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Nonnas & Molho de Domingo

“‘A tavola non s’invecchia’: À mesa não se envelhece”

Lançado agora em maio na Netflix, o filme Nonnas parecia me chamar pelo nome. Um convite direto ao coração: envolvendo comida italiana, memória afetiva e uma história baseada em fatos reais. E eu, claro, fui.

Vince Vaughn interpreta Joe, um homem de meia-idade que acaba de perder a mãe. Logo no início do filme, somos transportados para suas lembranças de infância. Aquelas cenas que têm gosto de pão quentinho: um gurizinho simpático indo até a padaria para buscar “zeppoles” e pão italiano. Logo depois, a cozinha da casa, sagrada aos domingos, ganha vida com a mãe e a avó preparando macarrão caseiro, molho de tomate com manjericão, mesas fartas, música italiana ao fundo e muitos abraços. Um retrato de aconchego puro.

Joe hoje trabalha no setor automotivo e leva uma vida meio automática: casa e trabalho, trabalho e casa. Seu melhor amigo de infância, Bruno (vivido por Joe Manganiello), casado com Stella (Drea de Matteo, nossa eterna Wendy de Sons of Anarchy), tenta convencê-lo a dar um novo rumo à vida usando o dinheiro do seguro da mãe. Poderia trocar os móveis, quitar a hipoteca ou, quem sabe, fazer algo que o deixasse verdadeiramente feliz.

Joe então decide visitar Manhattan, mais precisamente uma feira local que costumava frequentar com a mãe e a avó. É nesse passeio que ele se depara com um antigo restaurante fechado, à venda. Um estalo. Um plano. Um sonho.

A ideia? Abrir um restaurante italiano. Mas não qualquer restaurante. Um espaço onde quem comanda a cozinha são nonnas, avós italianas de verdade, com suas receitas de família, suas histórias, seus temperos. É impossível não se emocionar com esse conceito. É alimento para a alma.

E aí começa uma jornada deliciosa de amizade, coragem, companheirismo e leveza. A leveza, aliás, é uma das maiores lições que o personagem de Joe carrega. Mesmo com todas as perdas e obstáculos, ele insiste em manter a vida leve, como quem sabe que as coisas se ajeitam, que o tempo tem sua própria receita.

O ponto alto do filme? As quatro nonnas incríveis que ele recruta para trabalhar com ele. Cada uma com seu jeito, seu tempero e sua história para contar. Elas abraçam forte, cozinham como quem canta e resgatam memórias que talvez o próprio Joe nem lembrasse que tinha. Há também um amor de adolescência que volta como brinde, e mais lágrimas e risos ao longo do caminho.

Vince Vaughn está excelente no papel. Ele nos lembra que o mundo ainda vale a pena, que pedir desculpas é bonito e necessário, e que cozinhar, no fim das contas, é mais do que preparar alimentos, é um gesto de cuidado, um jeito de amar os outros.

Nonnas é daqueles filmes que fazem a gente querer correr para a cozinha, colocar um avental, abrir uma garrafa de vinho e cozinhar algo que abrace quem a gente ama. Como já dizia Mia Couto:

“Cozinhar não é um serviço. Cozinhar é um modo de amar os outros.”

Não tem como não fazer a receita do molho de domingo retratada no filme, cheia de pequenos segredinhos. Foi um dos melhores molhos que já comi na vida. Vale muito a pena!

Molho de Domingo

  • 2 maçãs vermelhas
  • 7 xic. de água
  • 350 g de linguiça (toscana)
  • 2 colheres de sopa de azeite de oliva
  • 1 cebola grande picada
  • 2 dentes de alho picados
  • 1 pimentão verde pequeno picado
  • 2 latas de tomates pelados inteiros
  • 1 colher de sopa de manjericao fresco ou seco
  • 1 colher de sopa de orégano fresco ou seco
  • 1/4 colher de chá de pimenta do reino
  • 1/4 xic. de salsinha
  • 1 colher de chá de sal

Modo de Fazer:

Em uma panela grande, maçãs picadas, sem sementes e a água. Fogo médio e paciência: deixa ali por cerca de 1 hora, até que elas fiquem bem macias e a cidra natural tome forma, perfumada e doce no ponto certo. Depois é só coar com uma peneira fininha ou um pano de prato limpo. As maçãs você pode descartar.

Enquanto isso, numa frigideira quente, doure as linguiças. Dá aquela cor bonita, tire o excesso de gordura e reserva.

Em uma panela grande ou uma panela e bem grossa (de ferro ou inox), coloque um fio de azeite de oliva, a cebola picada e o pimentão. Vá mexendo devagar, com calma, até que tudo fique bem macio e a cebola fique transparente – leva uns 5 minutinhos. Entra o alho, só por 1 minuto, só pra perfumar.

Coloque então os tomates pelado  e a cidra de maçã caseira que você fez no começo. Mistura. Tempere com manjericão, orégano, pimenta-do-reino, sal e salsinha.

As linguiças? Corte em pedaços generosos e joga tudo dentro da panela. O fogo vai lá pra baixo agora. Tampe a panela (ou não, se quiser reduzir mais o molho) e deixa cozinhar por 2 a 3 horas. Sim, é daquelas receitas que ficam melhores com o tempo. Dá uma mexidinha de vez em quando e deixa o cheiro tomar conta da casa.

Na hora de servir, capricha no macarrão da sua escolha. Despeje esse molho por cima como quem serve um pedaço de memória afetiva.

Um prato simples, mas com alma. Daqueles que a gente faz num domingo preguiçoso, com música na cozinha e um vinho aberto ao lado.

Jody Scaravella em seu restaurate <3

SobreSara

A dona da cozinha.

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