Os filmes do diretor chines Wong Kar-Wai têm sempre algum envolvimento com a comida. Seja em cenas passadas em restaurantes ou em um quarto de hotel, até o próprio título de algum filme que tem o ingrediente de uma torta que é mais que protagonista no longa.
Em uma entrevista, Kar-Wai conta que o filme “In the mood for love” iria se chamar incialmente: “Story about food” – seriam 3 histórias em um filme só, no fim acabou optando por falar só de uma, e ela trataria de duas pessoas comprando noodles em um restaurante, sendo vizinhos em uma pensão.
O modo como comem, como se comportam durante as refeições, também é uma característica nos filmes. Sempre quer dizer algo.
Em Fallen Angels há uma relação muito clara com a comida. Em todos os momentos de reflexão ou solidão, no canto da tela, os personagens estão envolvidos com algum tipo de comida. Talvez ele quisesse passar uma ideia de conforto. Ele já falou em outras entrevistas que esse estilo de filmar e focar os atores nos cantos da imagem são exatamente para dar aquela impressão de solidão (e que dá).
Jantar fora no meio de um restaurante tumultuado era motivo para não ver mais nada além daquela pessoa pela qual você se apaixonou. E não é?
Chungking Express é um elogio à comida. A atendente de lanchonete que se apaixona pelo cliente, um policial que vem todos os dias comprar comida. Como não pensar que a comida aproxima as pessoas?
Nesse mesmo filme, ele retoma a solidão, enquadrando as personagens no canto da tela, mostrando-se pensativos, como nosso querido Takeshi Kaneshiro, enquanto come um hambúrguer do MC Donalds. Não sei se isso foi uma crítica aos fast-foods, mas tudo com a personagem era rápido, fast, efêmero. Pegaram?
Ao mesmo tempo, temos uma moça muito apaixonada, que confunde pedidos, que conversa com as comidas, enquanto pensa e fala sobre seu amor platônico.
“Se o amor tem um prazo de validade, então que dure dez mil anos. …”
Em 2046 (que seria a continuação de In the mood for love) temos muitas cenas envolvendo comidas e restaurantes. A comida simboliza desde a união e descontração com os amigos em um local, ou a solidão de comer um pote de macarrão sozinho em casa.
Quem sabe a conquista de um novo amor levando para jantar…
Em My Blueberry Nights o título já faz uma menção à comida. Blueberry. A torta com tais frutinhas era a única que seguia intacta todos os dias até o final do expediente. E será que isso simbolizava o quê? Vejam o filme. 🙂
Todo mundo queria chegar em um café e papear com Norah Jones e Jude Law, né não?
Croissants de fundo e um recinto aconchegante. O café de Jeremy, onde ele colecionava chaves de pessoas que tinham terminado relações e estavam ali, em uma espera sem fim, que alguém se arrependesse e viesse buscá-las.
Focos na comida, como se fosse uma personagem a mais na trama. E é.
Happy Together. Os dois namorados que vão embora pra Buenos Aires em busca de emprego, trabalham em bares e restaurantes.
A comida tem uma laço muito forte com as relações. Um se preocupa o que o outro vai comer – leva o jantar pra casa – ou ainda conhece um grande amigo no ambiente da cozinha.
A cena de dança mais linda que alguém já pôde filmar dentro de uma cozinha feia (apesar que achei o chão lindo). Você só olha aqueles dois amores dançando e o tango tocando. A cozinha é algo íntimo, é onde a gente deixa entrar os que a gente mais gosta. Não há falsidades na cozinha de casa.
Em The Grandmaster temos várias cenas envolvendo a comida. Momentos até decisivos que as refeições servem de coadjuvantes. Assim é Kar-Wai, envolvente e absoluto.
Bora comer noodles e dançar no meio da cozinha?
Mais pra frente irei postar os filmes que ainda não estão por aqui, desse mestre da direção e sensibilidade que é Wong Kar-Wai. E foi um filme dele que fez com que eu tivesse a ideia do blog. Nem digo mais nada. <3
banquete para alma e para os sentidos – o post, o filme, os sabores fartos que nos fazem salivar. Muito amor!