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    Hanami – Cerejeiras em flor & Rolinhos de repolho

    Depois de um longo tempo apreciando filmes japoneses concluí que eles tem um grande respeito e, melhor ainda, compreensão perante a morte. Muito diferente dos ocidentais eles vêem a morte como uma coisa natural. Dói? Dói, mas é o ciclo da vida. As cerejeiras são como uma metáfora para tudo isso. Elas florescem apenas por alguns dias, colorindo toda a cidade de rosa e depois morrem. E são celebradas da mesma forma. O ciclo não pode parar.

    Hanami (花見 lit. olhar as flores) é um costume tradicional japonês de apreciar a beleza das flores.
    Nesse festival, as pessoas costumam se reunir embaixo das árvores para apreciar o evento enquanto fazem piquenique.

    Pensando em outros diretores japoneses sentimos a mesma impressão, dentre eles cito Yasujiro Ozu e Kore-eda. Os filmes que mostram o cotidiano sem grandes marcas e surpresas, o dia-a-dia, os momentos de convivência familiar (nem sempre tão intensos) porque assim é a vida. Porém, nesse filme da alemã Doris Dörrie temos aquela impressão que de repente a gente não está fazendo tudo pelas nossas relações. Será que estamos mesmo prestando atenção naqueles que estão a nossa volta e fazendo com que se sintam bem durante essa jornada?

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    O filme fala de um casal de idade já avançada que moram no interior, filhos que moram na capital e um deles em Tókio. Trudi (que é belamente interpretada por Hannelore Elsner) é uma senhora pacata, preocupada com a união da família, que todos os dias prepara o lanche pro marido levar ao trabalho. Rudi, o marido é aquele homem que leva a vida na rotina normal, sem grandes desejos ou sonhos.
    É quando menos se espera que o destino se manifesta, os médicos contam a Trudi que o seu marido está doente e aconselham que os dois vivam o que tem que ser vivido, façam uma viagem, ou seja, aproveitem que não vai durar muito. Por incrível que pareça ela consegue convencer o marido a irem a Berlin visitar os filhos, mas ele se nega a ir ao Japão, como ela sempre quis.

    Sempre quis ir ao Japão com ele.
    Ver o Monte Fuji, ao menos uma vez.
    As cerejeiras em flor. Com ele.
    Mesmo porque, não consigo me imaginar vendo qualquer coisa sem o meu marido.
    Seria como se realmente não estivesse vendo.
    Como eu posso continuar a viver sem ele?”
    (Trudi)

    É nessa viagem que Trudi vem a falecer e Rudi começa a repensar em tudo o que já viveu. Voltar pra casa sem ela, o enterro sem grandes manifestações de amor dos familiares. E ele se pergunta por que não foi com ela sequer uma vez ver o Monte Fuji que ela tanto queria?

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    A partir daí começa um grande resgate de Rudi pelo tempo perdido, ele embarca para o Japão levando consigo algumas coisas de Trudi, para mostrar a ela o Monte Fuji e tudo mais que não pode fazer quando ela ainda estava viva.

    “Talvez, apesar de tudo, ele estivesse feliz.”

    É muito complicado se chegar à conclusão que a maioria das pessoas só dá valor MESMO quando perde a outra.
    Esse é um filme incrível, emocionante e com certeza você vai querer comer rolinhos de repolho com purê de batatas depois dele, nem que seja apenas para sentir a nostalgia e o amor que é transmitido por um almoço entre pai e filho que é mostrado no filme. Os rolinhos são um prato típico da cozinha alemã conhecido como “Kohlroulade”

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    Rolinhos de Repolho

    Tempo de Preparo: 60 min
    Tempo de Cozimento: 30 mins
    Serve: 2

    O que você vai precisar?

    • 8 folhas de repolho
    • 300 gr. de carne moída (usei patinho)
    • 1 cebola média picada bem miudinha
    • 1 tomate picado
    • 2 dentes de alho amassados
    • 1/4 xíc. de arroz lavado e escorrido (cru)
    • Salsinha
    • Sal a gosto
    • Pimenta do reino a gosto
    • Suco de 1 limão
    • Azeite de Oliva – para a parte do cozimento
    • Tomates pelados ou seu molho de tomate pronto preferido

    Como fazer?

    1. Misture a cebola, tomate, salsinha, alho com a carne moída. Em seguida tempere com o sal, pimenta, misture o arroz e regue tudo com o suco de metade do limão – reserve a outra metade.
    2. Retire a parte ‘dura’ do talo das folhas de repolho. Coloque em agua fervente, uma a uma, as folhas de repolho para que elas amoleçam um pouco e possam ser dobradas sem quebrá-las. Reserve.
    3. Pegue a mistura da carne moida e molde como pequenos quibes. Sempre tendo em mente o tamanho das folhas de repolho que você tem. No meu caso o repolho era orgânico e pequeno, sendo assim, fiz pequenos mini-quibes.
    4. Assim que terminar de enrolar totalmente prenda com um barbante ou palito. Acomode todos os rolinhos em uma panela com azeite de oliva no fundo. (Em algumas receitas que vi por aí dizia para simplesmente jogar uma lata de molho pronto por cima, noutras para acomodar fatias de cebola e tomate e depois jogar um pouco da água do cozimento do repolho. Eu escolhi fazer um molho básico fritando meia cebola, 1 dente de alho, 1 lata de tomates pelados, um pouco de orégano e sal.)

    Observação:

    Esse prato é normalmente servido acompanhado de batatas cozidas ou purê de batatas. Eu optei pelo purê, pois é uma coisa que eu gosto muito. Faça ele do seu jeito habitual ou se você não sabe fazer purê lá no Panelaterapia tem uma receita muito boa e prática.
  • Doces,  Drama,  Sem categoria

    Issiz Adam & Bolo de Cenoura e Canela

    É bem difícil falar de Issiz Adam sem contar o filme todo. Mesmo se fizesse isso você teria vontade de assistir. Iria correr à Locadora ou ao torrent mais próximo e pedir pelo amor de deus preciso.
    Uma amiga minha disse que “Issiz Adam é daqueles filmes que a gente tinha só no pensamento e de repente alguém foi lá e fez.” (Morganna querida você disse o que eu sempre pensei e nunca consegui dizer). E é bem assim. 99,9% das pessoas já passaram por isso, seja como Alper ou como Ada.
    Pesquisando sobre a língua Turca fui atrás do verdadeiro significado do título do filme. Intrigava-me a tradução para o inglês como ‘’Alone’’ (“Sozinho” em português). Foi então que descobri que “Issiz Adam” quer dizer “Homem Abandonado” e, ainda, “Adam” significa “Minha ilha” – enquanto “Ada”- que é o nome da personagem da moça no filme – significa apenas “Ilha”. Tire suas próprias conclusões. Depois de assistir ao filme você vai sentir o porque disso tudo.

    Mas por quê as pessoas choram tanto sobre coisas que já sabem?

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    O filme se passa em Istambul. Alper é um Chef e tem seu próprio restaurante que, curiosamente, se chama “Leblon” – que é um local que realmente existe em Istambul. É o típico homem sozinho e solteiro, bem sucedido em sua carreira, que sai com prostitutas e tem uma vida , digamos, intensa e sem intimidade com ninguém, além da que se pode ter vivendo assim.

    Ele coleciona discos de vinil. Antigos e raros e foi numa dessas idas dele aos Sebos de discos e livros que ele se depara com a Ada. Bem aquela coisa de quando se conhece alguém e bate aquele interesse incrível. Mais conhecido como ‘’amor a primeira vista’. Ada banca a durona com ele, foge de tudo que é jeito, mas ele mesmo assim vai atrás dela. Talvez ele visse ali algo que nunca viu antes. Amor. Ada é uma moça bacana, livre, que tem uma loja de fantasias para crianças chamada “Pequenos heróis”.

    Então começa um namoro bem legal, daqueles que você se pega rindo sozinho para a TV, ouvindo uma música ou olhando o mar. Ada ensina a ele o que é amar de verdade e principalmente, se deixar amar por alguém. Ao mesmo tempo é possível se notar que ele é um cara sensível. Ele tem um amor pelo que faz, a escolha dos ingredientes, a sensibilidade pelas músicas que ouve, o modo como observa as pessoas que comem a comida que ele faz…

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    Segure um vegetal em sua mão e ele lhe diz quanto tempo precisa cozinhar.
    Você só tem que aprender a olhar, ver e ouvir.
    Você não pode colocar tudo em um prato.
    Uma pouco disso, um pouco daquilo. De jeito nenhum.
    Isso seria vulgar e ignorante.
    Não acredite quando dizem coisas como jogue tudo junto e mexa.

    Nesse meio tempo a mãe dele vem visitá-lo e as duas acabam por sair juntas e se dão muito bem. Tudo corre perfeito.
    Talvez seja toda essa ‘coisa boa’ que faz com que ele comece a sentir tamanha estranheza do tipo “eu não mereço isso”. Pois é aqui que começa o drama em si. Ele termina com Ada num momento em que estava tudo MUITO BEM. E a pessoa não entende, chora, se descabela, vai embora e segue a vida.
    E ele? Como ficou?
    Quatro anos depois, um grampo de cabelo, uma entrada de cinema. Café, verdades e mentiras sobrepostas. Olhares que abafam as palavras e dizem tudo o que realmente se passou e sentiu. Um dos abraços mais bonitos do cinema é o que temos aqui. Assista acompanhado de uma bela caixa de lenços de papel.
    Não achei nenhum trailer com legendas no Youtube, por isso deixo o link para ser assistido no IMDB. Com boa qualidade e legendas em inglês.

    A trilha sonora é inexplicável. Perfeitamente encaixada em cada cena que ela aparece.

    A receita de hoje é um bolo de “Cenoura e Canela”, que Alper faz e leva a Ada durante o período que está tentando conquistá-la. A receita não é contada no filme, pesquisei em alguns sites de comida turca (eu e o Google Translator) e fiz uma junção de algumas receitas que acabou nessa:

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    Bolo de Cenoura e Canela

    Tempo de Preparo: 120 min
    Tempo de Forno: 50 min
    Porções: 8

    O que você vai precisar?

    • 2 xícaras de farinha de trigo
    • 2 xícaras de açúcar mascavo
    • 4 ovos
    • 1 xícara de óleo (usei de Girassol)
    • 1 colher de chá de canela em pó
    • 1 colher de chá de fermento em pó
    • 3 xícaras de cenoura ralada – nesse caso eu usei 3 cenouras grandes e após raladas somaram 3 xícaras. Meu conselho é: vá ralando e medindo até atingir o que precisa.

    Como fazer?

    1. Rale as cenouras. Separe as gemas das claras e bata as claras em neve. Reserve. Num outro recipiente junte as gemas e o açúcar mascavo. Bata bem. Junte o óleo e deixe que misture completamente ao creme que se formou do açúcar e gemas. Vá juntando a farinha de trigo aos poucos. Nesse momento você acha que aquilo tudo é um cimento e que não vai dar certo. Prossiga com fé. Junte a canela e as cenouras raladas. Interessante que ao juntar as cenouras à massa começa a ficar mais maleável, então acrescente o fermento. Incorpore com cuidado as claras em neve. Unte uma forma com manteiga e farinha de trigo.Leve ao forno de 40 a 50 minutos. Tudo depende do forno. Faça o famoso teste do palito, se sair seco, está pronto. Muito importante: ligar seu forno logo que começa a fazer o bolo. Temperatura média. Sirva com uma bela xícara de café fresco. Obs: eu escolhi bater o bolo no processador, porque ele é BEM mais potente que a minha batedeira – que ainda não é uma Kitchen Aid – e fazia algum tempo que tinha curiosidade em usá-lo para fazer um bolo.
  • Doces,  Drama

    My Blueberry Nights & Blueberry Pie

    My Blueberry Nights abriu o festival de Cannes em 2007. Todos os fãs de Kar-wai esperavam aflitos seu novo filme. Ele tem uma característica de demorar alguns anos para concluir seus filmes. Em uma entrevista o vi comentar que, enquanto vai filmando, faz algumas mudanças que nem ele mesmo acharia que iriam acontecer. Sente o clima com os atores, eles opinam também e o filme muitas vezes se transforma.

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    Em anexo vai a lista que criei para você, a memória do que passamos juntos.
    Me pergunto de como se lembra de mim.
    Como a garota que gostava de tortas de blueberry ou a garota com o coração partido.
    (Elisabeth em My Blueberry Nights)

    O título no Brasil foi cruelmente ‘traduzido’ como “Um beijo roubado” – é assim que você vai achar se quiser procurá-lo em alguma locadora de DVDs. Acho que não há uma tradução cabível para o português que consiga dar a mesma sensação que o nome no original. Assistindo você vai saber o que eu estou te dizendo.

    Esse é um filme que trata de como remendar o coração depois de um término. As pessoas reagem de maneiras diferentes, umas vão embora, outras ficam paradas esperando que o tempo cure. Ou não. Elisabeth (a personagem de Norah Jones) inicia o filme claramente traída pelo namorado e acaba por deixar as chaves do ap que moravam juntos no Café Klyuch (que significa “chave” em Russo) de Jeremy (Jude Law).

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    Ela então parte em uma viagem pelos Estados Unidos, trabalhando como garçonete em bares e restaurantes. De cada lugar ela manda cartas a Jeremy, como se conversasse com ele, um desabafo, contando coisas que vê, pessoas que conhece e coisas que sente. O filme tem uma narrativa muito bonita e pessoal, às vezes a gente se pega dentro dele. Mesmo.

    Nessa segunda parte do filme surgem as personagens de Rachel Weisz (que em poucas cenas nos lembra a baita atriz que ela é). Ela participa de uma história de uma relação partida, um casamento acabado e a não aceitação do outro. Enquanto Elisabeth fecha o bar que ela e o ex-marido frequentam, faz observações sobre as relações e a própria vida.

    Uma das cenas mais legais, ao meu ver, é a conversa entre Jude Law e sua ex-namorada que tinha ido embora. Ela é interpretada pela belíssima Chan Marshall (Vocalista do Cat Power) onde eles mantêm um diálogo adulto, sincero, de pessoas que se amaram mas que não dá mais. Sabe aquela coisa bonita, mas doída, de saber que infelizmente não dá mais, mas encaramos isso com sobriedade?

    – Ainda tem as chaves?
    – Sim.
    – Sempre me lembro do que disse. Nunca devem ser jogadas fora, para nunca fechar as portas para sempre.
    – Eu lembro. Às vezes, mesmo que tenha as chaves, as portas continuam fechadas, não acha?

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    Ainda temos no filme Natalie Portman (carismática como sempre) que é uma viciada em jogo e conhece Elisabeth quando ela está trabalhando num Cassino. Uma amizade bonita que surge, provas de confiança e mais alguns aprendizados para a pequena Norah Jones.

    Levou quase um ano para eu chegar até aqui. E não foi tão difícil atravessar a rua depois de tudo, pois tudo depende de quem está te esperando do outro lado.
    (Elisabeth)

    Trailer:

    É um filme para ser degustado como a torta de Blueberry.

    Confesso que nunca tinha comido tal torta e achei realmente excelente e saborosa.

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    Blueberry Pie

    Tempo de Preparo: 90 min
    Tempo de Cozimento: 40 min
    Serve: 4 pessoas

    O que você vai precisar?

    • 400 g de farinha de trigo
    • 2 colheres (sopa) de açúcar
    • 1/2 colher (chá) de sal
    • 250 g de manteiga sem sal gelada em cubos (usei 200 g)
    • 6 colheres (sopa) água gelada
    • 6 colheres (sopa) água gelada
    • 500 g de blueberries (mirtilos)
    • 1 colher (sopa) de suco de limão siciliano
    • 185 g de açúcar (mais ou menos 12 colheres de sopa)
    • 3 colheres (sopa) de maizena
    • Raspas de limão siciliano
    • 1/4 colher (chá) de sal
    • 1/4 colher (chá) de canela em pó
    • 1 colher (sopa) de manteiga sem sal em cubos

    Como faze?

    1. Lave bem as Blueberrys e seque em um pano de prato limpo ou com papel toalha, regue com o suco de limão e misture. Reserve.
    2. Em outro recipiente coloque o açucar, a maizena, as raspas de limão, canela e o sal. Agora junte a essa mistura de secos as Blueberrys. Misture bem para que todas as bolinhas fiquem cobertas. A manteiga não é agregada aqui e sim quando for rechear a torta.
    3. Estique a massa numa superficie um pouco enfarinhada para não grudar. Forre toda a assadeira com metade da massa. Coloque o recheio.
    4. Adicione a manteiga em pequenos pedacinhos sobre o recheio. Abra o outro pedaço da massa e feche a torta. Faça um corte para que o vapor possa sair.
    5. Coloque no forno (180º) por 30 a 40 minutos. Você vai notar que começa a borbulhar e corar. O cheiro é simplesmente encantador.
    6. Sirva com sorvete de creme ou baunilha.
  • Drama,  Salgados

    In the mood for love & Wonton

    Ele se lembra dos anos passados como se olhasse uma janela embaçada.
    O passado é uma coisa que ele vê, mas não toca.
    E tudo que ele vê é borrado e indistinto.”

    Falar de Wong Kar-wai no post inicial do blog foi um desejo meu desde que surgiu a ideia de fazer esse espaço há alguns meses. Por ser uma admiradora do trabalho do diretor (leia-se: FANÁTICA), me encanta poder discursar sobre o filme que mais me toca em todos os sentidos, assim como, reproduzir uma receita tipicamente oriental. O filme é ambientado em meados dos anos 60 na China. Onde já se pode observar uma superpopulação surgindo, era um costume da época morar em pequenas ‘pensões’, onde a cozinha era um ambiente de encontros e conversas do cotidiano, assim como, as intermináveis partidas de Mahjong. Afinidades e descobertas. É assim que vejo o que se passa no filme. Um jornalista (o magnífico Tony Leung) e uma secretária (minha eterna diva Maggie Cheung) acabam sendo vizinhos de porta e descobrem com o passar do tempo muitas coisas em comum. Tanto o gosto pelas histórias, quanto por estarem sempre sozinhos mesmo ambos sendo casados. O filme é um desfilar de belas imagens, cores incríveis (a direção de fotografia é de Cris Doyle), silêncios que dizem muito e uma trilha sonora impagável.

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    O que fazer quando se descobre que se está sendo traído, mas mesmo assim, apesar de todo desgosto (e vontade) não se sabe fazer o mesmo? Não há nesses dois uma sede de vingança, nem de acabar com tudo. Eles simplesmente vivem…e cada vez mais unidos em uma dor que só eles mesmos podem compreender.
    Temos muitas cenas que envolvem ‘comida’ em todo o filme, como o ritual de ir comprar macarrão ou sopa de wontons no restaurante que fica no final de uma escadaria intrigante. Eles ali se cruzam inúmeras vezes, cada um com sua solidão. Nesses momentos que a incrível direção de Kar-wai se revela, onde não é preciso diálogo. Não é preciso falar nada. Um olhar, um silêncio, uma chuva que cai.
    Em mais uma das incríveis cenas eles saem para jantar juntos em um restaurante. Inclusive, esse restaurante em Hong Kong tem até hoje um painel acima da mesa que foi cenário no filme. Vejam:
    Nesse jantar um escolhe o prato do outro, com base em o que o cônjuge escolheria. Engraçado como as pessoas tem uma curiosidade em saber como é ”a outra” que atraiu o seu companheiro e que causou a traição.
    In The Mood for Love é mais que um drama comum. Ele é um filme para ser assistido, apreciado aos poucos e visto mais outras milhares de vezes.
    E o que fazer quando se passa a sentir um amor incomum ?

    Antigamente, se alguém tinha um segredo que não queria contar a ninguém
    ia a uma montanha, achava uma árvore, fazia um buraco nela
    e sussurrava o segredo no buraco.
    Depois cobria o buraco com barro e o segredo ficava lá para sempre.”

    Depois tudo continua em ”2046”…
    Wontons são conhecidos também pelo mundo como “Dumplings” ou ainda “Gyoza”. A massa é praticamente a mesma em todas as modalidades, o que muda, pela minha análise, são as modelagens dadas e os recheios utilizados. Fui em busca da receita original dos ‘wontons’ que costumam ser tomados com sopa ou ainda servidos como entrada.
    Foi difícil encontrar ”a receita” da massa, já que, costuma-se utilizar massa industrializada, como a nossa de pastel, que são geralmente vendidas em lojas de artigos orientais. Depois de muita pesquisa acabei caindo em um blog chamado The cooking of joy, escrito por uma garota de origens orientais que mora nos Estados Unidos. Foi lá que encontrei como fazer a massa. Vamos a ela então?

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    Wontons

    Tempo de Preparo: 60 min
    Tempo de cozimento: 30 min
    Serve: 2 pessoas

    O que você vai precisar?

    • Para massa:
    • 03 xícaras de farinha de trigo
    • 01 xícara de água fervente (muito importante ela estar nessa temperatura para que possa ao mesmo tempo cozer um pouco da massa e também desenvolver o glúten)
    • 04 colheres de sopa de água fria
    • Sal a gosto (eu coloquei uma colher rasa de café)
    • Para o recheio:
    • 250 gr. de lombo de porco moído
    • 4 a 5 cebolinhas japonesas cortadas finamente (eu não encontrei as japonesas, acabei por colocar cebolinhas normais, mas as mais finas que achei nos molhos disponíveis na feira)
    • 1 colher de sopa de Óleo de Gergelim
    • 4 folhas de repolho (ou acelga)
    • 1 colher de sopa de gengibre fresco ralado
    • 3 dentes de alho picados bem miudinhos ou esmagados

    Como Fazer?

    1. Coloque a farinha peneirada e o sal numa tigela. Em seguida despeje a água fervendo, muito cuidado nessa hora para não se queimar. Vá mexendo com um garfo (ou hashis) e adicione a água fria. Nesse momento vá misturando com as pontas dos dedos a massa que já estará esfriando, amasse até obter uma consistência homogênea e sove a massa por 5 minutos. É muito importante esse passo, pois é o que vai incentivar ela a ficar bem elástica e resistente para que possamos moldar os bolinhos sem que eles rasguem e consigamos fazer as dobras sem grandes problemas. Deixe a massa descansar com um pano de prato em cima por uns 20 minutos. Você vai saber se está bom quando apertar o dedo nela e a massa voltar.
    2. Enquanto espera o descanso da massa, vamos ao recheio… Coloque as folhas de repolho para dar um ‘susto’ num recipiente com água quente. Em seguida passe no processador para ficar bem miudinho. Processe também a carne de porco. Caso você não tenha um processador, pique com a faca até obter pedaços bem pequenos de carne. Corte as cebolinhas (eu prefiro usar a tesoura para que elas não fiquem ‘esmagadas) Amasse o alho. Rale o gengibre Coloque a carne, o repolho, a cebolinha, o alho, o sal, o gengibre ralado e o óleo de gergelim numa travessa e misture tudo até ficar uniforme. Reserve na geladeira até a hora de usar.
    3. Montando: Pegue a massa que está lá descansando alegremente e corte em pedaços de mais ou menos 4 cm. Faça bolinhas desses pedaços. Com o rolo de esticar massa, vá abrindo os círculos e atente para que as bordas fiquem mais finas que o centro, isso vai te ajudar na hora de fechá-los. Coloque uma colher de recheio no meio de cada círculo aberto e feche. (veja no vídeo abaixo como fazer essa parte). Confesso que os primeiros não ficaram tão ”lindos” mas a coisa toda vai se aperfeiçoando no andamento do processo. Lá pelo 6º bolinho você vê que está pegando o jeito.
    4. Por fim, acomode algumas folhas de repolho na panela de vapor (no meu caso usei uma que veio no conjunto das minhas panelas, mas o ideal seria numa panela de bambu), coloque os wontons em cima das folhas e deixe cozinhar no vapor por uns 15 minutos.
    5. Sirva com um molho feito com shoyu, suco de limão, gotas de óleo de gergelim e gengibre ralado. Bom apetite!