Sensates são pessoas capazes de compartilhar sensações dentro do seu grupo ao ponto de até tomar o controle do corpo do outro e de se comunicar telepaticamente. Eles revivem lembranças de um jeito muito intenso e, assistindo as vidas do grupo protagonista da série, nós também:
- uma ativista trans;
- um criminoso;
- uma farmacêutica indiana;
- um policial;
- uma executiva sul-coreana;
- um ator mexicano;
- uma DJ islandesa vivendo em Londres;
- um motorista queniano.
Com uma proposta parecida mas menos arrogante do que a de Cloud Atlas, também dos Wachowski, e talvez por isso mais bem sucedida, Sense8 consegue mostrar seus 8 núcleos e nos deixar interessados por todos: do mais tenso, em que se planeja um assalto, ao mais trivial, com os preparativos de um casamento. Ainda que a mão dos roteiristas pese nos diálogos, que soam forçados e, às vezes, até irritantes; e em algumas situações, como quando não basta um monte de enfermeiros para segurar uma mulher indefesa, o maior deles ainda precisa estalar o pescoço; os protagonistas são tratados com um respeito quase solene.
Um personagem gay não é alívio cômico; a personagem trans não está lá só por estar… Todos tem diversos momentos para explorar: ação, drama, sexo, dúvidas, alegria. E todos têm personalidades distintas, apesar de serem, de uma forma ou outra, donos de uma nobreza, certa bondade. E o respeito com que seus mundos são mostrados é ainda mais cativante. A cultura mexicana é mostrada com sua devoção à tevê cheia de over acting e drama. A cultura indiana, com seu amor por cores e dança. Se não fosse por todos os diferentes idiomas falados pelos personagens serem ouvidos em inglês, pareceria mais um produção terráquea do que estadunidense.
Aproveitando que a Netflix não depende dos humores dos anunciantes nem está (ainda) sob o escrutínio dos puritanos, a série não só ri dos pudores da tevê, mostrando uma bolsa de colonoscopia e um absorvente interno sujo ou os detalhes melequentos e “expansivos” de um parto, como aborda morte, preconceito, sexismo, pobreza, amizade, sexo e família de maneira explícita porém respeitosa.
A ousadia no conteúdo supera qualquer falta de ousadia na forma. Há várias possibilidades para raccords que poderiam ter sido mais elaborados e a quebra o conceito de cena, por aconteceram em mais de um lugar ao mesmo tempo, é interessante, mas obrigatória. Só que Sense8 é uma ficção científica sobre emoções e, do jeito mais Star Trek possível, cheia de um otimismo tão escasso nos últimos tempos, em que o mal é o destaque em quase toda obra. Aqui, quase sempre o mal é mau e o bem é bom, como acontecia em filmes dos anos oitenta. Cheia de mensagens, que podem ser mais sutis, como o valor da colaboração acima da competição, ou mais descaradas, como o aprimoramento proporcionado pela variedade, que chega a sair da boca de uma personagem, ela nos convence de não importa quão ruim está a situação, se deixamos o egoísmo de lado prevaleceremos.
Ainda que não a produção mais redonda da Netflix, Sense8 é, pelos limites expandidos, marcante. E um dos mais belos manifestos pela união da diversidade.
(Robson Sobral)
Trailer:
A receita que acompanha o post de hoje é feita pela Priscila, do Culinarístico! Ela juntou o post do Robson, que nada mais é que a pessoa que divide a diversão de assistir as séries com ela, com uma das lembranças gustativas de infância da personagem Riley.
Pönnukökur ou Panquecas Islandesas
Ingredientes
- 1 xícara de chá de farinha de trigo
- 2 colheres de sopa de açúcar
- 1 colher de chá de sal
- 1 colher de chá de fermento em pó
- 2 ovos
- 1/2 colher de chá baunilha
- 1/2 xícara de iogurte natural sem açúcar
- 1 3/4 xícaras de chá de leite
- 1/2 colher de chá de canela (opcional)
Como fazer?
- Misture os ingredientes secos em uma tigela. Em outra tigela bata bem os ovos até que fiquem cremosos, adicione o leite, o iogurte, a baunilha e misture bem. Adicione aos poucos os ingredientes líquidos nos secos misturando até formar uma massa fina. Deixe a massa descansar por 30 minutos. Unte uma frigideira com um pouquinho de manteiga e aqueça-a. Coloque a porção de uma concha de feijão pequena de massa na frigideira e deixe dourar dos dois lados. faça uma massa bem fina, como crepe.
- Sirva com geleia e chantili eu servi com creme de leite.
Essas panquecas me deixaram com agua na boca!
Amei!
1. Pra mim Cloud Atlas é ainda mais interessante e ousado (e complicado). Por isso talvez um monte de gente não gosta.
2. Eu acho justamente o raccord (ligação de planos na edição) a tecnologia narrativa mais impactante dessa série. E fiquei pasmo com as possibilidades e a execução. O que é aquele corte quando o Wolfgand está no memorial em Berlim? Sem falar que o diretor de fotografia deu um show em fazer muitas cenas em externas parecerem uma coisa só. Isso é extremamente complicado.
3. O uso da música. Pra mim aqui está a maior ousadia, pois ao que me parece, os diretores usam música pra 1- preparar audiência para um ponto chave que vai disparar emoções; 2- Pontuar a narrativa do filme e botar vários planos legais. No sense 8 eles vão além, música é tudo isso e mais – é cenário.
Enfim, dá pra falar tanta coisa dessa série que seria chato escrever tanto
Cara, eu gosto muito de Cloud Atlas, mas que é arrogante, é. Isso de discutir o “sentido da vida” é sempre arrogante. Acho que The Fountain deu mais certo nisso (do que a Bíblia [rs]).
Confesso que nem lembro de em que momentos esperava mais de um raccord.
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Ah, discordo de você seriamente. Nunca é chato, não! 😉