Um Dia Muito Especial & Polenta

O diretor de “Um dia muito especial” Ettore Scola está para o cinema italiano como Ozu está para o cinema japonês. Em Una giornata particolare (título original) ele explora o dia-a-dia dos típicos italianos. Entre as críticas ao governo e a política vigente na época, Scola discorre especialmente sobre duas vidas: de Antonietta e Gabriel.

Ouça, quando falta a coragem…
é preciso encontrar forças para reagir logo
ou nada mais restará do que ficar na pior.
Entende?
Ouça! Vamos rir sobre isso!
Chorar…Pode-se chorar sozinho…
Mas para rir, é preciso estar em dois.

Eu considero que esse é um dos grandes filmes do cinema italiano. É perfeito. Não tem nada de mais, nem de menos. É uma aula de cinema, atuação e direção. Cada pedaço dele te leva a algum lugar, a alguma reflexão. É o tipo de filme que me agrada.

Era 8 de maio de 1938, o dia que Hittler e Mussoline se reuniriam em Roma. Os dois ditadores se encontrariam um ano antes da explosão da Segunda Guerra Mundial. Chego a sorrir ao lembra do excelente (leia-se perfeito) plano-sequência, o que é uma especialidade de Scola, que nos leva à Antonietta (Sophia Loren). E assim, passamos a conhecer a vida dela, seus seus filhos, o café da manhã tumultuado, ela passando roupa e acordando o marido que reclama. Assim, acabamos por saber completamente quem é essa mulher.
Típico da cultura da época, Antonietta é uma dona de casa submissa ao marido. Ela cuida da casa, dos filhos, do marido, sem ter vontade própria. Ela faz o que “tem que ser feito”.

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Enquanto todos se aprontam para ir ao encontro do seu mestre ditador, Antonietta ajuda a todos, arruma os filhos e o marido. Depois que todos saem pode relaxar um pouco. Ela tem um papagaio e quando abre a gaiola para dar comida a ele, o danado foge pela janela. No prédio só temos ela, a zeladora e um homem que mora sozinho, um jornalista, homossexual, que acabara de ser demitido, Gabrielle (Marcelo Mastroianni). É exatamente para a janela dele, que o papagaio voa. Indo em busca do pássaro, os dois destinos acabam se cruzando e Antonietta toca a campainha do apartamento de Gabriele para recuperar o seu bichinho.

Dois seres solitários que se encontram. Duas almas amarguradas e presas dentro das próprias divagações existenciais e sociais. Ao contrário de todos os outros filmes que os dois já fizeram (juntos ou separados) aqui temos uma Sophia Loren (divah!) sem aquela beleza e volúpia de costume. A personagem foi caracterizada exatamente para termos essa sensação: uma mulher que foi bela, astuta, mas com o passar dos anos, a vida judiou muito dela. Temos uma mulher magra, simples, com vestes comuns.

O mesmo ocorre com Mastroianni, que todas suspiraram em La dolce vita e 8 ½, onde ele sempre tinha aquele ar conquistador de homem atraente e irresistível (particularmente: valha-me deus, que homem bonito!). Aqui Marcelo encarna um Gabriel triste, endurecido, solitário e simples.

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E é nesse reconhecimento de almas afins que uma bela amizade começa. No dia em que todos os fascistas sem encontravam reunidos ovacionando os líderes, Gabriele e Antonietta compartilham dores e desamores, a vida que levam e o que acontecerá a seguir, não se sabe. O importante é que naquele dia, eles foram um pouco mais felizes.

Não posso falar mais nada, pois é preciso assistir, se caso ainda não tenham visto, esse espetáculo de filme.

Minha gente linda, como poderia deixar de combinar uma polenta com um filme italiano? Tem coisa mais mama, mais italiano e coisa de família que polenta? Almoços de domingo. Essas coisas todas. Vamos a receita? Adaptei uma receita do Panelinha – Receitas que funcionam, da Rita Lobo. Lá ela faz com ragu de carne, aqui eu fiz com frango.

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Polenta

Tempo Prep: 60 min
Tempo Coz: 45 min
Serve: 4

Ingredients

  • 1 peito de frango picado em cubos
  • 1 cebola grande picadinha
  • 4 dentes de alho amassados
  • 1 lata de tomates pelados
  • Orégano
  • Pimenta do reino
  • Salsinha picada
  • Cebolinha picada
  • Azeite de Oliva
  • 1 colher (chá) de sal
  • 1,5 l de água
  • 2 xícaras (chá) de fubá ou de sêmola de milho
  • 9 xícaras (chá) de água
  • 1 colher (sopa) de sal
  • 4 colheres (chá) de queijo parmesão ralado

Modo de Fazer

  1. Molho: Em uma panela, coloque o azeite de oliva e doure o peito de frango. Adicione a cebola, o alho, deixe que amoleçam um pouco e em seguida coloque a lata de tomates pelados. Tempere com sal, pimenta do reino, coloque um pouco de orégano e deixe apurar por alguns minutos.
  2. Polenta: Em uma panela grande aqueça a água. Quando ferver, acrescente o sal e abaixe o fogo. Com a colher de pau em uma mão, vá mexendo a água, e com a outra mão, pegue um punhado de fubá (ou de sêmola de milho) e vá soltando aos poucos, num fio constante. Acrescente todo o fubá dessa maneira e deixe cozinhar por cerca de 30 minutos, mexendo sempre com a colher. A polenta estará pronta quando se desprender das paredes e do fundo da panela. Acrescente o queijo parmesão e misture bem até que ele derreta.
  3. Acomode a polenta em um prato, coloque o molho em cima e finalize com a cebolinha e salsinha picadas.
Sobre o autor

Sara

A dona da cozinha.

2 Comentários

  1. Post maravilhoso sobre esse filme tão sensível, você caminhou pela cozinha de Antonietta, pôs sentimento no varal e que diálogo introdutório. Que rir nos seja sempre doce! Ou pelo menos quente e amoroso como essa polenta!

  2. Sara sempre com textos e filmes lindos. <3 Esse eu não conhecia, vou atrás! E eu estava querendo uma receita de polenta mesmo. 🙂

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