Receitas

  • Drama,  Salgados

    2046 & Yakissoba de Carne

    Todos que me conhecem sabem do meu amor incondicional pelo diretor chines Wong Kar-Wai. Já falei de filmes dele algumas vezes aqui no Cozinha, sobre os filmes Blueberry Nights e In the mood for love. Não é por acaso que uma imagem do filme estampa o layout do blog. Considero 2046 um dos meus TOP5 filmes de ‘cabeceira’.

    2046 faz parte de uma trilogia. O primeiro filme é “Days of being wild” (no Brasil, Dias Selvagens), seguido de In the Mood for love e por fim 2046.

    Todas as lembranças são rastros de lágrimas.

    Ainda não era grande conhecedora da obra de Kar-wai quando assisti a 2046. Acabei por vê-lo antes dos dois outros filmes, por não saber que se tratava de uma sequência. Confesso que não fez diferença no entendimento do drama e trama. Até acredito que foi melhor ter visto o último antes dos outros.

    2046 é um filme complexo, com fotografia incrível e impecável (temos aqui o último filme com a parceria com Chris Doyle, o melhor diretor de fotografia já visto no mundo, na minha singela opinião), uma trilha sonora que vai desde Nat King Cole a Casta Diva e temos então a sequência da história de vida do Sr. Chow, vivido pelo ator chines Tony Leung Chiu Wai.

    2046 não começa de onde In the mood for love parou. Kar-wai conseguiu em 5 anos de filmagem mudar o filme diversas vezes.

    Década de 60, Sr. Chow está de volta a Hong Kong, onde começa a morar em um hotel. Ele está em frente ao quarto 2046. Está mudado, a vida o transformou em um tipo conquistador quee começa a se relacionar com mulheres que passam em sua vida.

    Ao mesmo tempo que vai a jantas e noitadas de bebedeiras, ele começa a escrever uma história de ficção científica, passado em um trem, com andróides que tem emoções retardadas, onde todos tentam encontrar suas memórias perdidas…a história chama “2046”.

    Temos em metáforas toda a vida dele, seu amor perdido, seus romances do presente, as dores, saudades, esperanças retratados nessa história que se mistura com o filme em si.

    Kar-wai, mais uma vez genial, mistura a ficção com a realidade fazendo com que o filme seja um transbordar de sentimentos e conclusões nem sempre felizes.

    Imagens em preto e branco se mesclam com coloridos intensos das cabines do trem. Sensações de perda e um vazio que só se vai sentir depois de algum tempo, como acontece com as atendentes andróides.

    Por outro lado temos um homem que foi machucado pela vida e resolveu seguir a linha oposta do que sempre foi. Mas não consegue viver assim.

    Lembra que lhe falei que havia uma coisa que nunca poderia emprestar?

    Não é possível se emprestar o amor. O amor não é algo que se possa deixar por alguns instantes com alguém, nem que seja para confortá-la um pouco. 2046 teoriza com o amor. Discute com a gente mesmo sobre o que realmente achamos que ele é. 2046 é dolorido, lindo, marcante e exuberantemente perfeito.

    Desejo, espaço, tempo e memória. Isso é 2046.

    Para comer assistindo o filme eu resolvi que poderíamos ter um prato típico da China, óbvio, pois “nada muda em 2046” e nada mais chinês e amor que Yakissoba. Então vamos lá!

    Yakissoba de Carne

    Prep Time: 60 mins
    Cook Time: 30 mins
    Serve: 4

    Ingredientes

    • 500g de macarrão para Yakissoba
    • 400g de carne vermelha de sua preferência (usei coxão de dentro)
    • 1 dente de alho picado
    • 150g de brócolis cortado em buquês pequenos
    • 100g de couve-flor cortado em buquês pequenos
    • 1 cebola cortada cubos grandes
    • 1 cenoura cortada em tiras
    • 100g de repolho cortada em cubos
    • 150g de champignon
    • 1 xícara de chá Shoyu
    • 1/2 colher de sopa de açúcar
    • 1/2 xícara de chá de água
    • 1 colher de sopa de amido de milho
    • 1/2 colher de sopa de óleo de gergelim torrado
    • 4 colheres de óleo de girassol (ou de sua preferência para refogar)

    Modo de fazer

    1. Cozinhe o macarrão em mais ou menos 2 litros de água fervente. Escorra.
    2. Aqueça uma panela Wok (de preferência) e adicione um 2 colheres de óleo de girassol, jogue o macarrão para fritar por alguns segundos. Reserve. Agora na mesma panela, que já está quente, coloque mais um pouco do óleo e frite a carne. Reserve. Nesse momento você vai fritar os legumes: coloque o alho a cebola, o brócolis, a cenoura, couve-flor e o repolho e os cogumelos. Deixe refogar por uns 2 minutos. Depois disso volte as carnes a panela, junte o shoyu, o açúcar, a água e o óleo de gergelim. Deixe refogar por alguns minutos.
    3. Dissolva o amido de milho em um pouco de água e adicione, mexendo até que engrosse um pouco o molho. Junte o macarrão a panela e sirva em seguida.
  • Drama,  Salgados

    “Chuva” & Sopa de Capeletti

    “Chuva” (Lluvia) é um filme argentino de 2008 que fala basicamente sobre a dor da perda. Seja ela temporária, como uma separação, ou eterna, como a morte.
    De tomadas simples e uma bela fotografia, o filme é completamente sensível e humano. A diretora Paula Hernández vai além das expectativas em uma história feita de uma série de coincidências, ambientadas na cidade de Buenos Aires. Ou não seriam coincidências?
    No filme temos Alma – interpretada genialmente por Valéria Bertucceli – que é uma mulher de uns 30 anos que acaba de se separar e começa a viver dentro do carro. Do outro lado vemos Roberto (Ernesto Alterio ) um homem que veio da Espanha para enterrar seu pai, com quem não falava há 30 anos. Eles se conhecem acidentalmente. No meio do trânsito, chuva, caos e meia dúzia de palavras.
    Há todo um simbolismo entre a chuva e o estado de espírito das duas personagens no filme. Uma reflexão sobre a vida e as dores de cada uma.
    O que nos passa é que a diretora queria nos mostrar que ainda há um pingo de esperança na busca da felicidade. Um ombro humano e amigo quando mais se precisa e não se tem ninguém.
    Um estranho que se torna tão próximo que não há limite para a intimidade que isso possa criar. Poderiam apenas ter passado um pelo outro sem querer saber porque o outro sofria, ou o que escondiam aquelas lágrimas que caiam. Um belo filme e o cinema argentino acaba por sempre me surpreender. Por isso sigo a procurá-lo.

    -Ele tinha alguma família aqui?
    -Nem família, nem nada. Sua casa era um grande piano…e uma cama de solteiro.
    -É o que ele escolheu.
    -O que ele escolheu ou o que lhe foi deixado…
    -O que você disse?
    -Estou dizendo, é o que ele escolheu ou o que lhe foi deixado?
    -Não, é o que ele escolheu.
    -Ele escolheu isto.
    -Para se isolar, desaparecer e viver a vida que viveu.
    -Bem, talvez ele não pôde encontrar o caminho… não sei…
    -Às vezes, você não pode decidir, é só o que lhe sobra.
    -Quando se tem um filho…o que não se pode fazer é escolher.
    -Você tem que estar lá.
    -Não pode desaparecer durante a noite…como se não tivesse responsabilidades.
    (Roberto falando sobre o pai em Lluvia)

    E o que sopa de capeletti tem a ver com tudo isso? É simples: sopas quentinhas com massas gostosas são aconchegantes em dias frios e de chuva. Também dão uma confortada na alma…
    Eu não gosto de sopas aguadas. Geralmente prefiro as sopas-creme, as com massas, com menos líquido, e mais encorpadas. E assim é que fica a minha sopa predileta de todas as horas.

    Sopa de Capeletti

    Prep Time: 60 mins
    Cook Time: 40 mins
    Yields: 2

    O que você vai precisar?

    • 250g de capeletti de frango
    • 250g de peito de frango em cubos
    • 2 cenouras médias em cubos
    • 1 tomate sem semente picado
    • 1 cebola picada
    • 2 dentes de alho
    • Azeite de oliva
    • 1 cubo de caldo de frango
    • 1 litro de água quente
    • Pimenta do reino
    • Salsinha
    • Orégano
    • Queijo parmesão ralado

    Como fazer?

    1. Em uma panela aqueça o azeite de oliva e refogue o frango. Deixe ele corar. Coloque a cebola, em seguida o alho. De uma leve fritada, misturando bem ao frango. Adicione o tomate picado e a cenoura. Coloque então o caldo de frango, pimenta do reino, o orégano e por fim despeje a água quente por cima.
    2. Deixe cozinhar, com a panela semi-tampada, em fogo baixo por uns 20 minutos, mexendo de vez em quando. Prove o sal. Se achar necessário, adicione mais um pouco. Eu geralmente não coloco, pois o caldo de galinha já tem sal suficiente para minha pressão alta =) Adicione então os capelettis e deixe o tempo que é indicado na embalagem deles. Desligue o fogo, adicione a salsinha picada. Na hora de servir polvilhe com queijo parmesão ralado.

    Um pouco de história….

    Os cappelletti surgiram como uma evolução dos ravioli. No século 13, os ravioli já encantavam os nobres e os plebeus do norte da Itália. Esses pasteizinhos com forma quadricular eram recheados com queijo ou com carne. Com o decorrer do tempo, após muitos enganos na hora de servi-los, passaram a diferenciar um recheio do outro através de formatos diferentes. Os de queijo mantiveram no forma quadricular. Já os de carne passaram a ter a forma de um triângulo, com uma de suas pontas retorcidas. Esta nova forma era semelhante a de um chapéu de bico, e daí veio o nome – capelleti significa “chapeuzinhos” em italiano. A tradição diz que os ravioli não podem ter carne em seu recheio, enquanto os cappelletti não utilizem queijo. (Fonte: Spoleto)
  • Ação,  Comédia,  Drama,  Salgados

    Tampopo & Lámen

    Hoje tem participação ilustre e especial no blog, minha amiga Daiany Dantas, que fazia comigo o antigo blog “Quarto 2046″…E não é que ela fez uma introdução linda contando um pouco de como ficamos amigas?

    “As pessoas mais duras (ia usar empedernidas, mas imagina, nem tenho 124 anos) são meio avessas ao que elas chamam de “amizades virtuais”, imaginam logo uma rede de intrigas, sequestros, chantagem, todo um filme noir dos anos 50. Na verdade, uma amizade virtual é uma conquista posta à prova todos os dias, pela sinceridade, presença (ainda que não seja a física), constância e lealdade das partes envolvidas. Como qualquer outra amizade. A única diferença é que há um computador no meio de campo, mediando tudo. Pois bem, desde 2005 eu e a Sara demos algum trabalho aos nossos computadores. Foram muitas e muitas conversas, jantares, idéias e vinhos divididos entre uma teclada e outra. Se a presença é feita de afeto e de verdade, posso garantir que ela é uma das amigas mais presentes em minha vida. E, com o perdão do trocadilho barato, um verdadeiro presente. Com quem posso contar em dia de chuva, sol, tempestade ou tsunami. Ela está sempre ali, dando força. Durante algum tempo, mantive, junto com a Sara, o blog Quarto 2046, quer dizer, ‘mantive’ é pretensão minha mesmo. Pois no final das contas era bem mais ela quem tocava o barco e não deixava a peteca cair. A idéia surgiu de nossos inúmeros diálogos (insensatos) sobre filmes que víamos e nos apaixonavam perdidamente. Discutíamos desde as questões mais sérias, como direção, narrativa, fotografia, etc, às mais destrambelhadas, sobrando sempre algum espaço para exaltar a beleza dos incríveis atores asiáticos que tanto amamos. E, creiam-me, discutir filmes com a Sara é um prazer à parte. Uma atividade amplamente auto-reflexiva, na qual tomamos parte da história e nos deixamos revelar pelo enredo. Terapia perde. O texto a seguir foi publicado originalmente em nosso antigo blog. Como fã do Cozinha em Cena, agradeço pelo convite super fofo e generoso. Super contente por estar presente neste espaço tão bonito, saboroso e bem cuidado, como tudo o que essa moça faz.”

    Pra comer fazendo barulhinho…

    Apelidado de Lámen western pelo seu diretor – numa época em que a versão italiana para os westerns americanos (o spaghetti western) lotava cinemas – Tampopo é uma divertida história sobre a importância social da comida no Japão, revelando o quanto da honra, amor, luxúria e verdade podem estar contidos numa porção de comida. Um filme sobre comida à altura de grandes como “Festa de Babette” e “Como água para chocolate“, que merece ser visto por cinéfilos e gourmets. Sobretudo por trazer à tona as idiossincrasias da mesa japonesa. Nunca fui grande espectadora dos Westerns, mas acho que Tampopo tangencia o gênero, sobretudo na figura de Goro (Tsumotu Yamazaki, o ‘melancolicamente saboroso’ chefe de “A partida“), um cowboy nipônico do asfalto, que cruza cidades pequenas em seu caminhão, em companhia de seu escudeiro (um jovem e irreconhecível Ken Watanabe), vestindo um ostensivo e raro chapéu de vaqueiro americano.
    É num desses bares da vida que Goro se solidariza com o drama da Sra. Tampopo (Nobuku Myiamoto) – que quer dizer ‘dente de leão’ -, uma mãe solteira que prepara sopas de noodles (o já assimilado em nossa dieta miojão – macarrão japonês) para criar o único filho – um garotinho vítima de bullying, adivinhem por quê? Não deve ser fácil ser filho de mãe solteira no Japão. Menos ainda ser uma mulher que toca o próprio negócio. Encantado pela cozinheira – muito mais por sua simpatia e charme que pelos dotes culinários, que não ganham os elogios do gourmet Goro – o caminhoneiro embrenha-se numa missão de vida: ajudar Tampopo a preparar o melhor Lámen da região. Uma jornada que ganha o curso de todo o filme e revela-se bem mais difícil que parece, ela precisa visitar as pequenas e grandes casas de Lámen, encobrir-se, descobrir os segredos do preparo e no atendimento, saber o ponto certo da água, memorizar o pedido de cada freguês, o tempero adequado e a dose exata de cada ingrediente, e se dedica a isso com uma devoção oriental – como era de se esperar.
    Encantado pela cozinheira – muito mais por sua simpatia e charme que pelos dotes culinários, que não ganham os elogios do gourmet Goro – o caminhoneiro embrenha-se numa missão de vida: ajudar Tampopo a preparar o melhor Lámen da região. Uma jornada que ganha o curso de todo o filme e revela-se bem mais difícil que parece, ela precisa visitar as pequenas e grandes casas de Lámen, encobrir-se, descobrir os segredos do preparo e no atendimento, saber o ponto certo da água, memorizar o pedido de cada freguês, o tempero adequado e a dose exata de cada ingrediente, e se dedica a isso com uma devoção oriental – como era de se esperar. É divertido ver Goro amealhando ajudantes para apoiar Tampopo em sua batalha pelo Lámen perfeito – experts inusitados em Lámen, como o chofer de um velho chefão Yakuza e um professor aposentado. O filme traz um humor bem peculiar, o Lámen western não usa dos artifícios das tortas na cara, em vez disso, questiona relações sociais estabelecidas em sociedades de tradições rígidas como o Japão. Há espaço para o debate de questões de gênero e a lógica oriental da subserviência entre discípulo e aprendiz. Também deixa claro que a comida é algo central na vida dos japoneses e japonesas – algo tão valioso como um membro da família ou um parceiro de cama, pelo qual vale a pena correr riscos, matar ou morrer… Outra coisa que me agradou bastante em Tampopo foi a montagem non sequitur*. O diretor conduz perfeitamente a história central em meio a esquetes curtos e tão ricos em ironia. Como a da velhinha que sente prazer em amassar a comida do mercado ou as participações pra lá de sensuais do misterioso homem do terno branco (Koshi Yakusho, de Shall we dance, jovem e muito gato). Um filme pra sorver sem pejo, fazendo barulhinho, e assistir, de preferência, com um bom prato de lámen nas mãos.

    (Daiany Dantas)

    *Non sequitur (expressão latina para “não se segue”) é uma falácia lógica que acontece quando uma conclusão não segue as suas premissas.

    Lámen de Legumes

    Prep Time: 15 mins
    Cook Time: 30 mins
    Yields: 18

    O que você vai precisar?

    • 250 g de macarrão para lámen
    • 200 g de shimeji
    • 1 folha de nori (em pequenos quadrados)
    • 100 g de brócolis
    • Cebolinha em rodelas
    • 1/2 cebola picada
    • 1 dente de alho
    • 1/2 talo de alho-poró em rodelinhas
    • 4 gotas Óleo de gergelim
    • Manteiga
    • Óleo de girassol
    • Shoyu a gosto
    • 1/2 cubo de caldo de legumes
    • 1 ovo cozido
    • 2 xic. de água (para o caldo)
    • 1 litro de água (para cozinhar o macarrão)

    Como fazer?

    1. Coloque 1 litro de água para aquecer.
    2. Refogue a cebola e o alho no óleo de girassol. Junte a água, o caldo de legumes, nori, brócolis, shoyu, óleo de gergelim e a água. Deixe ferver por uns 10-15 minutos, até que o brócolis esteja cozido (não pode ficar molenga).
    3. Em uma frigideira coloque a manteiga e o shimeji, refogue por alguns minutos, reserve. Ali mesmo coloque o alho-poró para refogar.
    4. Agora que a água já deve estar fervendo, cozinhe o macarrão conforme instrução da embalagem. O que usei leva apenas 1 minuto para ficar pronto. Escorra o macarrão.
    5. Em um bowl coloque o macarrão, junte o caldo de legumes, arrume os legumes em cima, o ovo partido ao meio e por fim coloque as cebolinha em rodelas. Pronto, agora é só comer.
  • Drama,  Salgados

    Kiseki (O que eu mais desejo) & Batayaki

    Quando se trata de um filme de Hirokazu Kore-eda pare tudo que está fazendo e sente para assistir. Ele é um diretor peculiar, que trata do cotidiano. O passar da vida com um olhar simples e cativante. Não espere um filme com grandes surpresas e finais épicos. Kore-eda segue a linha do mestre Ozu, que filmava sempre os simples acontecimentos que passamos. É como olhar nosso dia-a-dia e ver nele os pequenos detalhes que às vezes passam despercebidos e é exatamente neles que está a essência do viver.
    O filme fala sobre dois irmãos (fato curioso que os atores – Ohshiro e Koki Maeda – também são irmãos na vida real, o que transborda em nós um amor maior ainda pelo filme) que estão vivendo em locais distantes devido a separação dos pais.

    Nós somos irmãos. Somos unidos por um fio invisível.
    (Ryu)

    O irmão mais velho, Koichi, mora com a mãe, que foi para casa dos pais. O mais novo, Ryu, vive com o pai, guitarrista de uma banda, no outro extremo da ilha. Do lado onde está Koichi um vulcão está a soltar cinzas e o pequeno menino se incomoda um pouco com isso, mas se coloca a limpar, pois não há mais nada a ser feito. Como uma metáfora com a vida, lidamos com o que nos é oferecido. No outro extremo da ilha há sempre sol e é lá que vive Ryu. Um garoto que nos cativa desde o início do filme, sorridente, brincalhão, de bem com a vida, ao contrário de seu irmão, que se mostra um garoto mais fechado e pensativo perante a problemática da vida da família.
    O grande sonho de Koichi é que os pais voltem a morar juntos e a família se reconstrua novamente. Há toda uma inocência por trás disso, por isso, acho tão incríveis filmes que mostram a vida através do olhar das crianças. De um lado temos um irmão mais velho, que pode parecer mais experiente e amargurado, mas que ainda tem dentro dele a esperança e a ilusão de que a família, anteriormente devastada, volte a ser uma união feliz. Por outro lado, o irmão mais novo que parece estar sempre ‘voando’ e não pensando muito em todas as coisas, é quem cultiva um jardim, cuida do pai, lida com a vida de uma forma mais light, porém, ele tem uma visão mais realista da relação dos pais: as brigas voltariam, caso eles viessem a morar juntos novamente.
    O reencontro dos dois é uma das coisas mais bonitas do filme. Aquela amizade sincera e bonita, a cumplicidade e o amadurecimento que a distância faz com que a gente tenha. Em uma passagem eles estão comendo salgadinhos e um diz para o outro: `Pode comer as migalhas’ e o outro responde que eles sempre brigavam pelas migalhas. Fiquei pensando que muitas vezes quando estamos juntos de alguém sempre brigamos por coisas bobas, que se perdem totalmente quando se tem apenas alguns momentos para ficar junto de quem se gosta.
    E o filme se desenvolve em cima de um ideal de Koichi em viajar até onde dois trens-bala se cruzam. Reza a lenda que se fizermos um pedido durante esse momento, ele se realizará. Então ele se junta com amigos, cada um com seu desejo pessoal, convida o irmão, que também vai com seus amigos, para essa viagem em busca da realização do sonho de cada um.
    E você, o que gritaria quando os trens se cruzassem? Eu já sei o que pediria =).
    O que vai acompanhar o filme hoje é uma receita de Batayaki (que nada mais é que “cozido na manteiga” em japonês). Vamos ver como faz?

    Shimeji & Shitake Batayaki

    Prep Time: 15 mins
    Cook Time: 15 mins
    Yields: 2

    O que você vai precisar?

    • 100 g de shimeji
    • 100 g de shitake
    • 100 g de brócolis
    • 50 g de manteiga
    • 2 colheres (sopa) de Saquê Culinário
    • 1/4 xíc. de Shoyu

    Como fazer?

    1. Tire os cabinhos dos shitakes e corte em fatias grossas. Separe o shimeji em ‘pétalas’. Coloque a manteiga para derreter em uma panela e em seguida adicione o shitake. Deixe refogar por uns 3 minutinhos e coloque o shimeji.
    2. Adicione o saquê. Deixe refogar mais alguns minutinhos. Em uma panela a parte, dê uma leve cozinhada no brócolis (apenas para dar ‘um susto’, pois ele deve ficar al dente). Podes também usar a tática de levar uns 2 minutos no microondas dentro de um saquinho fechado (não precisa adicionar água). Junte o brócolis aos cogumelos e em seguida despeje o shoyu. Misture bem para que tudo fique incorporado e sirva em seguida.
  • Drama,  Salgados

    O Segredo do Grão & Couscous Marroquino

    “O Segredo do Grão” dirigido por Abdellatif Kechiche mostra a vida de uma família (enorme) de origem árabe imigrante na França.
    O filme é protagonizado por Slimane Beiji um homem de 60 anos que está desempregado, depois de ter passado a vida toda trabalhando em docas. Um homem sensível, que mora em um quarto do hotel de sua companheira. Ele sai esporadicamente para almoços junto a família, que por sua vez, o deixa meio de lado por conta de sua situação de vida.
    O filme todo gira em torno do Couscous – Slimane quer abrir um restaurante em um barco e aposta na receita de couscous de sua ex-mulher para que o local seja um sucesso. Interessante o modo como é mostrada a vontade e tamanha perseverança dele, pois isso faria com que ele retomasse sua vida e reconstruiria a parte dele que está tão desanimada com tudo. É um homem visivelmente cansado.
    Há toda uma metáfora entre o barco ser o novo porto-seguro de Slimane, já que ele simboliza sempre chegadas, mas também partidas, há toda uma relação com a imigração e o descontentamento dos franceses com ela. O sucesso do restaurante soaria como uma conquista de aprovação do povo árabe em solo francês.
    Ele recebe a ajuda da filha de sua namorada, Rym, vivida por Hafsia Herzi (premiada por essa atuação no Festival de Veneza em 2007) uma menina muito especial que o auxilia e incentiva muito. Vejo como o ponto forte do filme a amizade deles e o quanto isso pode ser importante para alguém que se sente deixado de lado pela sociedade e por sua própria família.
    A receita de hoje foi o acompanhamento do Carré de Cordeiro. Lembram?
    Ficamos pensando em o que combinaria bem com prato, então escolhemos o Couscous por ser algo neutro mas, ao mesmo tempo, saboroso. Vamos lá?

    Couscous Marroquino

    Prep Time: 20 mins
    Cook Time: 10 mins
    Yields: 2

    O que você vai precisar?

    • 1 xícara (chá) de couscous marroquino
    • 1 cenoura média
    • 1/2 pimentão verde
    • 1/2 cebola roxa
    • 1 xícara (chá) de tomate-cereja
    • 1 xícara (chá) de caldo de legumes (se for usar cubo, dissolva apenas 1)
    • 2 colheres (sopa) de azeite
    • 2 colheres (sopa) de salsinha picada Sal e pimenta do reino a gosto.
    • Sal e pimenta do reino a gosto.

    Como fazer?

    1. Pique todos os legumes. Reserve. Em uma panela aqueça o azeite, refogue a cebola. Em seguida coloque a cenoura, diminua o fogo e deixe cozinhar por alguns minutos. Agora adicione o pimentão e o tomate.
    2. Tempere com um pouco de sal e pimenta do reino. Reserve.
    3. Aqueça o caldo de legumes e coloque adicione o couscous ao caldo, dando uma breve mexida. Desligue o fogo e tampe a panela. Deixe ali por uns 15 minutos.
    4. O couscous vai inchar e cozinhar no próprio vapor. Solte com um garfo os grãos do couscous já cozido e vá misturando os legumes nele. Junte a salsinha e está pronto. =)
  • Doces

    Bolo de fubá com coco e Festa Junina

    As minhas queridíssimas Mirella e Priscila me convidaram para participar de mais uma postagem coletiva e dessa vez o tema é festa junina.
    Lembro que quando eu era pequena ia às Festas Juninas da escola e o que sempre me vem a mente quando penso nisso é: bolo de fubá. Aquele gostinho de erva-doce povoa minha cabeça todas as vezes que junho se aproxima.
    Saindo um pouco da linha, não teremos filme para acompanhar a receita hoje. 😉

    Chega lá no blog das gurias que tem mais receitas gostosas:

    Bolo de fubá com coco

    Prep Time: 80 mins
    Cook Time: 40 mins
    Serve: 4

    O que você vai precisar?

    • 3 ovos
    • 200 ml de leite de coco
    • 50 g de coco ralado
    • 1 1/2 xíc. de fubá
    • 1 xíc. de açúcar
    • 1/4 xíc. de óleo de girassol
    • 2 colheres de sopa de erva-doce
    • 1 colher de sopa de fermento em pó
    • Açucar e canela para polvilhar

    Como fazer?’

    1. Bata no liquidificador os ovos, leite de côco, óleo de girassol, em seguida vá adicionando aos poucos o açúcar, o fubá, o coco ralado e a erva-doce. Por último adicione o fermento e pulse umas duas vezes, apenas para incorporar.
    2. Unte uma forma de bolo inglês com manteiga e polvilhe fubá. Leve ao forno médio (180º) por uns 40 minutos, ou até o palitinho sair limpo. Coloque em uma peneira a mistura do açúcar com a canela e polvilhe por cima do bolo. Decore com um pouco de coco ralado.

    Dica:

    Nunca abra o forno com menos de 20-25 minutos. Isso pode acabar prejudicando o crescimento dele e criar o velho conhecido ”bolo solado”. =/
  • Comédia,  Salgados

    Soul Kitchen & Carré de Cordeiro com Crosta de Cogumelos

    Fatih Akin é um diretor turco que sempre me deixou encantada com seus filmes dramáticos e profundos. Foi uma surpresa para mim vê-lo dirigindo uma comédia leve. Acredito que ele conseguiu tirar das pessoas algumas boas risadas em sua primeira experiência com filmes do gênero.
    Soul Kitchen é o nome do um restaurante comandado pelo seu dono, o simpático Zinos, vivido pelo ator alemão Adam Bousdouko. A casa não vai nada bem, devendo impostos ao governo, na mira da vigilância sanitária, um irmão presidiário em liberdade provisória que precisa de ‘um emprego’, a namorada que está indo embora para a China, uma travada nas costas e péssima comida.
    No meio de tudo isso ele conhece o chef vivido por Birol Ünel – e aí voltamos aos ‘atores fetiche’ de alguns diretores, vejo que aqui temos isso com Fatih e Birol, como entre Kar-wai e Tony Leung – que chega para renovar a cozinha do restaurante e, quem sabe assim, dar um “up” na lucratividade do mesmo e possa mantê-lo aberto, como tanto sonha Zinos. O que será que vai dar tanta confusão?
    Apesar de todos os percalços que são enfrentados pelo protagonista e o resto do elenco, vemos que Fatih tentou mostrar que nunca devemos desistir de nossos ideais. É uma coisa que impressiona muito: a persistência de Zinos em manter o modo com o qual resolveu levar sua vida, sua profissão e seu amor.
    A trilha sonora é um caso a parte. Poderia ficar o resto do dia falando dela. De Quincy Jones a Ruth Brown, é algo que deve ser escutado cozinhando e arriscando até uma dancinha no meio da cozinha.

    Carré de cordeiro com crosta de cogumelos

    Prep Time: 15 mins
    Cook Time: 30 mins
    Yields: 18

    O que você vai precisar?

    • 400 g carré de cordeiro
    • 2 fatias de pão de forma branco
    • 75 g de shitake fresco
    • 10 g de funghi seco (hidratado em água morna por uns 15 minutos)
    • 50 ml Azeite de oliva extra virgem
    • 25 g de Manteiga
    • 1/2 cebola
    • 40 g queijo parmesão
    • 2 colheres de sopa de mostarda dijon
    • 2 dentes de alho
    • Alecrim, tomilho e hortelã, a gosto Sal e pimenta-do-reino, a gosto
    • Sal e pimenta-do-reino, a gosto

    Como fazer?

    1. Primeiro faça a crosta: leve ao processador pão, shitake, funghi, manteiga, cebola, queijo parmesão, alho e as ervas. Bata até obter uma pasta.
    2. Agora grelhe de ambos os lados no azeite os carrés em uma frigideira bem quente. Em seguida, disponha os carrés em uma forma, passe a mostarda dijon e coloque uma camada de crosta em cada um deles. Leve ao forno por 15-20 minutos em temperatura média.
    3. Sirva acompanhado de um arroz ou de couscous de legumes, como fizemos. A receita do couscous vem em outro post, em breve =).

    Obs:

    Essa espumante Pinot Noir é divina. Harmonização perfeita.