Drama

  • Drama,  Salgados

    Amour & Brócolis ao Forno

    Michael Haneke mora no meu coração. O diretor austríaco sempre foi conhecido por seus filmes um tanto quanto psicológicos e com histórias complexas. Ele sempre deixa uma coisa no ar, fazendo com que o espectador tire suas próprias conclusões. Haneke lança os dados e não explica. Ele apenas instiga o mais profundo pensamento de análise e crítica da vida.

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    – Tem muitas histórias que ainda não te contei.
    – Não me diga que irá arruinar sua imagem nessa idade?
    – Não aposte nisso.
    – E como é minha imagem?
    – Às vezes, você é um monstro.
    – Mas muito gentil.

    Foi surpreendente para mim ao assistir Amour, o novo filme dele, vencedor de nada mais que a Palma de Ouro em Cannes (e mais outros diversos prêmios mundiais – como no último domingo levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro), pois é um filme claro. Absolutamente sem metáforas. O filme é cru, real, estático e maravilhoso.

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    A história mostra a vida pacata de um casal francês, já em idade avançada, filmando o dia a dia desses dois ex-professores de piano. Georges (E Jean-Louis Trintignant) e Anna (Emmanuelle Riva – de Hiroshima mon amour) em seu cotidiano mais simples, jantam, almoçam juntos, conversam sobre livros e notícias no jornal. Em uma manhã qualquer, estão os dois a tomar café da manhã quando Anna simplesmente entra em um estado parecido com um transe. Não há mudanças de expressão no rosto dela, ela não atende aos apelos do marido, esse já desesperado, molha a testa dela com uma toalha úmida e de repente ela volta a si. Foi nesse momento que uma obstrução silenciosa da carótida dela, a que levou a um derrame.

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    O filme segue com o desenvolver da doença, primeiro Anna fica com o lado direito paralisado, depois vai ocorrendo a degradação do corpo e mente, como é normal nesse tipo de enfermidade.
    George que por vezes tenta fingir que nada está acontecendo, ao mesmo tempo tenta confortar a mulher de todos os modos possíveis, sendo atencioso e preocupado. Ela, por sua vez, tenta levar a vida do modo mais normal possível para não deixar com que tudo vá por água abaixo.

    É um filme profundo e triste. Cenas que doem em nossos corações, como quando ele carrega ela em um abraço, quase uma dança, para fazer as coisas mais simples, do cotidiano, que nem nos damos conta que fazemos, pois é tudo tão no automático, que eu acho que só se dá conta de tudo que se faz, quando não se pode mais fazer isso sozinho.

    O filme começa pelo final. Então você passará o filme todo sabendo o que aconteceu, mas não sabendo como. Será que aquilo era mesmo o fim? O que será que realmente aconteceu? Ou seria para deixar-nos com uma sensação de total desesperança durante o decorrer da película?

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    Depois que o filme termina a sensação de que o amor é muito mais que apenas uma coisa bonitinha fica em sua mente por semanas. O amor é compaixão, companheirismo, respeito, auxílio, devoção. O amor verdadeiro é essa coisa que não vê limites quando se trata do bem estar do outro. O amor não tem interesses. O amor é redenção. Amour resume tudo que você já imaginou de bonito que pode existir entre duas pessoas. Pode ser doído, mas é até o fim.

    Dedico esse post a uma querida amiga que perdeu seu companheiro recentemente. E minha admiração por ela é como o amor que eles sempre terão: eterna.

    Para acompanhar o post, eu fiz um brócolis ao forno, porque brócolis é amor.

    BROCOLIS FORNO

    Brocolis ao forno

    Preparo: 30 min
    Serve: 2 porções

    Ingredients

    • 1 maço de brócolis
    • 3 dentes de alho
    • 1 cebola pequena picada
    • Azeite de oliva
    • Sal
    • Orégano
    • Pimenta do reino
    • Queijo parmesão 250 g de creme de ricota (pode usar requeijão ou cream cheese – o que vc mais gostar)
    • 250 g de creme de ricota (pode usar requeijão ou cream cheese – o que vc mais gostar)

    Modo de fazer

    1. Cozinhe os brócolis no vapor (eu costumo colocá-los em saquinhos plásticos próprios para microondas e cozinhá-los por cerca de 3 minutos). Em uma frigideira refogue a cebola e o alho no azeite. Quando estiverem dourados, acrescente os brócolis picados. Deixe cozinhar por mais uns 2 minutos, tempere com sal e pimenta do reino. Poderá montar o prato em um refratário só ou em 4 pequenos, assim servindo em porções individuais (que eu acho mais charmoso). Comece com os brócolis, adicione uma colher de sopa de creme de ricota, um punhado de queijo parmesão ralado e uma pitada de orégano. Forno por 15 minutinhos para dourar.
  • Drama,  Salgados

    Flores do Oriente & Frango Xadrez

    Já é público e notório que eu sou apaixonada pelo Cinema Asiático. Acho interessante como eles conseguem mostrar os sentimentos de maneira tão absolutamente incrível.

    E assim se fez no filme que falaremos hoje, do querido diretor chines Zhang Yimou, já conhecido por seus dois filmes mais famosos “O clã das adagas voadoras” e “Herói”. Flores do Oriente contou com a participação do incrível Christian Bale no elenco, acredito que para ter maior alcance mundial, pois geralmente não temos atores de outras nacionalidades em produções chinesas. O filme, baseado no livro de mesmo título da escritora Yan Gelling (que foi também a roteirista do filme), teve o maior custo de produção do cinema chines. Cerca de um milhão de dólares.

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    “No outono de 1937, tendo conquistado Xangai…
    os japoneses voltaram os olhos para a capital chinesa, Nanquim.
    Estabelecendo um capítulo negro na história da humanidade…
    mais de 200 mil pessoas perderam a vida…
    em uma impiedosa batalha pelo controle da cidade.
    Sob terríveis condições, pessoas comuns lutaram pela sobrevivência.”

    Bale é John Miller, um agente funerário que foi enviado a China para enterrar um padre em plena tomada do país pelo Japão. Ao chegar ao convento, encontra 13 meninas que ali estudavam. Adolescentes chinesas que estão agora a mercê do exército japonês. No início desse encontro John se monstra amistoso com as regalias, bebidas e conforto que o convento oferece. As coisas começam a se abalar quando um grupo de prostitutas, fugidas do prostíbulo da cidade, invadem o convento em busca de abrigo. As 12 belas mulheres e as meninas entram em alguns conflitos durante o período inicial do filme, pois temos meninas criadas sob uma religião e mulheres ‘da vida’ convivendo no mesmo espaço.

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    A guerra em si é mostrada com muita veracidade por Yimou. As sangrentas batalhas, onde os japoneses são mostrados na sua máxima crueldade são constantes. Até hoje há uma rixa entre os dois países por conta dessa guerra. O exército japonês não poupava ninguém, seja uma doce menina, uma mulher na rua ou qualquer passante. Todos eram eliminados, muitas vezes, com requintes de crueldade.

    A cada minuto passado, vamos nos emocionando com aquelas meninas tão frágeis e a saga desse homem, que estava ali apenas por acaso e que toma pra si a vida de todas essas pessoas em busca de uma fuga ou libertação. É interessantíssimo como é possível retratar a doação do ser humano em prol dos outros em um momento de tamanha tensão, como a guerra.

    Bale surpreende o expectador com uma atuação digna de um mestre, ao defender o convento e todos que ali estavam, tentando ser mais forte que toda a explosão da guerra e os traumas que isso iria deixar.

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    Confesso que fiquei com o coração na mão e muitas lágrimas nos olhos. Os filmes orientais tem esse dom, de nos emocionar, ensinar e fazer com que compreendamos melhor que a vida é muito mais que apenas uma porção de dinheiro ou pensar só em si mesmo. Se doar pelos outros, abraçar uma causa, defender-se de uma guerra (mesmo que metaforicamente) não é algo para qualquer um. Mas deveria ser.

    Frango Xadrez

    Preparo: 60 min
    Serve: 4

    Ingredientes

    • 500 g de peito de frango cortado em cubos
    • 2 cebolas em cubos
    • 1 pimentão verde em cubos 1 pimentão vermelho em cubos 1 pimentão amarelo em cubos
    • 200 g de champignon
    • 2 dentes de alho
    • 1/2 xic. de shoyu
    • Azeite de oliva (cerca de 2 colheres)
    • Sal a gosto
    • Pimentas pretas moídas 1 colher de sopa de maizena diluída em 1/2 xíc. de água
    • 1 colher de sopa de maizena diluída em 1/2 xíc. de água

    Modo de Fazer

    1. Em um panela aqueça o azeite de oliva e refogue o frango até ficar bem corado. Em seguida adicione o alho e a cebola. Deixe dar uma corada de leve, pois tudo tem que ficar crocante. Coloque os pimentões e por último os champignons. Tempere com o sal, a pimenta do reino e por fim regue com o shoyu. Deixe cozinhar por uns 5 minutos, mexendo no meio do tempo. Quando os vegetais estiverem cozidos, mas ainda al dente, coloque a maizena que foi diluída na água e mexa bem por mais 1 minuto. Terás então um caldo mais grosso e brilhante. Está pronto. Sirva com arroz branco ou com o acompanhamento que preferir.
  • Comédia,  Doces,  Drama,  Romance

    As vantagens de ser invisível & Milkshake de Baden Baden Golden

    Em “As vantagens de ser invisível”, filme de 2012, Charlie é um adolescente que está prestes a entrar em seu último ano do ensino médio. Um garoto tímido e com alguns traumas pessoais, como o suicídio do melhor amigo e a morte da tia que ele gostava tanto.

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    Este momento que você sabe que não é uma história triste.
    Você está vivo.
    Você se levanta e vê as luzes nos prédios e tudo que faz você se perguntar.
    E está ouvindo aquela música, naquele passeio, com as pessoas que mais ama neste mundo.
    E, neste momento, eu juro…
    nós somos infinitos.

    Ao contrário do que se pensa, esse filme não é apenas para o público adolescente. Você, adulto, como eu, vai acabar se identificando em muitas partes dele. Quem nunca se sentiu sozinho e encontrou de repente amigos que compartilham das mesmas filosofias e loucuras de vida que a sua? A partir desse momento a vida muda.

    O filme é baseado no livro homônimo de Stephen Chbosky que também dirige e é roteirista do filme. Acho que por isso temos uma obra super fiel ao livro, coisa que é bem difícil de acontecer.
    Voltando a história do filme, Charlie se sente solitário, já que, começa a estudar em uma escola nova.

    O bullying é grande e ele acaba ficando amigo de seu professor de Literatura, vivido por Paul Rudd. Há uma enorme identificação entre os dois, pois apesar de ser um aluno super quieto, o professor instiga o aluno a se comunicar, transformando isso em uma bela amizade e temos ali diálogos interessantíssimos no filme.

    Em uma partida de futebol americano, Charlie timidamente se aproxima de Patrick (quem dá vida a essa personagem é o excepcional jovem ator Ezra Miller, que já vimos – e nos surpreendemos – em “Precisamos falar sobre Kevin) e acaba conhecendo também Sam ( Emma Watson – de Harry Potter), a meia-irmã de Patrick, pela qual Charlie vai acabar se apaixonando perdidamente no decorrer do filme. Sam, por sua vez, faz o papel daquela garota que sempre se apaixona pelos homens errados e acabamos agraciados por esse trio de amigos, confidentes, companheiros e acima de tudo leais.

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    “Nós aceitamos o amor que achamos merecer.”

    O filme é produzido por John Malkovich, Lianne Halfon e Russell Smith e foi todo filma do em Pittsburgh, como realmente foi a vida do diretor, já que esse é um filme auto-biográfico.

    Logan Lerman, que interpreta Charlie, começa a descobrir todos os lados bons e ruins da vida, fora do casulo da solidão. O primeiro amor, beijo, porre, chapação. Mas também descobre como é bom se sentir amigo de alguém, ter alguém pra contar e ao mesmo tempo estar totalmente a disposição quando precisam da gente.

    Precisamos falar sobre Ezra Miller, fazendo um trocadilho com o filme de maior sucesso dele, pois ele rouba a cena. De coadjuvante, para mim, passa a ser o ator principal do filme. Um homossexual assumido, que namora escondido um dos jogadores do time da escola, um amigo de fé, uma criatura emblemática, engraçada, incrível. Aquela pessoa que todo mundo deveria ter uma do lado. Dramaticamente belo.

    O filme é romântico, profundo e sincero, como todos os filmes adolescentes tentaram ser e não conseguiram. Conta com uma trilha sonora ótima que vai desde Heroes do David Bowie até Asleep do The Smiths.

    Em uma das cenas mais significantes do filme, Sam prepara um milkshake para Charlie, e é com isso que ele brinda a sua entrada na vida nova, com amigos tão doidos quanto ele, mas que são tão amigos quanto qualquer amigo que se poderia ter.

    Sam…
    Você tem olhos castanhos tão lindos.
    Do tipo que merece se gabar. Entende?
    Está bem, Charlie. Vou preparar o milkshake.
    Que ótima palavra. Milkshake.

    Trailer:

    Então eu pedi a minha amiga Priscila Darre, do Culinarístico, que fizesse um Milkshake para acompanhar o filme de hoje. Não é um milkshake para crianças. É para adultos. Ele é feito com a nossa queridinha cerveja Baden Baden Golden que tem em sua composição canela, o que a deixa com um tom mais adocicado e delicioso. Combina muito com a cremosidade do sorvete, transformando a junção disso um verdadeiro suco dos deuses. Vamos a receita da Pri?

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    Milkshake de Baden Baden Golden

    Preparo: 15 mins
    Serve: 1

    Ingredientes

    • 3/4 de garrafa de Baden Baden Golden Calda para sorvete de café para enfeitar
    • 2 1/2 xícaras de sorvete de baunilha/creme
    • Calda para sorvete de café para enfeitar

    Modo de Fazer

    1. Coloque o sorvete no liquidificador e espere ficar mais cremoso, em seguida adicione a cerveja e bata. Se ficar muito liquido adicione mais sorvete. Enfeite o copo com calda de café pois combina perfeitamente com a canela da Golden!
  • Drama,  Romance

    Até a eternidade & Quiche sem Massa

    Guillaume Canet conseguiu juntar alguns grandes nomes do cinema francês da atualidade em “Les petits mouchoirs” (“Até a eternidade”, aqui no Brasil).

    O filme mostra a história de um grupo de amigos, que após o acidente de moto de um deles (inclusive uma cena muito bem feita, no começo do filme), sai para uma temporada de férias. Me lembrou um pouco “O primeiro ano do resto de nossas vidas” – vai mais ou menos naquela mesma vibração.

    “Você nos deu tanto. A todos nós.
    Eu não retribuí o bastante.
    Duvido que eu tenha retribuído o bastante, mas foi bom estar com você.
    Ser seu amigo. “

    Nessa ida para a casa de praia de Max (François Cluzet – o mesmo de “Intocáveis”), começam a ser revelados vários segredos e pequenas mentiras que uns contam ou tem com os outros.

    O filme vai se desenvolvendo de uma forma que você se apega aos personagens. Como se fossem seus próprios amigos, com suas dores, manias, verdades ou ilusões. Desde aquele amigo que é apaixonado pela ex-namorada e não desiste nunca, passando pela amiga que foge de qualquer compromisso mais sério, até aquele outro que tem suas manias e implica com tudo.

    Assim é “Até a eternidade”. Com uma trilha sonora incrível, com pinceladas dos anos 70, vamos compartilhando as inquietudes e loucuras que só podemos fazer quando estamos na presença de amigos. Ou achamos que podemos.

    O longa dirigido pelo já nosso conhecido em alguns filmes Guillaume Canet foi bastante criticado pelo seu roteiro simples. Ao meu ver, a verdade muitas vezes está na simplicidade. Como os grandes mestres do cinema asiático já o fizeram. Mostrar o cotidiano, o correr da vida, as vidas que chegam e as que se vão. Os amores perdidos, os novos amores que surgem, aquela antiga paixão que nunca vai embora. No fim de tudo o que fica é a amizade verdadeira, as lembranças boas e uma inspiração qualquer para algum futuro tranquilo.

    Se você tem meia dúzia de bons amigos vai gostar muito do filme, pois ele nos faz lembrar algumas das histórias que já passamos na vida.

    Trailer:

    Nada melhor que uma quiche para acompanhar um filme francês, né? Quiche sem massa, fiquei pensando que poderia faltar algo, mas foi excelente a idéia. Fica leve e saudável, para pessoas que estão evitando carboidratos na dieta é uma grande pedida.

    Quiche sem Massa

    Preparo: 60 min
    Rende: 2

    Ingredientes

    • 300 g. de cogumelos Paris fatiados
    • 1 cebola fatiada
    • 2 dentes de alho
    • 3 ovos
    • 1 caixa de creme de leite
    • 1 colher de chá de vinagre balsâmico.
    • Queijo parmesão ralado
    • Sal a gosto
    • Pimenta do reino a gosto
    • 2 colheres de manteiga sem sal

    Modo de Fazer

    1. Refogue a cebola na manteiga, adicione o alho e depois de dourados, acrescente os cogumelos e o vinagre balsâmico Deixe cozinhar por mais ou menos 2 minutos. Tempere com sal e pimenta. Aqueça o forno a 180º. Unte 4 ramequins pequenos (os meus tem 8.5 cm) com manteiga e polvilhe com queijo ralado. Coloque o recheio de cogumelos. Em um outro recipiente bata os ovos, junte o creme de leite, a noz-moscada ralada, sal e a pimenta. Agora despeje por cima dos cogumelos um pouco desse creme de ovos, salpique com queijo parmesão em cima e leve ao forno por mais ou menos 20 minutos. Sirva morno com uma salada de folhas de sua preferência.
  • Drama,  Romance,  Salgados

    A un metro de ti & Escondidinho com Purê de Couve-flor

    “A un metro de ti” é um filme chileno de 2007. Temos aqui o ator Fele Martínez já mais velho (o eterno Oto de “Os amantes do círculo polar”, de Julio Medem, que também vimos dirigido por Almodóvar em “Má educação” e “Fale com ela”), é muito bom vê-lo amadurecido e cada vez mais competente atuando. Comecei a assistir esse filme sem nenhuma pretensão culinária, muito menos sentimental. Nos primeiros 10 minutos já estava completamente conquistada pela história.

    A cozinha popular é a base de tudo.
    Esta é a nossa história.
    Um país pode ser entendido por sua comida, suas misturas.
    O que seria da omelete espanhola sem a batata chilena?
    Estes chefes de revista que repetem receitas estragam tudo.
    Como podem querer que exista apenas um molho à bolonhesa?
    Se deve haver um em cada casa bolonhesa.
    Se realmente for de lá mesmo.
    E além do mais todos cozinham de maneira diferente.
    Por que cozinho com a alma e nunca estamos do mesmo jeito.
    Nenhum dos meus pratos saem iguais.
    Depende de como eu me sinto.

    O filme inicia no dia da inauguração do metrô de Santiago. Duas crianças se perdem dos pais. O rapaz que trabalha no administrativo do trem resolve tirar uma foto delas pra imortalizar o momento: as primeiras crianças que se perderam na estação. Essa foto acaba nos jornais. E é esse recorte que Sebastián guarda com ele até hoje. Ele era o menino da foto.
    No momento atual, Sebastián é um cozinheiro, ele comanda um restaurante pequeno e agradável no centro da cidade, que carece de lugares assim, como a casa da gente. Achei sensacional o nome do lugar: “Alioli” (alho & óleo) – não é uma queridice?

    Sebastián prima pela comida honesta, caseira, saborosa. O restaurante serve um prato do dia,conforme há disponibilidade no mercado e o valor que se tem em caixa. As coisas não vão muito bem.
    A namorada e sócia dele é uma chef de cozinha que trabalha no ramo de Hotelaria. Existe um abismo entre os dois, talvez pelos ideais serem opostos, ele com a cozinha caseira, ela com a industrial.

    Em um belo dia, ele está indo jantar na casa dela, dentro da bolsa carrega uma garrafa de azeite que o pai lhe mandou da Espanha. Era um presente pra ela. Uma moça deveras abalada esbarra nele no meio do metro, a bolsa cai e a garrafa quebra. Gentilmente, ele pergunta se ela está bem. Ela começa a chorar, porque naquele dia perdeu o emprego e a vida dela está um caos. Nesse momento ele entrega a ela um panfleto do restaurante e a convida para aparecer qualquer dia, para almoçar por conta da casa.

    Minha vida está muito complicada.
    E não quero complicar a vida de ninguém.
    Isto é igual a andar de metro.
    Se sempre faz o mesmo trajeto não sabe onde se perde.
    Eu quero dar um tempo e saber que linha devo tomar.

    Nos próximos dias ela acaba indo ao centro e vai almoçar com uma amiga no simpático restaurante. Começa ali uma amizade que vai levando a outra coisa. Ele convida ela para trabalhar ali, pois odeia a parte burocrática do negócio. Ela aceita. Ela se separa. Ele já está com um relacionamento abalado. E assim continua a história das duas crianças que se perderam na estação do trem.

    Não entendo o sol de agosto em seus pés,
    não entendo os olhares para trás.
    Se quando nos cruzamos ao voltar…
    Estamos cada vez mais próximos do amor.
    Não entendo as migalhas sobre a mesa.
    Não entendo as distâncias do querer.
    Se quando parecemos distantes…
    estamos cada vez mais próximos do amor.
    E cada vez mais perto…

    Para o filme de hoje eu fiz um Escondidinho de carne com purê de couve-flor. É aquela coisa do filme: vá para cozinha e prepare algo com o que você tem no dia. Era o que eu tinha e acabou saindo uma refeição no maior estilo comfort food. Se você nunca fez purê de couve-flor, vai se encantar com o sabor suave que ele tem. Combina muito com tudo e ainda por cima é super saudável. Vamos lá?

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    Escondidinho de Carne com Purê de Couve-flor

    Preparo: 40 min
    Serve: 2

    Ingredientes

    • 1/2 couve-flor
    • 3 colheres de sopa de creme de leite
    • 1/2 cebola pequena picadinha
    • 1 dente de alho
    • Sal a gosto
    • Noz moscada
    • 300 gr. de carne de sua preferência (usei alcatra)
    • 1 xíc. de água fervente
    • 2 colheres de azeite de oliva
    • 1/2 cebola picadinha
    • 1 dente de alho
    • 1/2 pimentão amarelo em finas tiras
    • 10 tomatinhos cereja
    • Sal a gosto Pimenta do reino a gosto
    • Salsinha picada Queijo parmesão ralado
    • Queijo parmesão ralado

    Modo de Fazer

    1. Primeiro faça a carne dourando bem em azeite de oliva. Quando estiver bem coradinha, coloque a cebola e o alho. Refogue por uns 2 minutos. Junte o tomate e a água e deixe cozinhar em fogo baixo até que a carne esteja bem molinha, quase desfiando (cerca de 20-30 minutos, dependendo da carne que usarás). Quando estiver no ponto, adicione os pimentões e deixe por mais alguns minutinhos. O caldo também já deve ter diminuído um pouco. Adicione a salsinha picada e reserve. Para você fazer o purê comece colocando em uma panela com água fervente a couve-flor, até que ela amoleça. Em uma frigideira pequena, doure o alho e a cebola. Escorra a couve-flor, deixe que esfrie por alguns minutos. Em um processador de alimentos (ou no liquidificador) coloque a couve-flor e triture até conseguir uma consistência cremosa. Adicione a cebola e o alho já refogados anteriormente. Agora é a vez do sal e o creme de leite. Bata mais umas vezes até que se transforme em um purê. Comece a montagem dos escondidinhos, pegue dois ramequins ou panelinhas pequenas (foi o que usei) e coloque a carne. Em seguida adicione o purê e finalize com o queijo ralado e noz moscada ralada. Leve ao forno pré-aquecido a 180º até que o queijo derreta. (cerca de 15 minutos)
  • Drama,  Salgados

    360 & Pastel de Palmito

    Fernando Meirelles para mim é sempre bom. Como não se emocionar no tão conhecido “O Jardineiro Fiel” e na adaptação ao cinema do livro do Saramago “Ensaio sobre a cegueira”? Em “360” temos uma adaptação da peça “La Ronde”, de Arthur Schnitzler.

    Só se vive uma vez. Quantas chances ainda temos?

    Uma mistura de várias histórias e personagens que acabam se chocando no meio da trama. Uma história circular. Alguns pensarão: ah, mas isso já é comum no cinema…porém, vos digo, não com a maestria da direção de Meirelles, que faz com que nada disso fique cansativo e confuso. E o roteiro incrível de Peter Morgan tem claramente, muita importância nisso. Fiquei a me lembrar de “Babel” do Iñárritu, mas achei 360 menos complexo e político que o filme do querido diretor mexicano.

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    Duas irmãs na Áustria que estão juntas em uma curiosa vida: a mais velha resolve se prostituir para conseguir dinheiro e sair da pobreza, enquando a mais nova só a acompanha, sempre lendo livros e demonstrando uma bondade e generosidade que nos encantam. O primeiro cliente de Mirka será o executivo vivido por Jude Law, que por sua vez é casado e mora em Londres com Rose (Rachel Weisz) que está tendo um caso com Rui, um fotógrafo brasileiro (interpretado pelo excelente Juliano Cazarré), que namora Laura (Maria Flor).

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    Laura ao descobrir a traição pega suas coisas e vai embora de volta ao Brasil. No avião conhece John (Anthony Hopkins) que está viajando em busca do paradeiro da filha desaparecida. Em uma das escalas ela acaba por se deparar com Tyler (Ben Foster) que em um papel ótimo, interpreta um ex-presidiário que esteve na cadeira por crimes sexuais. A cena do encontro dos dois é simplesmente incrível, alternando momentos que dá um pânico total e doçura, pelo medo dele não conseguir seguir na reabilitação e cometer algum crime contra Laura, que fica de ir jantar com John e simplesmente vai para o quarto de hotel com Tyler.

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    Com uma trilha sonora impecável o filme vai nos conduzindo e nos prendendo entre todas as histórias. Menção pra lá de honrosa ao Hopkins que está em um dos seus melhores papéis. Contou ele, em uma entrevista, que aquilo tudo foi um pouco da história dele. Em uma cena memorável da reunião do AA, há um monólogo digno de chorar e rir ao mesmo tempo.

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    As coisas ainda dão muitas voltas nas cenas em que temos o tão querido Jamel Debbouze (o eterno Lucien de O Fabuloso destino de Amelie Poulain) interpretando aqui um dentista muçulmano que se apaixona por sua assistente casada. Fica ele então em um impasse sobre a sua religião (que é totalmente contra o adultério) e o amor encantador que ele está a sentir por Valentina (Dinara Drukarova), que por sua vez é casada com um funcionário de um mafioso que contrata a prostituta Mirka para um programa em sua passagem pela cidade.

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    Sergei (Vladimir Vdovichenkov) faz um tipo caladão, que está tentando aprender inglês com aulas de cds e ao mesmo tempo se vê com um problema (que foi o pedido de divórcio da mulher) e sem poder resolver isso, sai para buscar o patrão no aeroporto. Enquanto espera o chefe do lado de fora do Hotel, acaba conhecendo a irmã de Mirka, com quem tem uma sintonia imediata e incrível. E agora, como será o desfecho de todas essas histórias? Ficou curioso? Veja o filme e depois me conte o que achou =).

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    Cruze os dedos por mim. Deseje-me sorte.
    Como eu desejo a você.
    Talvez um dia as bifurcações que pegamos…
    e aquelas outras tomadas antes das nossas,
    nos levem a juntar-nos outra vez…

    Trailer:

    O filme de hoje vai ser acompanhado por Pastel de Palmito. Em homenagem a brasilidade de Fernando Meirelles essa receita que é algo que praticamente só existe no Brasil, e confesso, é um dos meus pastéis preferidos sempre.

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    Pastel de Palmito

    Tempo Prep: 60 min
    Tempo Coz: 30 min
    Serve: 12-15 unidades

    Ingredientes

    • 1 pacote de massa para pastel
    • 1 vidro de palmito em rodelas
    • 1 cebola média picada
    • 1 tomate médio picado
    • 2 dentes de alho
    • 2 colheres de azeite de oliva
    • Sal a gosto Pimenta do reino a gosto
    • 1 colher de vinagre balsâmico
    • 1/2 xic. de água
    • 1 colh de chá de maizena
    • Salsinha picadinha a gosto
    • Queijo Catupiry
    • Óleo para fritar

    Modo de Preparo

    1. Aqueça o azeite e refogue a cebola e o alho. Quando estiverem dourados, acrescente o tomate e o palmito. Deixe refogar em fogo baixo. Agora adicione o vinagre, o sal, a pimenta e mexa cuidadosamente para não destruir os palmitos. Em seguida, misture a maizena na água até dissolver bem e adicione a panela. Mexa tudo até formar um leve caldo grosso, que unirá os itens do recheio. Coloque a salsinha e deixe esfriar.
    2. Coloque um pouco de catupiry em cada massa de pastel, adicione uma colher de sopa de recheio e feche.
    3. Frite em óleo quente, escorra no papel toalha e agora é só servir.
  • Doces,  Drama,  Filmes

    A Partida & Arroz Doce Com Cerejas

    A insustentável leveza das partidas

    A Partida (Okuribito, 2008) é o filme japonês a receber um Oscar em 2009. E o texto começa a partir desta informação não por que os prêmios da academia sejam parâmetro de qualidade no universo das pessoas que fazem este blog – ela compartimenta o mundo inteiro (fora dos EUA) na categoria de cinema estrangeiro e os vencedores costumam ser filmes realizados em países de maioria caucasiana, fatos que, por si, são um atestado de etnocentrismo. Mas, sim, foi a premiação que me fez tomar conhecimento dele.

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    Como participava de um bolão, assisti à cerimônia pela TV e fiquei surpresa ao ver o azarão japonês desbancar a favoritíssima animação israelense Waltz with Bashir – uma bela esquivada americana, não premiando um filme com implicações políticas evidentes. Contradições à parte, Okuribito é um filme que merece ser reconhecido e certamente será apreciado por grandes plateias pois tem todos os elementos que fazem um bom melodrama. Uma bela canção incidental, que por vezes dá “voz” ao sentimento do personagem central, atores sensíveis e expressivos e uma direção que prima pelo intimismo.

    A câmera se coloca como o olho do observador, numa perspectiva que nos faz sentir comodamente sentados naquele canto da sala em que podemos conhecer o entorno das personagens e a intimidade de suas casas. Assistimo onde e o quê comem, os detalhes da porcelana sobre a mesa, onde dormem e se banham, os objetos em sua escrivaninha, os vasos de plantas estrategicamente espalhados, o lugar em que assistem TV e, principalmente, suas ante-salas, fechadas para os rituais restritos aos pequenos círculos de amigos e familiares.

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    Para falar da estranheza da morte numa cultura que a repele, o diretor Yojiro Takita ritualiza a preparação dos mortos para os funerais, nos ensinando a lógica das partidas.

    O filme aborda algumas questões que parecem ser recorrentes no cinema japonês: a valorização do trabalho, a família e a devoção pelo cotidiano. Sua grande qualidade é fazer com que estes três eixos da existência conversem e cheguem a uma conclusão, tendo a morte como cenário. Ao final, percebemos que a fatalidade da vida é trivial como qualquer outra coisa dentro desta.

    E isto acontece quando acompanhamos a trajetória do nosso herói: Daigo Kobayashi. Um rapaz que trocou a cidade pequena pelas grandes possibilidades de Tóquio para realizar o sonho de seus pais: ser um músico notável. Um destino traçado quando, ao três anos, ele ganha do pai um violoncelo.

    Quando, finalmente, se torna violoncelista da orquestra de Tóquio, já em sua primeira apresentação, recebe a infeliz notícia de que, sem patrocínio, a orquestra estava desfeita. Vendo o sonho de uma vida desmanchar diante dos seus olhos, ele percebe, com certo alívio, que talvez ser músico não fosse uma escolha sua.

    Decide recomeçar e propõe a sua esposa Mika (Ryoko Hirosue), uma jovem web designer esfuziante o tempo inteiro, que tentem a vida em sua cidade de origem, onde poderiam morar na casa que sua mãe havia lhes deixado como herança. Com espírito otimista e assumindo a postura cuidadora que a cabe às mulheres nos momentos de adversidade, a moça consente, e segue os rumos do marido.

    E é lá onde ele se depara com a inusual e constrangedora oferta de trabalhar como assistente numa empresa funerária. Emprego que aceita cabisbaixo, também para cumprir sua tarefa de prover o sustento de sua pequena família (sim, estamos falando do Japão, onde a honra do homem é estreitamente associada ao seu papel como provedor e ao desempenho no mundo do trabalho).

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    E o filme nos faz refletir sobre esse “valor” ao nos mostrar uma tarefa depreciada por quase todas as pessoas da trama ser executada com tanta beleza e reverência. A preparação dos cadáveres, com a leveza e o detalhe próprios da cultura japonesa, é uma arte zen, similar aos arranjos florais ou à pintura em aquarela, o que torna mais digno o ato da despedida.

    Daigo faz de seu novo emprego e dessa nova relação com a morte um reencontro com sua própria história. Para isto, no entanto, precisa revirar as caixas tormentosas do passado e realizar as suas próprias despedidas. Junto com ele, aprendemos sobre a importância das coisas simples dessas nossas vidas breves.

    Okuribito é filme para enternecer. Conta com bela fotografia, cenografia bem cuidada e excelentes atores – inclusive os coadjuvantes. E tudo isso ao som de violoncelo.

    Drops:

    :: A idéia original do filme partiu do ator Masahito Motoki, após ler um livro sobre a cerimônia do Noukan (acondicionamento dos mortos).
    :: O título original “Okuribito” significa “enviar pessoas” (no site do imdb:”the sending [away/off] people”) , mas essa palavra não é comumente usada no Japão.
    :: Motoki fez laboratório, atendendo a cerimônias funerárias e também estudou violoncelo.
    :: O filme foi rodado em dez anos.
    :: O diretor estava muito receoso quanto à recepção do filme, já que a morte é um grande tabu no Japão.
    (Esse post foi escrito e publicado originalmente em nosso extinto blog “Quarto 2046” em Maio de 2009.)

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    Arroz Doce Com Cerejas

    Tempo Prep: 60 min
    Tempo Coz: 30 min
    Serve : 4

    Ingredients

    • 1 xíc. de arroz
    • 2 xíc. de água
    • 2 xíc. de leite
    • 6 colheres de sopa de açúcar
    • Raspas de 1 fava de baunilha (depois que tirei as raspas também coloquei a fava para ferver junto – dá um gostinho a mais delicioso!)
    • 1 canela em pau
    • 300 g de cereja fresca
    • 2 colheres de sopa de açúcar
    • 1 colher de sopa de vinagre balsâmico
    • 1 colher de sobremesa de conhaque

    Modo de Preparo

    1. Comece com a calda levando as cerejas em uma panela com o açúcar ao fogo médio. Vá mexendo de vez em quando, até que elas fiquem macias e forme uma calda escura. Isso leva cerca de 5 a 8 minutos. Em seguida coloque o vinagre balsâmico e o conhaque. Deixe por mais um minuto no fogo e desligue. Depois que esfriar, leve a geladeira.
    2. Para fazer o arroz, você deve lavá-lo apenas uma vez. Em seguida coloque para cozinhar em duas xícaras de água. Deixe que cozinhe completamente, em fogo médio, dando uma mexida de vez em quando. Assim que a água secar, adicione o leite, o açúcar, a baunilha, a canela e a fava. Mexa de vez em quando até que tenhas o arroz bem cremoso. É hora de desligar. Deixe esfriar.
    3. Coloque em taças e adicione a calda de cerejas por cima.

    Dica

    Pode ser servido frio ou morninho, com a calda gelada por cima fica uma delícia!