Ele se lembra dos anos passados como se olhasse uma janela embaçada.
O passado é uma coisa que ele vê, mas não toca.
E tudo que ele vê é borrado e indistinto.”
Falar de Wong Kar-wai no post inicial do blog foi um desejo meu desde que surgiu a ideia de fazer esse espaço há alguns meses. Por ser uma admiradora do trabalho do diretor (leia-se: FANÁTICA), me encanta poder discursar sobre o filme que mais me toca em todos os sentidos, assim como, reproduzir uma receita tipicamente oriental. O filme é ambientado em meados dos anos 60 na China. Onde já se pode observar uma superpopulação surgindo, era um costume da época morar em pequenas ‘pensões’, onde a cozinha era um ambiente de encontros e conversas do cotidiano, assim como, as intermináveis partidas de Mahjong. Afinidades e descobertas. É assim que vejo o que se passa no filme. Um jornalista (o magnífico Tony Leung) e uma secretária (minha eterna diva Maggie Cheung) acabam sendo vizinhos de porta e descobrem com o passar do tempo muitas coisas em comum. Tanto o gosto pelas histórias, quanto por estarem sempre sozinhos mesmo ambos sendo casados. O filme é um desfilar de belas imagens, cores incríveis (a direção de fotografia é de Cris Doyle), silêncios que dizem muito e uma trilha sonora impagável.
O que fazer quando se descobre que se está sendo traído, mas mesmo assim, apesar de todo desgosto (e vontade) não se sabe fazer o mesmo? Não há nesses dois uma sede de vingança, nem de acabar com tudo. Eles simplesmente vivem…e cada vez mais unidos em uma dor que só eles mesmos podem compreender.
Temos muitas cenas que envolvem ‘comida’ em todo o filme, como o ritual de ir comprar macarrão ou sopa de wontons no restaurante que fica no final de uma escadaria intrigante. Eles ali se cruzam inúmeras vezes, cada um com sua solidão. Nesses momentos que a incrível direção de Kar-wai se revela, onde não é preciso diálogo. Não é preciso falar nada. Um olhar, um silêncio, uma chuva que cai.
Em mais uma das incríveis cenas eles saem para jantar juntos em um restaurante. Inclusive, esse restaurante em Hong Kong tem até hoje um painel acima da mesa que foi cenário no filme. Vejam:
Nesse jantar um escolhe o prato do outro, com base em o que o cônjuge escolheria. Engraçado como as pessoas tem uma curiosidade em saber como é ”a outra” que atraiu o seu companheiro e que causou a traição.
In The Mood for Love é mais que um drama comum. Ele é um filme para ser assistido, apreciado aos poucos e visto mais outras milhares de vezes.
E o que fazer quando se passa a sentir um amor incomum ?
Antigamente, se alguém tinha um segredo que não queria contar a ninguém
ia a uma montanha, achava uma árvore, fazia um buraco nela
e sussurrava o segredo no buraco.
Depois cobria o buraco com barro e o segredo ficava lá para sempre.”
Depois tudo continua em ”2046”…
Wontons são conhecidos também pelo mundo como “Dumplings” ou ainda “Gyoza”. A massa é praticamente a mesma em todas as modalidades, o que muda, pela minha análise, são as modelagens dadas e os recheios utilizados. Fui em busca da receita original dos ‘wontons’ que costumam ser tomados com sopa ou ainda servidos como entrada.
Foi difícil encontrar ”a receita” da massa, já que, costuma-se utilizar massa industrializada, como a nossa de pastel, que são geralmente vendidas em lojas de artigos orientais. Depois de muita pesquisa acabei caindo em um blog chamado The cooking of joy, escrito por uma garota de origens orientais que mora nos Estados Unidos. Foi lá que encontrei como fazer a massa. Vamos a ela então?
Wontons
O que você vai precisar?
- Para massa:
- 03 xícaras de farinha de trigo
- 01 xícara de água fervente (muito importante ela estar nessa temperatura para que possa ao mesmo tempo cozer um pouco da massa e também desenvolver o glúten)
- 04 colheres de sopa de água fria
- Sal a gosto (eu coloquei uma colher rasa de café)
- Para o recheio:
- 250 gr. de lombo de porco moído
- 4 a 5 cebolinhas japonesas cortadas finamente (eu não encontrei as japonesas, acabei por colocar cebolinhas normais, mas as mais finas que achei nos molhos disponíveis na feira)
- 1 colher de sopa de Óleo de Gergelim
- 4 folhas de repolho (ou acelga)
- 1 colher de sopa de gengibre fresco ralado
- 3 dentes de alho picados bem miudinhos ou esmagados
Como Fazer?
- Coloque a farinha peneirada e o sal numa tigela. Em seguida despeje a água fervendo, muito cuidado nessa hora para não se queimar. Vá mexendo com um garfo (ou hashis) e adicione a água fria. Nesse momento vá misturando com as pontas dos dedos a massa que já estará esfriando, amasse até obter uma consistência homogênea e sove a massa por 5 minutos. É muito importante esse passo, pois é o que vai incentivar ela a ficar bem elástica e resistente para que possamos moldar os bolinhos sem que eles rasguem e consigamos fazer as dobras sem grandes problemas. Deixe a massa descansar com um pano de prato em cima por uns 20 minutos. Você vai saber se está bom quando apertar o dedo nela e a massa voltar.
- Enquanto espera o descanso da massa, vamos ao recheio… Coloque as folhas de repolho para dar um ‘susto’ num recipiente com água quente. Em seguida passe no processador para ficar bem miudinho. Processe também a carne de porco. Caso você não tenha um processador, pique com a faca até obter pedaços bem pequenos de carne. Corte as cebolinhas (eu prefiro usar a tesoura para que elas não fiquem ‘esmagadas) Amasse o alho. Rale o gengibre Coloque a carne, o repolho, a cebolinha, o alho, o sal, o gengibre ralado e o óleo de gergelim numa travessa e misture tudo até ficar uniforme. Reserve na geladeira até a hora de usar.
- Montando: Pegue a massa que está lá descansando alegremente e corte em pedaços de mais ou menos 4 cm. Faça bolinhas desses pedaços. Com o rolo de esticar massa, vá abrindo os círculos e atente para que as bordas fiquem mais finas que o centro, isso vai te ajudar na hora de fechá-los. Coloque uma colher de recheio no meio de cada círculo aberto e feche. (veja no vídeo abaixo como fazer essa parte). Confesso que os primeiros não ficaram tão ”lindos” mas a coisa toda vai se aperfeiçoando no andamento do processo. Lá pelo 6º bolinho você vê que está pegando o jeito.
- Por fim, acomode algumas folhas de repolho na panela de vapor (no meu caso usei uma que veio no conjunto das minhas panelas, mas o ideal seria numa panela de bambu), coloque os wontons em cima das folhas e deixe cozinhar no vapor por uns 15 minutos.
- Sirva com um molho feito com shoyu, suco de limão, gotas de óleo de gergelim e gengibre ralado. Bom apetite!
Amiga, estou encantada. É o melhor texto que já li sobre o filme. E a mais detalhada receita de wontons que eu poderia esperar – descrito desse jeito até eu consigo fazer. Sou fã da versão japonesa da massa, o guiozá, mas com estas imagens, fica difícil não querer um pouquinho do wonton legítimo, o mesmo que tony e maggie provaram no filme. Parabéns e já estou ansiosa pelo próximo post.
Sara, amei sua crítica, quase que uma ode ao filme! Mais ainda, me inspirei para uma nova investida culinária e, assim que possível, vou fazer e te mando fotos. Achei ótimo seu blog e vou estar sempre por aqui dando uma espiadela… beijos
Sara, Sarinha
Fico muito feliz do nascimento desse seu novo blog. Ficou lindo, lindo, lindo!
Te desejo muito sucesso. Já virei fã e vc sabe disso.
Um grande beijo,
Carla Maicá
Sarucha!!!1 é muito bom estar em contato com teu “gênio pensante”. Acho barbaro teus comentários e como tudo fica mais fácil e leve quano tu dá a receita. Obrigada por estar por perto….na realidade, tudo fica mais fácil. Inclusive a vida 🙂
p.s: amiga babona!!!!!!
Adoro wontons!!! Vou tentar fazer!!! E o filme? Vou ver tb!!!
ôo Dani querida, obrigada pelas palavras!
Adorei seu blog novo, vou visitar sempre!!! 🙂
Boa sorte e inspirações!
Beijão!
Genial a tua ideia… e pode me convidar para comer os bolinhos!
Beijão pra ti, saudades!
Parabéns pelo blog novo Sara! Tenho certeza que vai ser um sucesso!
Sarinha parabéns pelo blog.
Adorei!
E essa receita é tudo de bom hein?
Deixa eu te perguntar, vi que teu processador não destruiu a carne coisa que acontece com a maioria, qual a marca dele? Quero comprar um e estou em dúvida.
Beijos,
Fla
OI Juliana, obrigada pela visita!
Passo sempre no seu blog também, adoro.
Bjs!
Sara, o blog está lindo! Se tem paixão já deu certo!!!!!!
Adorei o blog!! Achei a ideia de unir filme e comida ótimas.
Amo esse filme e o 2046, e quando me inspirar vou fazer a receita.
Beijocas
ADORO os filmes e a comida rs
Saudade de ti queridona. O blog ficou ótimo! Parabéns 🙂
beijo
[…] o que se quer e o que se pensa, sem ao menos tocar um ao outro. Isso me lembrou muito Kar-wai em “In the mood for love”. Delicadeza: é isso que poderia definir o novo filme da diretora canadense. O filme fala de […]
Olá Sara,
Parabéns pelo seu site, ele é ótimo! Descobri seu trabalho porque uma visitante do meu site me perguntou como se fazia a massa de wonton. Daí achei esse post fantástico!
Muito obrigado por compartilhar.
Aproveitei também para colocar seu site na lista de sites recomendados para meus visitantes. 🙂
Abraços!
Fabrício
[…] em In the Mood for love (de Wong Kar-Wai) temos aquele amor que nunca se consuma, mas que existe nas entrelinhas e gestos. No filme de Park, […]