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    O Terceiro Assassinato & Molho Tonkatsu

    Não é a toa que Hirokazu Kore-eda ganhou o a Palma de Ouro (com seu novo filme Manbiki kazoku – Shoplifters) no festival de Cannes esse ano. O diretor e roteirista japonês se tornou um dos mais conhecidos cineastas de sua geração no Ocidente. Aqui no blog temos alguns filmes dele: O que mais desejo, Tal pai, tal filho, Depois da Tempestade.

    Eu sou aficionada pelo diretor, já vi todos os filmes dele, mas ainda não consegui postar todos aqui, por motivos de receitas (tenho que cozinhar mais comidas japas, se tiver dicas, deixa aqui nos comentários, please)

    O Terceiro Assassinato é um filme de tribunal, mas não naquele formato que estamos acostumados a ver em filmes e séries americanas. Fukuyama Masaharu dá vida ao protagonista Shigemori, um advogado de sucesso que aceita um novo caso, de um homem que foi defendido pelo seu pai também advogado, e depois de solto, confessou um novo assassinato.

    Se nos custa entender a família,imagine um estranho.

    Misumi (em uma interpretação incrível de Kôji Yakusho) é um réu confesso, que muda a todo momento a versão do seu crime, levando o julgamento a dúvida de uma grande farsa, prejudicando assim a sustentação de defesa do advogado.

    O que Shigemori quer é evitar a condenação à morte, já que, a prisão, devido a confissão, é impossível de ser mudada. Não é a verdade que está em cheque, mas sim a estratégia legal do caso. É a única verdade possível para o advogado. O que realmente aconteceu, ninguém nunca saberá, acredita Shigemori. O que mais importa para ele é a imagem que pode ser vendida ao júri, a estratégia construída pela defesa para evitar a pena de morte ao réu.

    Claro que se tratando de Kore-eda temos dramas familiares nisso tudo. Shigemori cobra o próprio pai, em seu imaginário, porque Misumi não recebeu pena pior no passado, o que eliminaria todo esse stress atualmente. Ao mesmo tempo, ele tem uma filha, que se sente deixada de lado, o que nos relembra o comprometimento dos pais, discutido tanto em Pais e filhos.

    A dúvida é que leva o espectador a ficar totalmente tomado pelo filme, você não sabe o que realmente aconteceu, tanta adivinhar, fica obcecado por saber a verdade. Inovando aqui do que sempre filmou, Kore-eda nos surpreende com uma obra fascinante, que provoca o espectador a refletir muito mais do que o motivo do crime. Ele nos faz questionar as relações humanas, o poder de destruição do ser humano e até onde uma história (mentira ou verdade) pode levar as pessoas.

    Kore-eda faz da iluminação um prazer adicional, como sempre, a luz é quase que um personagem em seus filmes. Ele mostras áreas sombreadas nos rostos dos atores, de forma que nos coloca em dúvida sobre a veracidade do que está sendo contato. As cenas da cadeia são sensacionais, quando o advogado e prisioneiro conversam através de um vidro, onde os rostos não apenas se refletem, mas se sobrepõem.

    O Terceiro Assassinato é mais uma obra prima do mestre Kore-eda, ele questiona os procedimentos legais e o modo como se julga o outro ser humano. Fica o questionamento se a justiça está sempre certa, e nos tempos que vivemos, temos clara certeza que muitas vezes não.

    Trailer:

    Resolvi unir esse filme ao molho Tonkatsu, pois é um clássico da cozinha japonesa. É mega fácil, mas tive que percorrer a internet nipônica para achar uma receita que não levasse catchup (nao gosto). Vamos a receita?

    Molho Tonkatsu

    Ingredientes

    • 250 ml de shoyu
    • 50 ml de molho inglês
    • 130 g de extrato de tomate
    • 150 g de açúcar
    • Pimenta do reino a gosto

    Modo de Fazer

    1. Misture todos os ingredientes e leve ao fogo para ferver até engrossar.

    Dicas de uso:

    O molho pode ser servido junto com carnes a milanesa (geralmente porco), ser molho para massas orientais, servido com salada de repolho fresco ou qualquer outro prato que queiras dar um toque agridoce.
  • Depois da Tempestade - Hirokazu Koreeda
    Drama,  Salgados

    Depois da Tempestade & Curry (Kare) Japonês

    Hirokazu Kore-eda e sua perfeição em retratar o cotidiano simples e absolutamente encantador, como fazia com maestria Yasujiro Ozu.

    Em “Depois da tempestade” temos como personagem principal Ryota (Abe Hiroshi), um escritor que teve apenas um livro publicado com algum sucesso e devido a crise econômica se dedica a ser detetive particular.

    Ryota e a mãe

    Ryota acaba de se separar da mulher, com quem tem um filho que consegue ver apenas uma vez por mês. Nem sempre é possível pagar a pensão, o que o deixa frustrado e inseguro na relação que tem com o menino.

    Do outro lado temos a mãe dele, uma senhora adorável, a qual Hirokazu Kore-eda consegue mostrar de forma singular e poética a vida de uma pessoa idosa. Na singeleza de regar as plantas, cozinhar, ou fazer aula de música clássica com os vizinhos também de idade avançada.

    Você não pode encontrar a felicidade, até ter se desapegado de algo.

    O modo como ela fala sobre as lembranças do passado, do marido que já se foi, mostrando as fotos e cartões ainda escritos a mão é uma das coisas mais bonitas que já se viu. Ela não quer ser uma velhinha descolada, ela apenas demonstra o que é já ter uma vivência, uma trajetória formada na vida, mas que se preocupa muito com o futuro do filho quando ela não estiver mais por aqui.

    Ryota, o filho e a ex-mulher
    Ryota bebe e gosta de jogos de azar. Isso não o desabona em nada, afinal é um ser humano como qualquer um: tem defeitos, porém conseguimos ver também qualidades naquele homem sentimental e inseguro, muitas vezes.

    Temos aqui um clássico drama familiar, que se denota quando essa família já desfeita, se reúne em uma noite de tempestade na casa da matriarca, daí o título do filme.

    Nessa noite a costa do Japão foi assolada por uma enorme tempestade, onde as pessoas não eram aconselhadas a saírem de casa. Muitas vezes nem conseguiam um transporte para isso, foi assim que a família “se obrigou” a passar a noite junta novamente.

    Depois da Tempestade
    É muito difícil falar sobre os filmes de Hirokazu Kore-eda, pois ele retrata o cotidiano, o dia-a-dia, sem tramas incríveis ou surpreendentes. É a velha poesia do que se vive. Se analisarmos nossas próprias vidas, nem sempre elas contam com coisas apoteóticas diariamente. E é nessa beleza simples que nos traz tanta satisfação em assistir os filmes do japonês.

    …mas continuamos vivendo, desfrutando os dias.

    Na verdade, é por isso que continuamos.

    Então, encontramos alegria, dia após dia.

    Isso é complexo.

    Não, é simples.

    A vida é simples.

    O filme é profundo e gentil, com doses de humor e muita simplicidade. Temos o que fica, que é o amor, mesmo que possa parecer que ele já tenha ído embora.

    Fica por conta do espectador idealizar o que acontecerá a seguir, mas o que temos razão completa é que esse é mais um daqueles belos filmes que a gente termina pensando na nossa própria existencia e reflete sobre ele durante o resto da vida.

    Trailer:

    Para ver mais filmes de Hirokazu Kore-eda que já falei aqui no blog clique aqui.

    A receita de hoje é um Curry japonês, o prato é feito a partir do curry, chamado no Japão de kare (カレー). O curry tem origem indiana mas foi adaptado ao paladar japonês a partir da Era Meiji e acabou se tornando um dos pratos mais populares do país.

    No filme, a mão de Ryota cozinha um excelente curry com macarrão, que agrada a todos e é muito elogiado. Tem aquela coisa nostálgica do gostinho da casa da mãe (ou da vó).

    Existem várias maneiras de se comer o Kare, pode ser com arroz – o Kare Raisu, com macarrão – o Kare Udon e também com pão, chamado de Kare Pan.

    O Kare é feito com legumes picados, carne (aqui substituí pelo shitake) e cozidos em um molho de curry, sem grandes dificuldades no preparo.

    Ingredientes para o Karê - Curry Japonês

    Pode ser feito com pó de curry ou ainda na versão de tabletes prontos. São compostos por vários condimentos e especiarias que podem incluir açafrão-da-terra, cardamomo, coentro em grãos, gengibre, cominho, casca de noz-moscada, cravinho, pimenta vermelha, pimenta do reino, canela, entre muitos outros.

    No Japão, os tabletes de curry são os mais utilizados no preparo. Comprei o tablete na parte de comidas orientais do supermercado, dê uma olhadinha que é fácil de achar. O nível de pimenta é classificado de 1 a 5, sendo que o 3 é considerado o médio, foi o que comprei, eu não achei muito forte, mas o namorado achou bem hot! Vamos a receita?

    Karê - Curry Japones com macarrão

    Curry (Kare) Japonês com Macarrão

    Preparo: 60 min
    Cozimento: 30 min
    Serve: 4 porções

    Ingredientes

    • 300 g de cogumelo shitake
    • 3 batatas em cubos
    • 2 cenouras em cubos
    • 1 cebola grande em cubos
    • 1/2 tablete de curry (usei Golden Curry)
    • 300 g de macarrão oriental (de Yakissoba, Udon, o que tiveres disponível)
    • Cebolinha verde picada
    • 1 colher de sopa de óleo vegetal (usei de algodão)
    • 500 ml de água

    Modo de Fazer

    1. Aqueça o óleo em uma panela, refogue a cebola. Junte o shitake até dourar.
    2. Adicione as batatas e cenouras e deixe refogar em fogo baixo por uns 5 minutos.
    3. Acrescente a água e deixe cozinhando até que os legumes fiquem macios.
    4. Coloque o tablete de curry e mexa até que se dissolva e cozinhe por mais uns 10 minutos em fogo baixo.
    5. Cozinhe o macarrão conforme as instruções da embalagem.
    6. Sirva o macarrão com o molho de curry e salpique as cebolinhas verde em cima.
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    A Partida & Arroz Doce Com Cerejas

    A insustentável leveza das partidas

    A Partida (Okuribito, 2008) é o filme japonês a receber um Oscar em 2009. E o texto começa a partir desta informação não por que os prêmios da academia sejam parâmetro de qualidade no universo das pessoas que fazem este blog – ela compartimenta o mundo inteiro (fora dos EUA) na categoria de cinema estrangeiro e os vencedores costumam ser filmes realizados em países de maioria caucasiana, fatos que, por si, são um atestado de etnocentrismo. Mas, sim, foi a premiação que me fez tomar conhecimento dele.

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    Como participava de um bolão, assisti à cerimônia pela TV e fiquei surpresa ao ver o azarão japonês desbancar a favoritíssima animação israelense Waltz with Bashir – uma bela esquivada americana, não premiando um filme com implicações políticas evidentes. Contradições à parte, Okuribito é um filme que merece ser reconhecido e certamente será apreciado por grandes plateias pois tem todos os elementos que fazem um bom melodrama. Uma bela canção incidental, que por vezes dá “voz” ao sentimento do personagem central, atores sensíveis e expressivos e uma direção que prima pelo intimismo.

    A câmera se coloca como o olho do observador, numa perspectiva que nos faz sentir comodamente sentados naquele canto da sala em que podemos conhecer o entorno das personagens e a intimidade de suas casas. Assistimo onde e o quê comem, os detalhes da porcelana sobre a mesa, onde dormem e se banham, os objetos em sua escrivaninha, os vasos de plantas estrategicamente espalhados, o lugar em que assistem TV e, principalmente, suas ante-salas, fechadas para os rituais restritos aos pequenos círculos de amigos e familiares.

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    Para falar da estranheza da morte numa cultura que a repele, o diretor Yojiro Takita ritualiza a preparação dos mortos para os funerais, nos ensinando a lógica das partidas.

    O filme aborda algumas questões que parecem ser recorrentes no cinema japonês: a valorização do trabalho, a família e a devoção pelo cotidiano. Sua grande qualidade é fazer com que estes três eixos da existência conversem e cheguem a uma conclusão, tendo a morte como cenário. Ao final, percebemos que a fatalidade da vida é trivial como qualquer outra coisa dentro desta.

    E isto acontece quando acompanhamos a trajetória do nosso herói: Daigo Kobayashi. Um rapaz que trocou a cidade pequena pelas grandes possibilidades de Tóquio para realizar o sonho de seus pais: ser um músico notável. Um destino traçado quando, ao três anos, ele ganha do pai um violoncelo.

    Quando, finalmente, se torna violoncelista da orquestra de Tóquio, já em sua primeira apresentação, recebe a infeliz notícia de que, sem patrocínio, a orquestra estava desfeita. Vendo o sonho de uma vida desmanchar diante dos seus olhos, ele percebe, com certo alívio, que talvez ser músico não fosse uma escolha sua.

    Decide recomeçar e propõe a sua esposa Mika (Ryoko Hirosue), uma jovem web designer esfuziante o tempo inteiro, que tentem a vida em sua cidade de origem, onde poderiam morar na casa que sua mãe havia lhes deixado como herança. Com espírito otimista e assumindo a postura cuidadora que a cabe às mulheres nos momentos de adversidade, a moça consente, e segue os rumos do marido.

    E é lá onde ele se depara com a inusual e constrangedora oferta de trabalhar como assistente numa empresa funerária. Emprego que aceita cabisbaixo, também para cumprir sua tarefa de prover o sustento de sua pequena família (sim, estamos falando do Japão, onde a honra do homem é estreitamente associada ao seu papel como provedor e ao desempenho no mundo do trabalho).

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    E o filme nos faz refletir sobre esse “valor” ao nos mostrar uma tarefa depreciada por quase todas as pessoas da trama ser executada com tanta beleza e reverência. A preparação dos cadáveres, com a leveza e o detalhe próprios da cultura japonesa, é uma arte zen, similar aos arranjos florais ou à pintura em aquarela, o que torna mais digno o ato da despedida.

    Daigo faz de seu novo emprego e dessa nova relação com a morte um reencontro com sua própria história. Para isto, no entanto, precisa revirar as caixas tormentosas do passado e realizar as suas próprias despedidas. Junto com ele, aprendemos sobre a importância das coisas simples dessas nossas vidas breves.

    Okuribito é filme para enternecer. Conta com bela fotografia, cenografia bem cuidada e excelentes atores – inclusive os coadjuvantes. E tudo isso ao som de violoncelo.

    Drops:

    :: A idéia original do filme partiu do ator Masahito Motoki, após ler um livro sobre a cerimônia do Noukan (acondicionamento dos mortos).
    :: O título original “Okuribito” significa “enviar pessoas” (no site do imdb:”the sending [away/off] people”) , mas essa palavra não é comumente usada no Japão.
    :: Motoki fez laboratório, atendendo a cerimônias funerárias e também estudou violoncelo.
    :: O filme foi rodado em dez anos.
    :: O diretor estava muito receoso quanto à recepção do filme, já que a morte é um grande tabu no Japão.
    (Esse post foi escrito e publicado originalmente em nosso extinto blog “Quarto 2046” em Maio de 2009.)

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    Arroz Doce Com Cerejas

    Tempo Prep: 60 min
    Tempo Coz: 30 min
    Serve : 4

    Ingredients

    • 1 xíc. de arroz
    • 2 xíc. de água
    • 2 xíc. de leite
    • 6 colheres de sopa de açúcar
    • Raspas de 1 fava de baunilha (depois que tirei as raspas também coloquei a fava para ferver junto – dá um gostinho a mais delicioso!)
    • 1 canela em pau
    • 300 g de cereja fresca
    • 2 colheres de sopa de açúcar
    • 1 colher de sopa de vinagre balsâmico
    • 1 colher de sobremesa de conhaque

    Modo de Preparo

    1. Comece com a calda levando as cerejas em uma panela com o açúcar ao fogo médio. Vá mexendo de vez em quando, até que elas fiquem macias e forme uma calda escura. Isso leva cerca de 5 a 8 minutos. Em seguida coloque o vinagre balsâmico e o conhaque. Deixe por mais um minuto no fogo e desligue. Depois que esfriar, leve a geladeira.
    2. Para fazer o arroz, você deve lavá-lo apenas uma vez. Em seguida coloque para cozinhar em duas xícaras de água. Deixe que cozinhe completamente, em fogo médio, dando uma mexida de vez em quando. Assim que a água secar, adicione o leite, o açúcar, a baunilha, a canela e a fava. Mexa de vez em quando até que tenhas o arroz bem cremoso. É hora de desligar. Deixe esfriar.
    3. Coloque em taças e adicione a calda de cerejas por cima.

    Dica

    Pode ser servido frio ou morninho, com a calda gelada por cima fica uma delícia!