nem sempre serem fáceis, mas tem-se que escolher. Não há como viver uma vida dupla pra sempre. Pois isso não é viver.

    Quiche de Brócolis

    Prep Time: 15 mins
    Cook Time: 30 mins
    Yields: 18

    O que você vai precisar?

    • 250 gr. de farinha de trigo
    • 100 gr. de manteiga sem sal
    • 1 colher de café de sal
    • 4 a 5 colheres de sopa de água gelada
    • 1 maço de brócolis cozido no vapor (al dente)
    • 1 cebola picada
    • 2 dentes de alho amassados
    • 2 colheres de shoyu
    • Azeite
    • Sal a gosto
    • Pimenta do reino moída na hora a gosto
    • 150 gr. de queijo (da sua preferência) picado em quadradinhos (usei um queijo colonial que é bem parecido com muçarela
    • 03 ovos
    • 01 lata de creme de leite
    • Pimenta do reino a gosto
    • Sal a gosto

    Como fazer?

    1. Massa: Corte a manteiga em cubos e junte ela a farinha e o sal. Vá misturando até que se forme uma farofa – em seguida coloque a água e vá juntando até que se forme uma bola – não é pra sovar a massa, apenas ir juntando. Coloque a massa na geladeira enquanto faz o recheio.
    2. Recheio: Refogue a cebola no azeite, acrescente o alho, deixe dourar. Junte os brócolis e deixe por mais uns 2 minutos. Adicione o shoyu, o sal e a pimenta do reino moída. Reserve.
    3. Creme: Bata os ovos vigorosamente, junte o creme de leite, tempere com o sal e pimenta.
    4. Montagem: Vá abrindo a massa encaixando ela na forma. Essa massa é bem maleável para fazer isso com as próprias mãos – acho mais prático do que abrir com o rolo. Leve ao forno pré-aquecido por uns 10 minutinhos. Cubra o fundo da massa com o os brócolis e adicione os cubos de queijo. Em seguida despeje o creme de ovos por cima. Forno por uns 30-40 minutos. Quando estiver corada e firme está pronta.
  • Drama,  Salgados

    Last Night & Risoto de alho-poró da Pri

    A minha querida amiga Morganna me recomendou esse filme durante um papo onde falávamos sobre “Closer” – como temos gostos muito parecidos corri para assistí-lo.
    No filme temos Joanna (Keira Knightley), casada com Michael. Eles formam aquele casal bem cosmopolita, jovem, inteligente e dinâmico. Um belo dia eles vão a uma confraternização do trabalho dele e ela nota que há um certo ‘ar de envolvimento’ entre o marido e uma colega dele, vivida por Eva Mendes.

    No dia seguinte ele sai para uma viagem a trabalho (com toda a equipe – inclusive a colega-suspeita). Na mesma manhã Joanna encontra um ex-namorado por acaso ao sair de um café. Porém, não era aquele ex-namorado que a gente não dá bola, que dá graças a deus por não encontrar mais e quando encontra pensa: “Ai, que saco!”. Era aquele ex-namorado de coisas que não foram resolvidas, de sentimentos que ficaram e com quem ainda existe uma cumplicidade absurda.

    last_night01

    Com toda essa desconfiança de traição que Joanna estava em mente por parte do marido (mas não só por isso) ela aceita sair para jantar com o ex-namorado (interpretado por nada menos que o francês Guillaume Canet). A identificação deles é tão bonita que sabe quando você torce para que ela se separe, fique com ele e o filme acabe? Enquanto isso, o marido está em viagem sendo assediado seriamente por Eva Mendes. A coisa é complicada. E quem disse que a vida seria fácil?

    Assistam e tirem suas próprias conclusões. Na minha cabeça ficou a velha máxima: a maioria das mulheres traem por amor e os homens por atração física.
    A receita de hoje vai ser do blog da minha querida Priscila Darre – o Culinarístico pois, outro dia eu resolvi fazer uma janta especial e fiquei pensando nesse filme – a luz que tinha na mesa me fez relembrar algumas cenas.

    risoto_alho_poro

    Risoto de alho-poró da Pri

    Prep Time: 15 mins
    Cook Time: 30 mins
    Yields: 18

    O que você vai precisar?

    • 1½ xícaras de chá de arroz tipo arbório
    • 2 litros de caldo de legumes
    • 1/2 xícara(s) de chá de vinho seco
    • 1 cebola média bem picada
    • 1 alho-poró grande fatiado como preferir
    • 2 colheres de chá de manteiga (para refogar o alho)
    • 1 colher de sopa bem cheia de manteiga
    • 1 xícara de chá de queijo parmesão ralado
    • 1 limão médio (suco)
    • 2 colheres de sopa de azeite extra virgem

    Como fazer?

    1. Aqueça o caldo. Em uma panela coloque o azeite e refogue a cebola até ficar transparente. Em seguida acrescente o arroz e deixe ele fritar por alguns minutos. Coloque o vinho e espere evaporar. Vá adicionando o caldo aos poucos sem parar de mexer. Enquanto isso em uma outra panela refogue o alho-poró na manteiga – reserve. Após uns 18 minutos, o arroz estará cozido. Adicione o alho-poró e o suco do limão. Desligue o fogo, junte a manteiga e o parmesão ralado. Sirva em seguida.
  • Comédia,  Drama,  Salgados

    Lars and the real girl & Quiche de alho-poró

    “Lars and the Real Girl” (aqui no Brasil encontra-se como “A garota ideal”) é classificado como uma comédia, coisa que discordo.
    O filme fala sobre a vida de Lars (vivido pelo nada mais tudonavidadeumapessoa que Ryan Gosling – que além de tudo mostra mais uma vez que baita ator que ele é), um cara pacato, tímido e completamente introvertido. Lars mora na garagem da casa de seu irmão e cunhada.

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    Lars é um cara que leva uma vida ‘normal’, trabalha, vai a Igreja, mas não deixa que ninguém se aproxime muito dele. Em um belo dia ele chega à casa do irmão e diz que está com ‘visitas’ em casa e quer apresentar para eles. Os dois ficam super felizes, pois acreditam que ele está conseguindo se libertar da clausura que esteve até hoje.
    Então são surpreendidos pela notícia que Lars conheceu Bianca, uma missionária que anda numa cadeira de rodas, na internet. “Tudo normal, hoje em dia conhecemos muita gente assim” – fato é que quando ele a traz para o jantar todos se deparam com uma boneca de silicone, em tamanho natural que Lars comprou em um site, porém, ele trata como se ela fosse um ser humano.

    Agora é que o filme realmente começa, pois o irmão e a cunhada entram no jogo dele, por aconselhamento da psicóloga, e começa-se a ver que Bianca nada mais é que uma forma que Lars tem para tentar se aproximar do mundo.
    Em uma cena peculiar, a melhor amiga de Lars, uma senhora da Igreja, coloca uma cesta de flores no colo de Bianca e ele diz para ele: “Viu que lindas, meu amor, são de plástico, elas jamais morrerão.”. Lars tem medo da perda. De amar, de se aproximar de alguém real, de se soltar, de sentir, porque já perdeu algumas pessoas e não superou isso.
    Um filme interessantíssimo que vai muito além de uma boneca de silicone e um homem tímido. Realmente tocante. Vejam e depois me contem.
    Resolvi associar esse filme a Quiche de alho-poró, pois eu acho que Ryan Gosling soa para todo mundo tão suave e aromático como um alho-poró.

    QUICHE_ALHOPOROa-garota-ideal-3

    Quiche de alho-poró

    Tempo de Preparo: 60 min
    Tempo de Forno: 40 min
    Serve: 4 porções

    O que você vai precisar?

    • 2 xícaras de farinha de trigo
    • 1 xícara de manteiga sem sal
    • 4 colheres de sopa de água gelada
    • 1 colher de cafezinho de sal
    • 2 talos de alho-poró cortados em fatias finas
    • 1 cebola pequena picada (tem gente q não coloca cebolas, fica ao seu gosto – eu amo cebolas)
    • 3 ovos
    • 01 lata de creme de leite
    • Noz moscada ralada
    • Pimenta do reino e sal a gosto

    Como fazer?

    1. Corte a manteiga em cubos e junte ela a farinha e o sal. Vá misturando até que se forme uma farofa – em seguida coloque a água e vá juntando até que se forme uma bola – não é pra sovar a massa, apenas ir juntando. Coloque a massa na geladeira enquanto faz o recheio.
    2. Refogue a cebola em azeite em uma panela, em seguida junte o alho-poró – coisa de 5 minutos, já está OK. Reserve e deixe esfriar. Enquanto isso bata os ovos vigorosamente, junte o creme de leite, tempere com o sal, pimenta e a noz moscada
    3. Agora vamos montar a quiche.
    4. Vá abrindo a massa encaixando ela na forma. Essa massa é bem maleável para fazer isso com as próprias mãos – acho mais prático do que abrir com o rolo. Leve ao forno pré-aquecido por uns 10 minutinhos. Cubra o fundo da massa com o refogado do alho-poró + cebolas. Em seguida despeje o creme de ovos por cima. Eu acrescentei alguns cubos de mussarela (umas 100 gr) antes de colocar o creme. Fica ao seu critério, mas confesso que o queijo combina muito bem com o alho-poró. Forno por uns 30-40 minutos. Quando estiver corada e firme está pronta. Acompanha bem uma salada verde com tomates cereja.