• Drama,  Salgados

    Tal Pai, Tal Filho & Gyoza de Legumes

    Existem alguns diretores que eu tenho um apego muito forte, um deles é Hirokazu Kore-eda, o qual chamo carinhosamente de “Koreedinha”. Quando esse japonês lança algum filme eu já fico ansiosa no level HARD para assistí-lo. Kore-eda consegue filmar mostrando o dia-a-dia de uma forma poética, as vezes dura, mas sempre muito bela e especial. Ele é um olhar supremo do cinema japonês, na minha humilde opinião. Já falamos de “O que eu mais desejo” dele, aqui no blog. Inclusive, preciso rever a filmografia toda dele e cozinhar para poder fazer posts pra vocês.

    Tal pai, tal filho trata de um assunto bem polêmico: o que faríamos se descobríssemos que o filho que você cria há mais de 5 anos não é seu filho e foi trocado na maternidade?

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    Temos como foco principal o workaholic e arquiteto Ryota. Ele é pai de Keyta, o menino que tem tudo para ser um super sucesso na vida. Tudo é planejado minuciosamente para que o menino tenha a melhor educação possível. Muita rigidez aplicada em uma rotina cansativa para uma pequena criança. O pai quer que o menino cresça já tendo muita ambição e alcance o ápice logo cedo. A família vive bem de grana, com muito conforto em um apartamento agradável. A esposa submissa, que tudo a Ryota reporta, demonstra a dominação do mesmo perante seus familiares.

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    Kore-eda vai nos levando pela mão, contando o outro lado sutilmente: a outra família que teve o filho trocado, vive em um subúrbio, numa casa simples, com mais irmão, tendo uma vida bem mais livre (e um tanto quanto mais divertida). A diferença entre os dois clãs é muito muito clara.

    A partir do momento que sabem sobre a troca dos filhos, as duas famílias começam a se questionar o que será o certo a se fazer. As respostas de alguns porquês são respondidas pela vida. Deve-se mesmo acreditar tão e somente em laços de sangue, por ter a sociedade imposto que isso é o mais forte que se pode ter?

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    O diretor japonês nos faz viajar junto com essas famílias, em uma mescla de dores e descobertas, onde os próprios pais começam a se indagar sobre suas infâncias, passado e o futuro. Como em outros filmes, Kore-eda nos faz questionar a nossa existência, nos fazendo pensar sobre o modo como agimos e o que teremos como consequência disso.

    É um drama bonito e arrebatador, com um final excepcionalmente lindo! Assistam e depois me contem o que acharam.

    Trailer:

    Hoje trarei junto com o filme uma comidinha bem conhecida na culinária asiática: Gyoza! Dessa vez fiz de brócolis com shimeji.

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    Gyoza de Legumes

    Tempo Prep: 60 mins
    Tempo Coz: 30 mins
    Rende: 12 peças

    Ingredientes

    • 1 xícara de farinha de trigo
    • 1/2 xícara de água fervendo
    • 1 colheres de chá de azeite
    • 1 pitada de sal
    • 150 g de shimeji picado
    • 150 g de brocolis picados
    • 50g de nirá (cebolinha japonesa) picado
    • 4 colheres de sopa de shoyu
    • 1 colher de sopa de óleo de gergelim torrado
    • 1 colher de sopa de caldo de gengibre ralado
    • 1 dente de alho ralado 1 colher de azeite
    • 1 colher de azeite
    • Óleo e água quente para a fritura/finalização

    Modo de Preparo

    1. Comece preparando a massa, coloque a farinha, o sal e o azeite em um recipiente e em seguida vá colocando a água fervendo. Mexa com uma garfo para não queimar as mãos, até que esfrie um pouco e possa sovar. Sove bem por alguns minutos até obter uma massa bem lisinha e uniforme. Deixe descansar por 1 hora.
    2. Enquanto isso vamos fazendo o recheio: refogue o alho no azeite, adicione o shimeji e o brócolis picados. Tempere com o shoyu, o oleo de gergelim e acrescente o gengibre ralado. Refogue bem, até ficar tudo macio e reserve, deixando esfriar antes de rechear os pasteizinhos.
    3. Abra a massa em uma superfície enfarinhada, até que tenha uns 2 mm de espessura. Com a ajuda de um cortador redondo (usei um copo) vá cortando os círculos. Coloque um pouco de recheio no centro de cada círculo e vá fechando fazendo pequenas pregas.
    4. Aqueça uma frigideira com duas colheres de sopa de óleo e doure a base dos gyozas. Em seguida regue com água quente até cobrir 1/3 do pastel e tampe imediatamente, deixando até que seque toda a água.
    5. Arrume os pastéis no prato, colocando a base voltada para cima Muito amor envolvido <3 Sirva ainda quente acompanhado de shoyu.

    Como podem notar tive uma ajudante no processo:

    Aqui tem um post bem legal da Marisa Ono para aprender a fechar os gyozas.
  • Doces,  Drama,  Filmes

    A Partida & Arroz Doce Com Cerejas

    A insustentável leveza das partidas

    A Partida (Okuribito, 2008) é o filme japonês a receber um Oscar em 2009. E o texto começa a partir desta informação não por que os prêmios da academia sejam parâmetro de qualidade no universo das pessoas que fazem este blog – ela compartimenta o mundo inteiro (fora dos EUA) na categoria de cinema estrangeiro e os vencedores costumam ser filmes realizados em países de maioria caucasiana, fatos que, por si, são um atestado de etnocentrismo. Mas, sim, foi a premiação que me fez tomar conhecimento dele.

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    Como participava de um bolão, assisti à cerimônia pela TV e fiquei surpresa ao ver o azarão japonês desbancar a favoritíssima animação israelense Waltz with Bashir – uma bela esquivada americana, não premiando um filme com implicações políticas evidentes. Contradições à parte, Okuribito é um filme que merece ser reconhecido e certamente será apreciado por grandes plateias pois tem todos os elementos que fazem um bom melodrama. Uma bela canção incidental, que por vezes dá “voz” ao sentimento do personagem central, atores sensíveis e expressivos e uma direção que prima pelo intimismo.

    A câmera se coloca como o olho do observador, numa perspectiva que nos faz sentir comodamente sentados naquele canto da sala em que podemos conhecer o entorno das personagens e a intimidade de suas casas. Assistimo onde e o quê comem, os detalhes da porcelana sobre a mesa, onde dormem e se banham, os objetos em sua escrivaninha, os vasos de plantas estrategicamente espalhados, o lugar em que assistem TV e, principalmente, suas ante-salas, fechadas para os rituais restritos aos pequenos círculos de amigos e familiares.

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    Para falar da estranheza da morte numa cultura que a repele, o diretor Yojiro Takita ritualiza a preparação dos mortos para os funerais, nos ensinando a lógica das partidas.

    O filme aborda algumas questões que parecem ser recorrentes no cinema japonês: a valorização do trabalho, a família e a devoção pelo cotidiano. Sua grande qualidade é fazer com que estes três eixos da existência conversem e cheguem a uma conclusão, tendo a morte como cenário. Ao final, percebemos que a fatalidade da vida é trivial como qualquer outra coisa dentro desta.

    E isto acontece quando acompanhamos a trajetória do nosso herói: Daigo Kobayashi. Um rapaz que trocou a cidade pequena pelas grandes possibilidades de Tóquio para realizar o sonho de seus pais: ser um músico notável. Um destino traçado quando, ao três anos, ele ganha do pai um violoncelo.

    Quando, finalmente, se torna violoncelista da orquestra de Tóquio, já em sua primeira apresentação, recebe a infeliz notícia de que, sem patrocínio, a orquestra estava desfeita. Vendo o sonho de uma vida desmanchar diante dos seus olhos, ele percebe, com certo alívio, que talvez ser músico não fosse uma escolha sua.

    Decide recomeçar e propõe a sua esposa Mika (Ryoko Hirosue), uma jovem web designer esfuziante o tempo inteiro, que tentem a vida em sua cidade de origem, onde poderiam morar na casa que sua mãe havia lhes deixado como herança. Com espírito otimista e assumindo a postura cuidadora que a cabe às mulheres nos momentos de adversidade, a moça consente, e segue os rumos do marido.

    E é lá onde ele se depara com a inusual e constrangedora oferta de trabalhar como assistente numa empresa funerária. Emprego que aceita cabisbaixo, também para cumprir sua tarefa de prover o sustento de sua pequena família (sim, estamos falando do Japão, onde a honra do homem é estreitamente associada ao seu papel como provedor e ao desempenho no mundo do trabalho).

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    E o filme nos faz refletir sobre esse “valor” ao nos mostrar uma tarefa depreciada por quase todas as pessoas da trama ser executada com tanta beleza e reverência. A preparação dos cadáveres, com a leveza e o detalhe próprios da cultura japonesa, é uma arte zen, similar aos arranjos florais ou à pintura em aquarela, o que torna mais digno o ato da despedida.

    Daigo faz de seu novo emprego e dessa nova relação com a morte um reencontro com sua própria história. Para isto, no entanto, precisa revirar as caixas tormentosas do passado e realizar as suas próprias despedidas. Junto com ele, aprendemos sobre a importância das coisas simples dessas nossas vidas breves.

    Okuribito é filme para enternecer. Conta com bela fotografia, cenografia bem cuidada e excelentes atores – inclusive os coadjuvantes. E tudo isso ao som de violoncelo.

    Drops:

    :: A idéia original do filme partiu do ator Masahito Motoki, após ler um livro sobre a cerimônia do Noukan (acondicionamento dos mortos).
    :: O título original “Okuribito” significa “enviar pessoas” (no site do imdb:”the sending [away/off] people”) , mas essa palavra não é comumente usada no Japão.
    :: Motoki fez laboratório, atendendo a cerimônias funerárias e também estudou violoncelo.
    :: O filme foi rodado em dez anos.
    :: O diretor estava muito receoso quanto à recepção do filme, já que a morte é um grande tabu no Japão.
    (Esse post foi escrito e publicado originalmente em nosso extinto blog “Quarto 2046” em Maio de 2009.)

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    Arroz Doce Com Cerejas

    Tempo Prep: 60 min
    Tempo Coz: 30 min
    Serve : 4

    Ingredients

    • 1 xíc. de arroz
    • 2 xíc. de água
    • 2 xíc. de leite
    • 6 colheres de sopa de açúcar
    • Raspas de 1 fava de baunilha (depois que tirei as raspas também coloquei a fava para ferver junto – dá um gostinho a mais delicioso!)
    • 1 canela em pau
    • 300 g de cereja fresca
    • 2 colheres de sopa de açúcar
    • 1 colher de sopa de vinagre balsâmico
    • 1 colher de sobremesa de conhaque

    Modo de Preparo

    1. Comece com a calda levando as cerejas em uma panela com o açúcar ao fogo médio. Vá mexendo de vez em quando, até que elas fiquem macias e forme uma calda escura. Isso leva cerca de 5 a 8 minutos. Em seguida coloque o vinagre balsâmico e o conhaque. Deixe por mais um minuto no fogo e desligue. Depois que esfriar, leve a geladeira.
    2. Para fazer o arroz, você deve lavá-lo apenas uma vez. Em seguida coloque para cozinhar em duas xícaras de água. Deixe que cozinhe completamente, em fogo médio, dando uma mexida de vez em quando. Assim que a água secar, adicione o leite, o açúcar, a baunilha, a canela e a fava. Mexa de vez em quando até que tenhas o arroz bem cremoso. É hora de desligar. Deixe esfriar.
    3. Coloque em taças e adicione a calda de cerejas por cima.

    Dica

    Pode ser servido frio ou morninho, com a calda gelada por cima fica uma delícia!
  • Drama,  Salgados

    Sonata de Tokyo & Linguado com requeijão

    Tive o prazer de vislumbrar há algum tempo o filme “Sonata de Tokyo”. Foi com grande emoção que passei o filme todo achando tudo muito triste e simbólico e, ao mesmo tempo, tão real na nossas vidas.

    O filme relata a vida de um pai de família que perde o emprego que tinha há anos e vai para as filas enfrentar a vida, já em idade avançada, mostrando assim o problema social passado pelo Japão com relação ao desemprego.

    O que mais impressiona na película é a maneira como é mostrada o modo totalmente patriarcal e, muitas vezes até rude, de ser a família japonesa.

    O pai não conta a família sobre o desemprego e passa os dias em filas de agências e comendo em centros comunitários. Enquanto isso, quando chega em casa, mantém aquela postura de “dono da família” e mandatário de todos os problemas familiares.

    Uma cena muito peculiar foi quando ao sentarem para o jantar, todos aguardam ele tomar a cerveja e só depois disso que podem começar a se alimentar.

    Outro fato impressionante, é como a vida econômica pode abalar o ser humano, como no exemplo mostrado, onde um homem mata toda a sua família e comete suicídio, depois de ter cansado de procurar emprego e não conseguir.

    Sonata de Tokyo mostra também a grande dificuldade dos pais se relacionarem com os filhos. Um deles queria servir ao mundo e foi para o exército, o outro apenas queria tocar piano. Nada disso é apoiado pelo pai, somente pela mãe.

    Trailer:

    Linguado com requeijão

    Tempo Prep : 15 mins
    Tempo Coz: 30 mins
    Serve: 1

    Ingredientes

    • 1 filé de linguado
    • Suco de meio limão
    • Pimenta do reino a gosto
    • 1 pitada de sal
    • 1 pitada de cominho
    • 1 pitada de gengibre em pó
    • 1 pitada de canela em pó
    • 2 colheres de farinha de trigo
    • 2 colheres de manteiga
    • 1 dente de alho esmagado
    • 1/2 cebola picada
    • 4 champignons fatiados
    • 2 colheres de requeijão
    • 2 colheres de leite

    Mode de Preparo

    1. Tempere o linguado com o suco de limão, sal, pimenta do reino, cominho, gengibre e a canela. Deixa tomar gosto por mais ou menos 1 hora na geladeira. (aconselho envolver em um filme plástico ou em um saquinho bem fechado para que não fique cheiro de peixe na sua geladeira )
    2. Quando passar esse tempo, pegue o filé e passe levemente na farinha de trigo. Bata cuidadosamente para tirar o excesso.
    3. Em uma frigideira leve uma colher de manteiga para derreter. Quando estiver aquecida deite o filé e deixe que doure de um lado e do outro. Acomode no prato que irá servir e reserve.
    4. Adicione mais uma colher de manteiga a frigideira, coloque a cebola e o alho para refogarem. Quando estiverem douradinhos acrescente os champinons fatiados.
    5. Adicione uma pitada de sal. Junte o requeijão e o leite. Mexa levemente até que se forme um creme bonito. Coloque o filé no prato e regue com o molho de requeijão.
    6. Sirva com arroz branco. Simples, né? Bom apetite =)
  • Drama,  Salgados

    Sad Vacation & Espaguete de Salmão

    Sad Vacation é um filme intenso. Inicialmente conta um pedaço da história de outro filme do mesmo diretor chamado “Helpless”. O filme anterior conta a história de Yasuo Matsumura (um ex-gangster da Yakuza), sua irmã Yuri e Kenji. Yasuo ficou preso por 5 anos após ter assassinado 6 pessoas e estavam com ele Yuri e Kenji. Ambos sumiram depois do massacre e dez anos depois disso começa Sad Vacation.

    Kenji, vivivo por Tadanobu Asano (considerado um dos melhores atores japoneses da atualidade), cuidou durante todos esses anos de Yuri e adotou um menino órfão chinês. Existe muito amor e cuidado dele para com essas pessoas, ao longo do filme vai se entendendo o porque disso. Kenji foi abandonado pela mãe quando era pequeno. Ele volta a encontrá-la no meio do filme.
    Nesse retorno da mãe a sua vida, temos diálogos doloridos, cenas de ciúmes dos outros filhos e a demonstração de tentar sempre ”manter as aparências” que a mãe dele tem.

    Kenji tem sempre trabalhos alternativos. São cenas engraçadas e peculiares. As pessoas acham que a gente não pode rir em um filme japonês, mas já perdi as contas de quantas vezes isso já aconteceu.
    Numa dessas malucas jornadas de trabalho ele conhece uma mulher. Temos aí uma das cenas mais belas do filme – mostra que o amor surge de repente e que ele espera. Ele sempre espera quando é verdadeiro. Indescritível a sensação de conforto que ele tem quando volta para os braços dela. Ela se transforma no porto-seguro dele que teve uma vida tão devastada emocionalmente.

    Não posso dizer que esse filme é feito apenas de coisas fáceis de encarar. Temos cenas duras e conversas fortes. Porém, como diria nosso amigo Schopenhauer:

    Devemos rir ainda que estejamos em um período difícil. Pois a alegria é uma exceção heroica e sempre desejável em nossa existência.

    Pegou?

    Sad Vacation me surpreendeu, me emocionou e me deixou pensando em muitas coisas. Vale muito a pena ver, sem falar na trilha sonora que é uma delícia…

    Trailer:

    Essa receita é jogo rápido, se você está cansado, com preguiça ou sem tempo, esse prato é daqueles que ficam prontos em coisa de meia hora, no maior estilo Jamie Oliver 30 minutes meals! Como eu não tinha penne fui de espaguete mesmo e ficou excelente!
    Eu reduzi a receita para uma porção para 2 pessoas. Não adicionei a farinha de trigo (que tem na receita original) pois usei creme de leite de caixinha que já é mais denso que o fresco. Acrescentei cogumelos porque eu gosto muito. 😉
    Vamos a receita?

    Espaguete de salmão

    Temo Prep: 30 mins
    Tempo Coz: 15 mins
    Serve: 1

    Ingredientes

    • 250g de salmão cortado em cubos
    • 250g de espagueti
    • 1 caixinhas de creme de leite
    • 1 cebola pequena picada
    • 1/2 xícara de café da vinho branco seco
    • 150g de cogumelos
    • Azeite de oliva
    • Salsinha
    • Manjericão
    • Pimenta fresca
    • Sal

    Modo de Fazer

    1. Coloque água para aquecer em uma panela, quando ferver, adicione a massa e cozinhe conforme indicado na embalagem.
    2. Esquente bem uma panela, acrescente o azeite. Passe o salmão apenas para dar uma selada. Adicione a cebola. Tempere com a pimenta do reino e um pouco de sal. Acrescente o vinho. Em seguida coloque os cogumelos e dê uma refogada, de leve, por uns 3 minutos.
    3. Junte as ervas e o creme de leite. Deixe com que ele aqueça, mas não ferva. Jogue o molho na massa escorrida e pronto!
  • Ação,  Comédia,  Drama,  Salgados

    Tampopo & Lámen

    Hoje tem participação ilustre e especial no blog, minha amiga Daiany Dantas, que fazia comigo o antigo blog “Quarto 2046″…E não é que ela fez uma introdução linda contando um pouco de como ficamos amigas?

    “As pessoas mais duras (ia usar empedernidas, mas imagina, nem tenho 124 anos) são meio avessas ao que elas chamam de “amizades virtuais”, imaginam logo uma rede de intrigas, sequestros, chantagem, todo um filme noir dos anos 50. Na verdade, uma amizade virtual é uma conquista posta à prova todos os dias, pela sinceridade, presença (ainda que não seja a física), constância e lealdade das partes envolvidas. Como qualquer outra amizade. A única diferença é que há um computador no meio de campo, mediando tudo. Pois bem, desde 2005 eu e a Sara demos algum trabalho aos nossos computadores. Foram muitas e muitas conversas, jantares, idéias e vinhos divididos entre uma teclada e outra. Se a presença é feita de afeto e de verdade, posso garantir que ela é uma das amigas mais presentes em minha vida. E, com o perdão do trocadilho barato, um verdadeiro presente. Com quem posso contar em dia de chuva, sol, tempestade ou tsunami. Ela está sempre ali, dando força. Durante algum tempo, mantive, junto com a Sara, o blog Quarto 2046, quer dizer, ‘mantive’ é pretensão minha mesmo. Pois no final das contas era bem mais ela quem tocava o barco e não deixava a peteca cair. A idéia surgiu de nossos inúmeros diálogos (insensatos) sobre filmes que víamos e nos apaixonavam perdidamente. Discutíamos desde as questões mais sérias, como direção, narrativa, fotografia, etc, às mais destrambelhadas, sobrando sempre algum espaço para exaltar a beleza dos incríveis atores asiáticos que tanto amamos. E, creiam-me, discutir filmes com a Sara é um prazer à parte. Uma atividade amplamente auto-reflexiva, na qual tomamos parte da história e nos deixamos revelar pelo enredo. Terapia perde. O texto a seguir foi publicado originalmente em nosso antigo blog. Como fã do Cozinha em Cena, agradeço pelo convite super fofo e generoso. Super contente por estar presente neste espaço tão bonito, saboroso e bem cuidado, como tudo o que essa moça faz.”

    Pra comer fazendo barulhinho…

    Apelidado de Lámen western pelo seu diretor – numa época em que a versão italiana para os westerns americanos (o spaghetti western) lotava cinemas – Tampopo é uma divertida história sobre a importância social da comida no Japão, revelando o quanto da honra, amor, luxúria e verdade podem estar contidos numa porção de comida. Um filme sobre comida à altura de grandes como “Festa de Babette” e “Como água para chocolate“, que merece ser visto por cinéfilos e gourmets. Sobretudo por trazer à tona as idiossincrasias da mesa japonesa. Nunca fui grande espectadora dos Westerns, mas acho que Tampopo tangencia o gênero, sobretudo na figura de Goro (Tsumotu Yamazaki, o ‘melancolicamente saboroso’ chefe de “A partida“), um cowboy nipônico do asfalto, que cruza cidades pequenas em seu caminhão, em companhia de seu escudeiro (um jovem e irreconhecível Ken Watanabe), vestindo um ostensivo e raro chapéu de vaqueiro americano.
    É num desses bares da vida que Goro se solidariza com o drama da Sra. Tampopo (Nobuku Myiamoto) – que quer dizer ‘dente de leão’ -, uma mãe solteira que prepara sopas de noodles (o já assimilado em nossa dieta miojão – macarrão japonês) para criar o único filho – um garotinho vítima de bullying, adivinhem por quê? Não deve ser fácil ser filho de mãe solteira no Japão. Menos ainda ser uma mulher que toca o próprio negócio. Encantado pela cozinheira – muito mais por sua simpatia e charme que pelos dotes culinários, que não ganham os elogios do gourmet Goro – o caminhoneiro embrenha-se numa missão de vida: ajudar Tampopo a preparar o melhor Lámen da região. Uma jornada que ganha o curso de todo o filme e revela-se bem mais difícil que parece, ela precisa visitar as pequenas e grandes casas de Lámen, encobrir-se, descobrir os segredos do preparo e no atendimento, saber o ponto certo da água, memorizar o pedido de cada freguês, o tempero adequado e a dose exata de cada ingrediente, e se dedica a isso com uma devoção oriental – como era de se esperar.
    Encantado pela cozinheira – muito mais por sua simpatia e charme que pelos dotes culinários, que não ganham os elogios do gourmet Goro – o caminhoneiro embrenha-se numa missão de vida: ajudar Tampopo a preparar o melhor Lámen da região. Uma jornada que ganha o curso de todo o filme e revela-se bem mais difícil que parece, ela precisa visitar as pequenas e grandes casas de Lámen, encobrir-se, descobrir os segredos do preparo e no atendimento, saber o ponto certo da água, memorizar o pedido de cada freguês, o tempero adequado e a dose exata de cada ingrediente, e se dedica a isso com uma devoção oriental – como era de se esperar. É divertido ver Goro amealhando ajudantes para apoiar Tampopo em sua batalha pelo Lámen perfeito – experts inusitados em Lámen, como o chofer de um velho chefão Yakuza e um professor aposentado. O filme traz um humor bem peculiar, o Lámen western não usa dos artifícios das tortas na cara, em vez disso, questiona relações sociais estabelecidas em sociedades de tradições rígidas como o Japão. Há espaço para o debate de questões de gênero e a lógica oriental da subserviência entre discípulo e aprendiz. Também deixa claro que a comida é algo central na vida dos japoneses e japonesas – algo tão valioso como um membro da família ou um parceiro de cama, pelo qual vale a pena correr riscos, matar ou morrer… Outra coisa que me agradou bastante em Tampopo foi a montagem non sequitur*. O diretor conduz perfeitamente a história central em meio a esquetes curtos e tão ricos em ironia. Como a da velhinha que sente prazer em amassar a comida do mercado ou as participações pra lá de sensuais do misterioso homem do terno branco (Koshi Yakusho, de Shall we dance, jovem e muito gato). Um filme pra sorver sem pejo, fazendo barulhinho, e assistir, de preferência, com um bom prato de lámen nas mãos.

    (Daiany Dantas)

    *Non sequitur (expressão latina para “não se segue”) é uma falácia lógica que acontece quando uma conclusão não segue as suas premissas.

    Lámen de Legumes

    Prep Time: 15 mins
    Cook Time: 30 mins
    Yields: 18

    O que você vai precisar?

    • 250 g de macarrão para lámen
    • 200 g de shimeji
    • 1 folha de nori (em pequenos quadrados)
    • 100 g de brócolis
    • Cebolinha em rodelas
    • 1/2 cebola picada
    • 1 dente de alho
    • 1/2 talo de alho-poró em rodelinhas
    • 4 gotas Óleo de gergelim
    • Manteiga
    • Óleo de girassol
    • Shoyu a gosto
    • 1/2 cubo de caldo de legumes
    • 1 ovo cozido
    • 2 xic. de água (para o caldo)
    • 1 litro de água (para cozinhar o macarrão)

    Como fazer?

    1. Coloque 1 litro de água para aquecer.
    2. Refogue a cebola e o alho no óleo de girassol. Junte a água, o caldo de legumes, nori, brócolis, shoyu, óleo de gergelim e a água. Deixe ferver por uns 10-15 minutos, até que o brócolis esteja cozido (não pode ficar molenga).
    3. Em uma frigideira coloque a manteiga e o shimeji, refogue por alguns minutos, reserve. Ali mesmo coloque o alho-poró para refogar.
    4. Agora que a água já deve estar fervendo, cozinhe o macarrão conforme instrução da embalagem. O que usei leva apenas 1 minuto para ficar pronto. Escorra o macarrão.
    5. Em um bowl coloque o macarrão, junte o caldo de legumes, arrume os legumes em cima, o ovo partido ao meio e por fim coloque as cebolinha em rodelas. Pronto, agora é só comer.
  • Drama,  Salgados

    Kiseki (O que eu mais desejo) & Batayaki

    Quando se trata de um filme de Hirokazu Kore-eda pare tudo que está fazendo e sente para assistir. Ele é um diretor peculiar, que trata do cotidiano. O passar da vida com um olhar simples e cativante. Não espere um filme com grandes surpresas e finais épicos. Kore-eda segue a linha do mestre Ozu, que filmava sempre os simples acontecimentos que passamos. É como olhar nosso dia-a-dia e ver nele os pequenos detalhes que às vezes passam despercebidos e é exatamente neles que está a essência do viver.
    O filme fala sobre dois irmãos (fato curioso que os atores – Ohshiro e Koki Maeda – também são irmãos na vida real, o que transborda em nós um amor maior ainda pelo filme) que estão vivendo em locais distantes devido a separação dos pais.

    Nós somos irmãos. Somos unidos por um fio invisível.
    (Ryu)

    O irmão mais velho, Koichi, mora com a mãe, que foi para casa dos pais. O mais novo, Ryu, vive com o pai, guitarrista de uma banda, no outro extremo da ilha. Do lado onde está Koichi um vulcão está a soltar cinzas e o pequeno menino se incomoda um pouco com isso, mas se coloca a limpar, pois não há mais nada a ser feito. Como uma metáfora com a vida, lidamos com o que nos é oferecido. No outro extremo da ilha há sempre sol e é lá que vive Ryu. Um garoto que nos cativa desde o início do filme, sorridente, brincalhão, de bem com a vida, ao contrário de seu irmão, que se mostra um garoto mais fechado e pensativo perante a problemática da vida da família.
    O grande sonho de Koichi é que os pais voltem a morar juntos e a família se reconstrua novamente. Há toda uma inocência por trás disso, por isso, acho tão incríveis filmes que mostram a vida através do olhar das crianças. De um lado temos um irmão mais velho, que pode parecer mais experiente e amargurado, mas que ainda tem dentro dele a esperança e a ilusão de que a família, anteriormente devastada, volte a ser uma união feliz. Por outro lado, o irmão mais novo que parece estar sempre ‘voando’ e não pensando muito em todas as coisas, é quem cultiva um jardim, cuida do pai, lida com a vida de uma forma mais light, porém, ele tem uma visão mais realista da relação dos pais: as brigas voltariam, caso eles viessem a morar juntos novamente.
    O reencontro dos dois é uma das coisas mais bonitas do filme. Aquela amizade sincera e bonita, a cumplicidade e o amadurecimento que a distância faz com que a gente tenha. Em uma passagem eles estão comendo salgadinhos e um diz para o outro: `Pode comer as migalhas’ e o outro responde que eles sempre brigavam pelas migalhas. Fiquei pensando que muitas vezes quando estamos juntos de alguém sempre brigamos por coisas bobas, que se perdem totalmente quando se tem apenas alguns momentos para ficar junto de quem se gosta.
    E o filme se desenvolve em cima de um ideal de Koichi em viajar até onde dois trens-bala se cruzam. Reza a lenda que se fizermos um pedido durante esse momento, ele se realizará. Então ele se junta com amigos, cada um com seu desejo pessoal, convida o irmão, que também vai com seus amigos, para essa viagem em busca da realização do sonho de cada um.
    E você, o que gritaria quando os trens se cruzassem? Eu já sei o que pediria =).
    O que vai acompanhar o filme hoje é uma receita de Batayaki (que nada mais é que “cozido na manteiga” em japonês). Vamos ver como faz?

    Shimeji & Shitake Batayaki

    Prep Time: 15 mins
    Cook Time: 15 mins
    Yields: 2

    O que você vai precisar?

    • 100 g de shimeji
    • 100 g de shitake
    • 100 g de brócolis
    • 50 g de manteiga
    • 2 colheres (sopa) de Saquê Culinário
    • 1/4 xíc. de Shoyu

    Como fazer?

    1. Tire os cabinhos dos shitakes e corte em fatias grossas. Separe o shimeji em ‘pétalas’. Coloque a manteiga para derreter em uma panela e em seguida adicione o shitake. Deixe refogar por uns 3 minutinhos e coloque o shimeji.
    2. Adicione o saquê. Deixe refogar mais alguns minutinhos. Em uma panela a parte, dê uma leve cozinhada no brócolis (apenas para dar ‘um susto’, pois ele deve ficar al dente). Podes também usar a tática de levar uns 2 minutos no microondas dentro de um saquinho fechado (não precisa adicionar água). Junte o brócolis aos cogumelos e em seguida despeje o shoyu. Misture bem para que tudo fique incorporado e sirva em seguida.
  • Drama,  Salgados

    Hiroshima mon amour & Petits soufflés de couve-flor

    Poderia dizer que a minha paixão pela cultura oriental começou quando li pela primeira vez, sentada na grama da Faculdade, o livro “O amante” de Marguerite Duras. Eu já tinha uma pré-disposição a amar os orientais, desde pequena, porém, depois de ser levada pelas palavras e o envolvimento contado no livro entre uma francesa e um chines eu logo me vi encantada. Foi então que, na mesma época, eu tive o prazer de assistir pela primeira vez a “Hiroshima mon amour” (roteiro adaptado de um livro de Marguerite Duras) – agora mudava um pouco…era um japonês envolvido com uma francesa. Tudo me diz que tem muito da vida de Marguerite ali. Cada detalhe, cada sensação e sentimento. É tão real.

    Como com ele, o esquecimento começará por seus olhos.
    Igual.
    Depois, como com ele, sua voz será esquecida.
    Depois, como com ele….ele abrangerá você inteiro…pouco a pouco.
    Você se tornará uma canção.
    Quem é ela?
    Uma francesa.

    hiroshima-cozinha

    Uma atriz em visita a Hiroshima a trabalho. Um arquiteto japonês que está sem a família na cidade. Apenas dois dias. Um amor que jamais será esquecido. O filme trata com tanta presteza a memória. As coisas que se quer esquecer e acha que se esqueceu, mas que voltam com tanta facilidade quando se toca nelas.
    Acho interessantíssimo o modo como o filme se desenvolve, um grande “bafo” para a época que foi filmado. Fiquei pensando e analisando aqueles dois no bar e aquela mulher linda e francesa bebendo cerveja como quem precisa daquilo para poder desabafar. Não tinha limites, não haviam esconderijos para aquela conversa e aquela cumplicidade que se formava ali. É tão duro ter que esquecer.

    É tão difícil falar do passado, mas ao mesmo tempo, é incrível como com algumas pessoas isso acontece sem nenhum planejamento, é espontâneo. E era assim que acontecia entre aqueles dois.

    Também interessante e chocante, são as cenas iniciais, onde o diretor mostra imagens das catástrofes causadas pela maldita bomba atômica que por lá destruiu tantas vidas, deformou tantas pessoas, acabou com tantos sonhos. Além de ser um grito revoltado contra o acontecido, ele retrata a verdade das relações humanas no seu mais profundo modo.

    hiroshima-mon-amour-cozinha

    – Você inventou tudo.
    – Nada.
    – Assim como essa ilusão existe no amor…a ilusão de poder nunca esquecer…
    – Eu tive, diante de Hiroshima… a ilusão de jamais esquecer, como no amor.
    – Eu vi também os sobreviventes e os que estavam no ventre
    das mulheres de Hiroshima.
    – Eu vi a paciência, a inocência, a doçura aparente com que os
    sobreviventes provisórios de Hiroshima
    se adaptavam a um destino tão injusto…

    A memória…que lembra tanto as coisas de Kar-wai. Não consigo deixar de assimilar obras da Nouvelle Vague francesa ao cinema de Kar-wai. Godard, Resnais… Fica aqui a dica, para quem não viu e para quem viu há muito tempo, como eu, vale a pena assistir novamente com outros olhos, talvez mais maduros e amaciados pelas memórias e a passagem do tempo.

    Em homenagem ao diretor francês querido Resnais e a insuperável Marguerite Duras, hoje a receita tem toda uma coisa francesa.

    Petits soufflés de couve-flor

    Prep Time: 60 min
    Serve: 2

    O que você vai precisar?

    • 400 g de Couve-flor
    • 150 g de queijo mussarela ralada
    • 4 ovos
    • 2 colheres de sopa de manteiga amolecida
    • 4 colheres de sopa de leite
    • 1 pitada de noz-moscada
    • 1 pitada de sal
    • Pimenta do reino a gosto

    Como fazer?

    1. Separe as claras das gemas e bata as claras em neve com a pitada de sal. Cozinhe a couve-flor no vapor. Pique bem picadinha ou passe no processador. Junte à couve-flor as gemas, a manteiga, o queijo, noz moscada, pimenta do reino e o leite. Misture bem. Incorpore as claras em neve nessa mistura. Coloque em pequenos ramequins ou cocottes – dependendo do tamanho rende 4 ou 6. Forno pré-aquecido a 180º por 25 minutos. Na prateleira do meio dele, de preferência.