Tampopo & Lámen

Hoje tem participação ilustre e especial no blog, minha amiga Daiany Dantas, que fazia comigo o antigo blog “Quarto 2046″…E não é que ela fez uma introdução linda contando um pouco de como ficamos amigas?

“As pessoas mais duras (ia usar empedernidas, mas imagina, nem tenho 124 anos) são meio avessas ao que elas chamam de “amizades virtuais”, imaginam logo uma rede de intrigas, sequestros, chantagem, todo um filme noir dos anos 50. Na verdade, uma amizade virtual é uma conquista posta à prova todos os dias, pela sinceridade, presença (ainda que não seja a física), constância e lealdade das partes envolvidas. Como qualquer outra amizade. A única diferença é que há um computador no meio de campo, mediando tudo. Pois bem, desde 2005 eu e a Sara demos algum trabalho aos nossos computadores. Foram muitas e muitas conversas, jantares, idéias e vinhos divididos entre uma teclada e outra. Se a presença é feita de afeto e de verdade, posso garantir que ela é uma das amigas mais presentes em minha vida. E, com o perdão do trocadilho barato, um verdadeiro presente. Com quem posso contar em dia de chuva, sol, tempestade ou tsunami. Ela está sempre ali, dando força. Durante algum tempo, mantive, junto com a Sara, o blog Quarto 2046, quer dizer, ‘mantive’ é pretensão minha mesmo. Pois no final das contas era bem mais ela quem tocava o barco e não deixava a peteca cair. A idéia surgiu de nossos inúmeros diálogos (insensatos) sobre filmes que víamos e nos apaixonavam perdidamente. Discutíamos desde as questões mais sérias, como direção, narrativa, fotografia, etc, às mais destrambelhadas, sobrando sempre algum espaço para exaltar a beleza dos incríveis atores asiáticos que tanto amamos. E, creiam-me, discutir filmes com a Sara é um prazer à parte. Uma atividade amplamente auto-reflexiva, na qual tomamos parte da história e nos deixamos revelar pelo enredo. Terapia perde. O texto a seguir foi publicado originalmente em nosso antigo blog. Como fã do Cozinha em Cena, agradeço pelo convite super fofo e generoso. Super contente por estar presente neste espaço tão bonito, saboroso e bem cuidado, como tudo o que essa moça faz.”

Pra comer fazendo barulhinho…

Apelidado de Lámen western pelo seu diretor – numa época em que a versão italiana para os westerns americanos (o spaghetti western) lotava cinemas – Tampopo é uma divertida história sobre a importância social da comida no Japão, revelando o quanto da honra, amor, luxúria e verdade podem estar contidos numa porção de comida. Um filme sobre comida à altura de grandes como “Festa de Babette” e “Como água para chocolate“, que merece ser visto por cinéfilos e gourmets. Sobretudo por trazer à tona as idiossincrasias da mesa japonesa. Nunca fui grande espectadora dos Westerns, mas acho que Tampopo tangencia o gênero, sobretudo na figura de Goro (Tsumotu Yamazaki, o ‘melancolicamente saboroso’ chefe de “A partida“), um cowboy nipônico do asfalto, que cruza cidades pequenas em seu caminhão, em companhia de seu escudeiro (um jovem e irreconhecível Ken Watanabe), vestindo um ostensivo e raro chapéu de vaqueiro americano.
É num desses bares da vida que Goro se solidariza com o drama da Sra. Tampopo (Nobuku Myiamoto) – que quer dizer ‘dente de leão’ -, uma mãe solteira que prepara sopas de noodles (o já assimilado em nossa dieta miojão – macarrão japonês) para criar o único filho – um garotinho vítima de bullying, adivinhem por quê? Não deve ser fácil ser filho de mãe solteira no Japão. Menos ainda ser uma mulher que toca o próprio negócio. Encantado pela cozinheira – muito mais por sua simpatia e charme que pelos dotes culinários, que não ganham os elogios do gourmet Goro – o caminhoneiro embrenha-se numa missão de vida: ajudar Tampopo a preparar o melhor Lámen da região. Uma jornada que ganha o curso de todo o filme e revela-se bem mais difícil que parece, ela precisa visitar as pequenas e grandes casas de Lámen, encobrir-se, descobrir os segredos do preparo e no atendimento, saber o ponto certo da água, memorizar o pedido de cada freguês, o tempero adequado e a dose exata de cada ingrediente, e se dedica a isso com uma devoção oriental – como era de se esperar.
Encantado pela cozinheira – muito mais por sua simpatia e charme que pelos dotes culinários, que não ganham os elogios do gourmet Goro – o caminhoneiro embrenha-se numa missão de vida: ajudar Tampopo a preparar o melhor Lámen da região. Uma jornada que ganha o curso de todo o filme e revela-se bem mais difícil que parece, ela precisa visitar as pequenas e grandes casas de Lámen, encobrir-se, descobrir os segredos do preparo e no atendimento, saber o ponto certo da água, memorizar o pedido de cada freguês, o tempero adequado e a dose exata de cada ingrediente, e se dedica a isso com uma devoção oriental – como era de se esperar. É divertido ver Goro amealhando ajudantes para apoiar Tampopo em sua batalha pelo Lámen perfeito – experts inusitados em Lámen, como o chofer de um velho chefão Yakuza e um professor aposentado. O filme traz um humor bem peculiar, o Lámen western não usa dos artifícios das tortas na cara, em vez disso, questiona relações sociais estabelecidas em sociedades de tradições rígidas como o Japão. Há espaço para o debate de questões de gênero e a lógica oriental da subserviência entre discípulo e aprendiz. Também deixa claro que a comida é algo central na vida dos japoneses e japonesas – algo tão valioso como um membro da família ou um parceiro de cama, pelo qual vale a pena correr riscos, matar ou morrer… Outra coisa que me agradou bastante em Tampopo foi a montagem non sequitur*. O diretor conduz perfeitamente a história central em meio a esquetes curtos e tão ricos em ironia. Como a da velhinha que sente prazer em amassar a comida do mercado ou as participações pra lá de sensuais do misterioso homem do terno branco (Koshi Yakusho, de Shall we dance, jovem e muito gato). Um filme pra sorver sem pejo, fazendo barulhinho, e assistir, de preferência, com um bom prato de lámen nas mãos.

(Daiany Dantas)

*Non sequitur (expressão latina para “não se segue”) é uma falácia lógica que acontece quando uma conclusão não segue as suas premissas.

Lámen de Legumes

Prep Time: 15 mins
Cook Time: 30 mins
Yields: 18

O que você vai precisar?

  • 250 g de macarrão para lámen
  • 200 g de shimeji
  • 1 folha de nori (em pequenos quadrados)
  • 100 g de brócolis
  • Cebolinha em rodelas
  • 1/2 cebola picada
  • 1 dente de alho
  • 1/2 talo de alho-poró em rodelinhas
  • 4 gotas Óleo de gergelim
  • Manteiga
  • Óleo de girassol
  • Shoyu a gosto
  • 1/2 cubo de caldo de legumes
  • 1 ovo cozido
  • 2 xic. de água (para o caldo)
  • 1 litro de água (para cozinhar o macarrão)

Como fazer?

  1. Coloque 1 litro de água para aquecer.
  2. Refogue a cebola e o alho no óleo de girassol. Junte a água, o caldo de legumes, nori, brócolis, shoyu, óleo de gergelim e a água. Deixe ferver por uns 10-15 minutos, até que o brócolis esteja cozido (não pode ficar molenga).
  3. Em uma frigideira coloque a manteiga e o shimeji, refogue por alguns minutos, reserve. Ali mesmo coloque o alho-poró para refogar.
  4. Agora que a água já deve estar fervendo, cozinhe o macarrão conforme instrução da embalagem. O que usei leva apenas 1 minuto para ficar pronto. Escorra o macarrão.
  5. Em um bowl coloque o macarrão, junte o caldo de legumes, arrume os legumes em cima, o ovo partido ao meio e por fim coloque as cebolinha em rodelas. Pronto, agora é só comer.
Sobre o autor

Sara

A dona da cozinha.

2 Comentários

  1. Você faz o lamen parecer facinho de fazer! Quero tentar (a foto ficou bela!). Beijotes, amiga.

  2. Eu lembro desse filme 😀 Minha infância sendo revivida.

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